Cientistas ateus com crianças abraçam tradições religiosas… Ou não

Ao ler o início dessa notícia até fiz um menear de cabeça em aprovação, até ler a publicação inteiramente, e vocês entenderão o porque. Antes, vamos examinar o que a notícia diz: De acordo com uma pesquisa, pais ateus tendem a adquirir o hábito de festejos religiosos se tiverem crianças em casa. Isso até faz um certo sentido, se aprendermos as diferenças entre uma tradição, um rito, uma religião e um evento social. Der Teufel steckt im Detail.

A drª Elaine Howard Ecklund não teve condições de estudar algo decente e acabou se formando em Sociologia (desculpem a má palavra) e é professora na Universidade Rice, no Texas; a mesma universidade onde Robert Woodrow Wilson — Nobel de Física em 1978, pela descoberta da radiação cósmica de fundo em microondas, juntamente com Arno Allan Penzias (roubando descaradamente o trabalho de Ralph Alpher e George Gamov). Já a drª Kristen Schultz Lee (cujo nome mais parece de cantora de música Country, o que não está muito longe da verdade) esteve pertinho de cientistas de verdade, já que ela estuou na Universidade de Cornell e, ao que parece, nunca topou com Carl Sagan. Atualmente, ela leciona… Sociologia na Universidade de Búfalo (sem piadas. Elas estão todas prontas).

As duas santas senhoras resolveram pesquisar sobre o fenômeno religioso e chegaram a uma conclusão incrível: Que o meio social influi na decisão religiosa de uma pessoa. Olhei pro lado e indaguei ao meu oficial de Ciências a respeito:

A diferença entre um cientista e… bem, e um sociólogo é que temos a tendência de descartar logo de saída coisas óbvias, de modo a entrar no que realmente interessa. O que interessa às irmãs Galvão, digo, às duas cientist… digo, às duas sociólogas é a religião. Ok, nada de mais nisso. Eu também gosto de estudar religião. Se não gostasse, o Cet.net não existiria e as companhias farmacêuticas não teriam lucros exorbitantes com a distribuição de anti-ácidos em igrejas. O estudo do comportamento religioso é bem interessante, mas dissertar sobre uma coisa mais do que óbvia é sinal que tem algo de errado. Ainda assim, continuemos no assunto.

Para as duas pesq… para as duas senhoras, a pesquisa mostra o quão fortemente a religião está ligada a laços familiares entre os habitantes dos EUA (Spock olha pra cima e não acha nada de fascinante). Para as Ecklund e Lee até mesmo algumas pessoas menos religiosas – ou até mesmo ateus e agnósticos – acabam achando que a religião é importante em suas vidas privadas. Também não farei piadinha, pois é mais que óbvia.

Eu, de minha parte, também acabo encontrando a religião sempre que os ditames do acaso permitem. Principalmente quando algum bando de desclassificados estaciona seu fusquinha 68, tira um monte de instrumentos desafinados e ficam cantando na esquina tão bem, que o Regis Danese poderia ser comparado ao Pavaroti

Os dados da pesquisa mostram que alguns cientistas ateus que possuem filhos acabam abraçam tradições religiosas, por razões sociais e pessoais. Muitos deles procuram instruir seus filhos de forma que fique a cargo destes a decisão se vão seguir alguma vertente religiosa ou não e que 17% dos pais ateus participaram de um serviço religioso mais de uma vez no ano passado. A pesquisa foi publicada no Journal for the Scientific Study of Religion, mas o que isso significa?

NADA!

Primeiro: Vamos levar em conta que pais e filhos foram a algum serviço religioso. De qual espécie? Procissão? Missa? Mesa Branca? Arriando um franguinho na encruzilhada? Muitas escolas têm ensino religioso lá, ainda mais se for no Texas, um lugar lindo e maravilhoso, principalmente se você for professor de Biologia e quiser ensinar Evolução. Aliás, sempre que eu ouço falar em Texas, eu me lembro da mãe do Sheldon do Big Bang Theory. Assim, um evento num colégio é considerado serviço religioso? Começar com uma prece ou algo nesse sentido?

