O vírus do pânico: como o medo influencia a saúde das pessoas

Infelizmente, ainda vivemos sob o espectro de desinformação no tocante a notícias científicas, além de boatos maldosos largados aos quatro ventos. Um desses boatos diz respeito a casos de autismo que apareceram em crianças vacinadas contra a poliomielite. Esta besteira ainda circula até hoje, a ponto do pseudomédico Andrew Wakefield perder sua licença de clinicar, além de praticamente ter sido chamado de criminoso pelo próprio Bill Gates.

Seth Mnookin é um jornalista e escritor americano. Diferente do lixo brasileiro que damos o nome de "jornalismo científico", Mnookin aborda de forma clara e precisa sobre a matéria que pretende escrever. Ele já escreveu para o Washington Post, Newsweek e Vanuity Fair. Em seu recente livro, de nome The Panic Virus: A True Story of Medicine, Science, and Fear (O Vírus do Pânico: A Verdadeira História da Medicina, Ciência e Medo, em tradução livre, que pode ser comprado na Amazon), aborda o tema do pânico causado pela fofocada de uma falsa relação entre vacinas e o autismo.

Em seu livro, Mnookin reforça que nunca houve nenhum estudo sério que tenha ligado vacinas — ou conservantes à base de mercúrio, como o timerosal — ao autismo em crianças. Muito pelo contrário, diversos pesquisadores que têm procurado essa ligação não conseguiram encontrar uma. Em seu site, podemos ver as várias resenhas que foram feitas sobre o livro, cujo autor já fora considerado Best Seller pelo The New York Times, e isso não é pra qualquer um.

Boatos e fofocas sempre fizeram parte de nossas idiossincrasias, mas quando isso sai do patamar "O Governo está escondendo informações sobre o ET Bilu-Bilu" e passa a afetar a saúde da população ao espalhar medo e desconfiança, fazendo com que mães se neguem a imunizar seus filhos, porque um outro filho resolver tirar onda de engraçadinho e aparecer nos holofotes ao espalhar suas besteiras sem comprovação, então temos um caso criminoso.

E é basicamente nisso que Mnookin solta seu arsenal, direcionando principalmente contra Wakefield, narrando o caso com minúcias de forma contundente. Em contraposição, o autor acha que não deve haver leis que obriguem a vacinação, o já que isso deveria ser uma obrigação dos pais. De minha parte, eu até concordo de alguma forma. As pessoas já não obedecem leis mais severas, como a proibição de usar celulares enquanto dirigem ou de encher a cara e sair com seu carrinho a mais de 100 km/h, avançando todos os sinais vermelhos.

Um dos principais responsáveis pelo alastramento dessas fofocadas descabidas é – como não poderia deixar de ser – culpa da imprensa (seja ela golpista ou não). Para Mnookin, em matéria do The Washington Post, grande parte da cobertura jornalística não conseguiu explicar adequadamente a diferença fundamental, mas essencial entre correlação e causalidade, isto é, que uma coisa acontece seguida de um fator por mero acaso e não porque haja realmente uma relação entre elas. Assim, uma criança que apresentou sintomas de autismo porque foi vacinada ao nascer não significa que a vacina tenha sido realmente a responsável por isso. Não há nenhuma pesquisa que afirme tal coisa, mas o pânico alastrou-se como uma infecção viral, daí o título do livro. Como a imprensa adora coisas suculentas, como "Cientistas Estão Destruindo o Mundo", começou-se a espalhar tais besteiras e o restante nós sabemos no que deu. Jornalista irresponsável não é coisa exclusiva do Brasil. Só estamos um pouquinho piores.

Desde programas do tipo talk-show, como os das Oprahs da vida até colunas de jornais, a mentira começou a crescer como bola de neve; e hoje, mesmo depois de Wakefield ter perdido a sua licença e ter sido exposto como a fraude que era e ainda é, várias pessoas ainda têm enraizado em seu subconsciente que vacinas causam autismo, pois o primo da vizinha que lava roupa do mecânico que consertou o carro de um enfermeiro desempregado ouviu falar de casos que sim, era verdade. Enquanto tivermos pessoas que fazem "consultas médicas" nos Yahoo! Respostas da vida [1] [2] [3] [4] [5], a tendência à desinformação só aumentará. E ainda há quem solte a frase "faço isso dessa forma,sim. Médico não sabe de nada!" (confesse, você já ouviu gente falar isso!)

Enquanto as pessoas pedirem conselhos a desconhecidos em sites de relacionamento, à tia mandingueira ou a curiosos metidos a especialistas médicos, não veremos uma diminuição de casos graves que poderiam ter sido evitados com uma simples visita a um médico. E mesmo médicos cometem erros, imaginem que se baseia em seções de medicina e ciência dos jornais de grande circulação.

12 comentários em “O vírus do pânico: como o medo influencia a saúde das pessoas

  1. meu comentário é para abordar 2 temas, o título e o conteudo…ou a forma e o conteudo…
    o título me faz lembrar que a psicologia e suas irmãs mais “velhas” (psiquiatria e psicanálise) não estão tão fora do contexto quanto possa se supor…é bem plausível que uma abordagem desse tipo esclareça ao paciente as suas neuroses urbanas.
    quanto à questão do autismo, e falo como leigo pleno, me parece enganchada com a herança genética, mas sinto uma curiosidade em saber se, e aí recorro aos mais capacitados, o autismo pode ser adquirido ao longo da vida, por exemplo, por algum trauma ou disfunção.

