Amonitas, os imortais vencidos

Muito provavelmente, você nunca ouviu falar de amonitas. No máximo, vai fazer alguma referência obscura com os "filhos de Amom", uma tribo semítica que teria, segundo o relato bíblico, descendido de Amom (óbvio), filho da relação incestuosa de Ló e uma de suas filhas travessas (a outra gerou Moab). Só que o presente artigo não tem nada a ver com um povo incerto rolando que nem folhas ao sabor do deserto palestino. Os amonitas que estou falando aqui são o grupo de animais marinhos invertebrados, que pululava os mares há cerca de 300 milhões de anos e podem ser os ancestrais de invertebrados como o nautilus, animais da família Nautilidae, conhecido pelas espirais de sua concha (e que não tem nada a ver com números mágicos, como fi, mas isso fica pra outro dia).

Cientistas, a cada dia, desvendam mais segredos no nosso amiguinho conchudo, pois ele é o que pode ser chamado de vencedor, já que conseguiu sobreviver a 3 extinções em massa, coisa que não teremos problemas também, pois estamos em vias de nos matar primeiro. Afinal, o que sabemos sobre os amonitas?

O período devoniano não era algo tranquilinho, como podemos pensar. Se bem que eu nunca conheci período tranquilinho. Mas ao que parece, os amonitas não tiveram grandes problemas em seu habitat. (leia mais sobre o que rolou no Devoniano AQUI)

Durante o Devoniano, as placas da Euroamérica e da Gondwana estavam prestes a se colidir (esse "prestes" é em termos de tempo geológico, mero mortal). A própria Euroamérica fora criada no Devoniano antigo, quando as placas Laurentia e Báltica se chocaram. E enquanto o mundo mudava e as condições mudavam, mais um assassino começava a surgir silenciosamente: uma das maiores cinco extinções em massa, a Extinção do Devoniano Tardio, onde muitos animais e plantas morreram durante a passagem do período fasniano para o fameniano, indo parar no que seria o reino das plantas e uma brutal mudança climática do globo: o período carbonífero.

Mas os amonitas parecem que não deram bola para isso. Eles simplesmente sofreram uma mudança que se tornou muito benéfica, e que garantiu sua sobrevivência por mais alguns anos. Mas a mão invisível da Seleção Natural dá a última cartada e as mudanças dos amonitas seriam fatais ao final do Cretáceo. A mesma Seleção Natural que afagaé a Seleção Natural que apedreja.

O dr. Kenneth De Baets, um paleontólogo belga da Universidade de Zurique. Ele não parece usar luvas, polainas nem cultivar milimetricamente um bigode. Se está próximo a algo como um detetive, seu ramo trata de vitimas antigas, que morreram há muitos e muitos anos. É ele que pode ser visto aqui do lado, segurando um fóssil de um manticoceras bem crescidinho, datado do período Devoniano tardio e encontrado no atual Marrocos. É um dos maiores exemplares de amonitas já encontrados.

Logo quando apareceram, os amonitas tinham conchas mais retas, mas com o passar do tempo, eles e outros moluscos acabaram desenvolvendo conchas circulares. Ainda não se sabe ao certo como onde e por que isso aconteceu. A ideia mais aceita é que a pressão seletiva favoreceu esta configuração, a fim de se manterem mais seguro de predadores. entretanto, isso afetou os amonitas de outra forma: seus embriões também mudaram.

Conforme o tamanho das conchas sugira um tamanho maior, já que o comprimento que antes era reto agora estava enrolado que nem concha (ops)., os embriões de amonitas acabaram tendo que se desenvolver sem crescer muito, ou não caberiam nas conchas. Em contrapartida, as conchas começaram a crescer muito, como visto no exemplar carregado pelo dr. Baets.

De acordo com a pesquisa de Baets, publicada no periódico Evolution, o número de filhotes dos amonitas disparou durante o período Devoniano, conforme é apontado pelo registro fóssil, e essa grande quantidade de descendentes poderia ter sido a chave para a rápida proliferação dos moluscos em questão, o que deu a eles condições de sobreviverem em umas 3  extinções, já que por mais que vários morressem, a imensa prole garantiria um número de sobreviventes que seriam capazes de gerar mais descendentes.

Mas a Seleção Natural dá, a Seleção Natural tira. Esse grande número populacional acarretou um problema aos amonitas: recursos. Simplesmente, não havia comida para todos eles, e a competição entre eles ficou acirrada, mas não fazia diferença, pois era espécie lutando entre si, onde uma não tinha vantagem sobre a outra e todos acabaram  sumindo lentamente ao sabor das Eras.

O Devoniano foi mais uma das grandes épocas conturbadas para a vida na Terra. a grande competição entre os néctons (seres vivos capazes de auto-locomoção) gerou uma verdadeira revolução, como é dito no artigo do dr.Christian Klug, também da Universidade de Zurique, cujo trabalho você pode ler ao baixar o PDF.

E enquanto estiver lendo os artigos, pense como o mundo é calmo, justo e belo, totalmente gentil e ordeiro.

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.