Segundo: Cientistas ateus abraçando a religião por causa dos filhos. Olha, eu não consigo imaginar Richard Dawkins fazendo isso, mas aí é um caso extremo. Seria o mesmo que eu esperar o Papa aparecer vestido de hippie, com um baseado na mão e pregar a Teologia da Libertação rastafariana. Entretanto, apesar de aceitar que as pessoas têm o direito de ter sua cosmovisão mudada por algum tipo de influência (como para chegar perto da vizinha do 302), é muito difícil um ateu/agnóstico renunciar sua sanidade e passe a acreditar em cobras falantes; se bem que há milhares de religiões, e não só a loucura cristã fundamentalista daquelas bandas. Mesmo assim, não basta citar Anthony Flew como prova de um cientista ateu que sentou no colo de Jesus e sentiu o poder do Espírito Santo entrar nele. Há algo muito errado com esta pesquisa.

Terceiro: Temos o fator que pais responsáveis explicam aos filhos os detalhes das religiões. Mostram, aconselham, deslindam e esmiúçam os detalhes. Deixam ao critério da criança, durante seu crescimento, qual o caminho ela queira seguir: se ateu ou se vai adorar Buda, acender incenso para Shiva ou apenas vai numa roda de pomba-gira. Não significa, contudo, que os pais estejam tendo um comportamento religioso.

Por fim, temos o conceito de tradições, hábitos etc. Vejamos o meu caso. Eu gosto de Natal (a festa, já que nunca fui no Rio Grande do Norte). Gosto de estar com meus amigos, família etc. Ok, que isso devia ocorrer o ano todo, todo ano; mas nossa vida agitada nem sempre permite juntar o pessoal num churrasco aos domingos. Comemorar o Natal significa que estou aceitando aquela história tola de Jesus, manjedoura, burro, cachorro etc, com a Virgem Maria passando uma conversa em José e o coroa acreditar nela? Se é assim, então todo cristão que folga aos domingos está em um ritual em homenagem ao Deus-Sol, e às quartas-feira veneram Odin (Quarta-feira –> Wednesday –> Woden –> Odin). Gostam de festa junina? Ótimo! Pois junho (com inicial minúscula. Meses são substantivos simples. Ignore o Word) é o mês em que se venera a deusa Juno, esposa de Júpiter, enquanto o mês de março é uma homenagem ao deus Marte :mrgreen:

A conclusão é que este estudo é estúpido, ridículo e… Ah, eu ainda não disse a cereja do bolo. Sabem quem financiou este estudo? A Fundação Templeton, aquela que deu o prêmio de um milhão de dólares a um "cientista" que provou que Deus existe, pois o universo é lindinho. Fofo, não?

O máximo que eu posso intuir é que o que faz "cientistas ateus" (eu juro que não entendi o que elas quiseram dizer com isso) tragam a religião para casa é o mesmo motivo que eu discuto temáticas religiosas aqui no Cet.net: mostrar o que é a religião, como ela acontece. Discutir o que é o fenômeno religioso e comparar religião com religiosidade (não, não são a mesma coisa). Vemos o que faz o sentimento de religiosidade de uma pessoa acabar se transformando no câncer chamado "fanatismo". Não que a religiosidade apenas seja ruim. Muitas vezes eu a defendi aqui contra a intransigência do que eu chamo de "ateus de fim-de-semana", da mesma forma como eu condeno veementemente a postura insana que muitos grupos possuem.

Não, senhoras, os ateus entrevistados não buscam um alicerce moral para a sua família na religião, muito pelo contrário. Se examinarmos aquelas passagens comprometedoras que pastores fingem não existir, veremos que não há nada mais violento, racista, sexista, xenófobo, assassino, criminoso e absurdamente insano que as passagens bíblicas, onde uma hora o deus querido e bonzinho diz pra amar uns aos outros, mas depois manda odiar os pais e executar quem não o seguisse. Não vejo na Fundação Templeton nada que possa servir de retidão, pois nem os esquadros lá ajudam a escrever em linha reta.