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  2. Ao mesmo tempo que o grupo “não tome vacina” prega que Neville ainda não achou a cura e que todo mundo terá que usar protetor solar fator 500, outros parecem ser viciados em vacinas. Esperem só até a mídia anunciar a nova “Gripe do Sapo”

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  3. Esse tipo de coisa que faz com que o povo desconfie de cientistas e médicos. Infelizmente muitos acham que maioria deles são charlatões. Esse Wakefield deveria ir para a cadeia (no mínimo). Agora, fala sério, se consultar no Yahoo! Respostas é coisa de idiota. Se bem que 99% das pessoas que enviam as perguntas não um QI maior do que de um camarão. É mais fácil encontrar formas de vida inteligente em Plutão do que nesse site.

    Espero logo que esse livro seja lançado em Português (nem seja no lusitano). E lamento muito que jornalistas como Seth Mnookin sejam raridades.

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  4. Esse livro já está na listinha dos que comprar. Fiquei abismada que o jornalista Seth Mnooklin tenha escrito para a VF (porque sinceramente, embora ela tenha reputação, não deixa de ser uma revista de escândalos e famosos). Se todos os jornalistas, ou pessoas leigas,tivessem essa iniciativa de pesquisar os escândalos que surgem antes de continuar a espalhar a história, muitos eventos poderiam ser impedidos de acontecerem. Eu não compreendo porque essa mania de não pesquisar, sério, por que? Como uma coisa tão bizarra quanto “vacina que causa autismo” pode ser levada a sério por diversas pessoas de diversos países? Esse livro está tendo um bom destaque, espero que tire muitas dessas diversas pessoas dessa ignorância bestial de dizer que vacina causa autismo e outros e-mails que circulam pela internet.

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  5. A sociedade acredita em quem tem confiança, ou seja, alguém próximo que mesmo sem ter o mínimo de conhecimento necessário, tem a sua confiança conquistada.

    E isso não é só. Essas consultas no Yahoo (que são bem mais do que essas citadas), não são nada comparadas com as que já encontrei e continuo encontrando. Um grande exemplo pode ser visto nesse “artigo”. Os comentários se transformaram numa ala clínica, praticamente. E creio que o próprio autor do artigo em questão tivera se surpreendido com a situação, pois sei que não era esse o efeito que esperava ocasionar. E nem vou entrar no quesito “orkut”.

    As pessoas estão tão perdidas (fato), que nem pensar em parar para pensar, elas pensam. Suas queixas são largadas de forma espontânea sem ao menos se importarem com o receptor (se o sujeito é realmente o mais adequado a recebe-las), assim como suas atitudes também o são — não possuem certeza, mas a espontaneidade tem força maior. É costumeiro acreditarem no que vem primeiro aos seus ouvidos e/ou no que a maioria acredita (praticamente óbvio). Chegam ao ponto de confiar mais em pessoas desconhecidas na internet (que escrevem abreviando palavras, faltando acentos e ainda com letras versais), do que em médicos especializados. Ou melhor definido — e mais comum —, procuram consultar com a “amiga(o)”, primeiramente, e só depois quando a situação se agrava, é que vão atrás de um médico. Mas aí vem o fato comum de já ter sido tarde demais.

    Por isso que até fica meio difícil em relação à vacina, pois sabemos que muita coisa hoje mesmo sendo obrigada, de nada serve. Contudo, se um pai leva seu filho pra ser vacinado pelo motivo de ter sido obrigado a tal ato, então logo essa pessoa não tem um pingo de responsabilidade e as chances do mesmo fazer uma besteira qualquer para com a criança, é grande. Não tem como ter certeza no que seria mais benéfico.

    Tinha que ter uma lei obrigando as pessoas a pensarem mais. (…) … E essa seria outra lei a não ser respeitada. É, eu sei.

    E ainda há quem solte a frase “faço isso dessa forma,sim. Médico não sabe de nada!” (confesse, você já ouviu gente falar isso!)

    Muitos religiosos, algumas mães, alguns pais, avós; pessoas dentro do próprio hospital… há gente que quer saber mais que o médico! Pra isso basta um “médico” retardado dizer uma coisa, depois vir outro mais sério e dizer outra. Pronto, todos os médicos ficaram em descrédito. Assim como a ciência quando diz determinada coisa em determinada época, e depois volta com a mesma pesquisa dizendo quase o contrário. Pronto, a ciência não sabe de nada. Está sempre se contradizendo… e assim vai com outras situações…

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    1. @Fabrício L., :shock: O que essa gente tem na cabeça?! Meu deus! O pior é que ainda indicam os sintomas na página de comentários do artigo… Não que no site indicado seja legal, claro. Esse povo me deixa cada vez mais chocado. Acho que fui muito generoso em comparar o QI dos internautas com o de um camarão. Que tal planária?

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