Pais devem mostrar para os filhos o que é o mundo. Duvido que algum pai religioso (daqueles do Texas) apresentem outras religiões, como o Budismo e o Islamismo. Não falo nem de ateísmo (estes vão pro inferno, pois vivem numa nação de Deus. — Bush, G.W.).

Honestidade é algo que vai bem de vez em quando, doutoras. Tomem um comprimido ao acordar, na hora do almoço e antes do jantar.

27 comentários em “Cientistas ateus com crianças abraçam tradições religiosas… Ou não

  1. Poxa, me emocionei com o texto. Sinceramente.

    Acho até que vc deveria ser canonizado na nossa Igreja Ateísta Dominical dos Céticos da Última Semana. É só mandar uma foto e fazer um pequeno depósito de 10 mil reais.

    Também só lembro da mãe do Sheldon quando penso no Texas :-)

    ps: imagino que vc, como professor, esteja extremamente atarefado neste final de ano (ao menos se lecionar em universidades). Como consegue tempo para se informar tanto com estas pesquisas?

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    1. Se vc visse a pilha de links que estão para ser lidos no meu leitor de RSS, não falaria isso. Aliás, só o fato de eu estar acordado a essa hora já é bom indicativo de como anda a minha vida em fins de ano letivo. ;)

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  2. Sou ateu e minha esposa católica. Nosso filho ainda nem nasceu e já estamos discutindo sobre isso.aff A dona encrenca quer batizá-lo, mas não adianta, ele só vai ser batizado quando ele quiser, se quiser. Acho mais justo com ele. Se ele quiser ser umbandista ou budista ou evangélico? Quem manda aqui em casa sou eu oras. :roll:

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    1. @Breno Bernardes, Mas e se o pior acontecer e a criança vir a falecer antes do batismo? Você será o responsável por ela ficar perdida no limbo e a sua esposa ficará a eternidade toda te culpando pelo filho não-salvo.

      Pense nisso.

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        1. @André,

          Mas os Testemunhas de Jeová acreditam nessa porra ainda, não?

          Deu um maior rolo quando instalei o jogo LIMBO em um PC de um funcionário do escritório da minha mãe. Ele praticamente pulou da cadeira quando viu o ícone do jogo e disse que não colocaria a mão naquele PC. Tive que desinstalá-lo para que ele não pedisse demissão.

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          1. @João Batista, Esquimó: “Se eu não soubesse nada sobre Deus e pecado, eu iria para o inferno?”
            Padre: “Não, se você não soubesse, não.”
            Esquimó: “Então, porque você me contou?”

            Eles acreditam que as pessoas mortas antes de serem apresentadas à palavra inerrante de Deus são consideradas ‘injustas’ e terão oportunidade de testemunhar Jeová depois do apocalipse. Deus, burro pra cacete, escreve uma porra de um texto inchado, cheio de erros e ainda consegue fazer essa bagunça de ir deixando injustos pelo caminho!

            Então, não se preocupem senhores injustos. Seja você um esquimó, um ermitão, ou um dos ‘poucos’ viventes antes da idade do bronze, depois da revelação (apocalipse), quando todos os escolhidos e salvos estiverem gozando da benesse divina, você terá um ‘contrato de experiência’ pra ver se Javé vai com a sua cara! O salário inicial é o piso da categoria.

            Mas aí é muito facil né?? motherfucking omni-tudo Javé na sua frente fazendo 1001 coisas maravilhosas e impossíveis, criando um paraíso de respeito e união, com leões vegetarianos vivendo harmoniosamente ao lado de zebras e humanos, guerras e intrigas nunca mais! Adimirável mundo novo!!! Vendo tudo isso na sua frente, até Judas acreditaria! :cool:

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    2. Sei que não é o tema do artigo, mas…

      Breno, estou com uma filha de 10 meses, sou ateu e minha esposa católica (mas quase nada praticante). Ela quer batizar e eu já disse que não faço questão. Se ela quiser que batize, não acho certo, mas isso não vai ter influencia na minha filha. O que vai influenciar é o que ela vai aprender depois. E eu pretendo mostrar a ela as várias possibilidades que ela terá.

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      1. @batled, Bem, no fundo foi isso que eu quis dizer! Eu tambem fui batizado e isso não faz de mim mais ou menos católico hoje em dia. O que importa é o que se aprende depois do batismo.

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    3. @Breno Bernardes,

      Deixa batizar.

      Acredito que boa parte das pessoas que respondem aqui já o foram e, depois, usaram do “livre arbítrio*” para decidir o rumo de suas vidas.

      Piadinha que criei agora: Todo ateu ou agnóstico é que nem uísque de procedência duvidosa: Em algum momento, foi “batizado”.

      *Desculpe-me, André, mas não resistí :twisted:

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        1. @Breno Bernardes,

          Amigo,

          “Só pra satisfazer a minha esposa?”…

          Nesta frase você já resumiu tudo. Tornou-se um confronto.

          A vida se resume em escolhas.

          O que você vai ganhar ao confrontar tua esposa e não batizar teu filho?

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        2. @Breno Bernardes,

          Não vejo o porquê de optar pelo não, seu filho não será mais ou menos idiota por ser batizado, isso vai depender de como ele será criado quando mais consciente e da reação a determinado estilo de vida.
          E você diz em satisfação de sua esposa, mas ao confrontá-la seria muito mais por satisfação SUA do que a da criança, que como mesmo disse, não compreende nada relacionado a isso.

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      1. @SandroCeara,
        Além de batizado eu representei o menino Jesus no Natal. Não tive muito o que fazer… só tinha 1 mês de vida.

        Lá pelos 10 anos fui OBRIGADO a fazer 1ª comunhão e isso quando já achava rídicula aquelas histórias.

        Roubaram-me muitas horas de video-game nos finais de semana. Quero-as de volta!

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        1. @João Batista,

          :lol:

          Olha só como são as coisas: Agora você vai ter que aderir ao Kardecismo, pois só uma “nova vida renascida” poderá te trazer o teu “tempo perdido” de volta. :cool:

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  3. Hum… Então a pesqu…. Senhora em questão veio da cidade de Buffalo!! Essa maravilhosa cidade texana que possibilita o clássico exemplo de oito palavras homônimas e homófonas criando uma sentença gramatical válida em inglês!

    “Buffalo buffalo Buffalo buffalo buffalo buffalo Buffalo buffalo”

    Eu tbm lembro da mãe do Sheldon! Aquele episódio que ele quer desistir da carreira científica pra morar o resto da vida no Texas ensinando a evolução aos criacionistas:

    Mãe do Sheldon – Cuidado com a boca Sheldon! Isso é a sua opinião!
    Sheldon – Evolução não é opinião, é um fato!
    Mãe do Sheldon – E isso é a SUA opinião.

    E pra terminar, se você gosta do natal André, escute isso:

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  4. André, excelente texto. Também gosto do Natal pelos mesmos motivos que você. E fico em casa nos feriados religiosos, como o 12 de Outubro, mas isso não quer dizer que eu seja religioso. :grin:

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  5. Só um detalhe: “Assim, um evento num colégio ´pe considerado serviço religioso?”
    Acontece comigo direto… Malditos dedos, mal posso ver seus movimentos…

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  6. só os descendentes das antas fazem este tipo de pesquisa.
    sou ateu,adoro natal(reunião de grande parte da família) e páscoa(comer bacalhau um vez no ano)..fora os feriados de outras santas que me dão um dia de praia,sombra e água fresca enquanto outros sobem morros de joelho tentando cumprir ou fazer um “pacto” com o inexistente.temos tantos “feriados de santas”..e isso pq o país é laico..imaginem se não fosse!! :mrgreen:

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    1. Se evangélico comemora Dia de São Jorge, pq não? O lanxce do Brasil é aproveitar qq coisa para virar feriado. Enquanto isso, no mundo de Qward, um bispo da Universal disse que Natal é festa pagã e não deve ser comemorado pelos fiéis.

      Ele está só a um passo da verdade. :D

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