A eterna briga contra o autismo

Como todas as doenças, o autismo é algo que as pessoas esperam encontrar nos filhos dos outros. Nunca nos próprios. É uma desordem neurológica, quando os neurônios-espelho surtam e o resultado nunca é o mesmo. Sim, há diversos níveis de autistas e nem sempre é como o Rain Man. Nos EUA, a prevalência do autismo se dá em 1 em cada 70 nascimentos e isso é preocupante. Não, estas crianças não são especiais, elas possuem uma desordem. Se fossem mesmo "especiais" todo mundo iria querer uma. Logo, vamos deixar as hipocrisias de lado e ver o mundo como ele realmente é.

Foi descoberto o gene responsável pelo autismo, e isso não é o que pode ser chamado de projeto inteligente. Ou é, se o projetista for um sádico. Mas ainda não se sabe como se dá o mecanismo de a expressão do gene, como ele atua e, o que seria a glória, como reverter este efeito. Mas as pessoas querem milagres que médicos não podem fazer. daí, a corrida para tratamentos alternativos, que não passam de extorquir dinheiro de pessoas desesperadas.

No início dos anos 1970, o autismo era conhecido como "psicose infantil" – mistura de déficits sociais e deficiência mental. Ainda hoje, os pseudocientistas chamados "psicólogos" ainda chama que o autismo é uma doença comportamental. Já fiz psicomerdóloga passar vergonha ao mostrar publicações indexadas que desmentiam esta fantasia. Pediatras, nos idos de 1970 — onde a regra era Paz e Amor e Drogas, Sexo e Rock’n Roll e a queima generalizada de calcinhas — recomendavam aos pais que basta "dar um tempo". Só que "dar um tempo" não ajudou e os médicos viram que o buraco era mais embaixo. BEM mais embaixo.

Com o desenvolvimentocientífico e a melhor determinação dos casos de autismo fez com que a estatística sobre os índices de ocorrência saltassem abruptamente. Uma má interpretação dos resultados levou a uma catástrofe médica criada pelo então médico Andrew Wakefield (sempre tenho que ter um xará idiota). Wakefield alarmou meio mundo com a estúpida ideia que o aumento dos índices registrados de autismo deveu-se à aplicação das vacinas. Milhares de pessoas ficaram apavoradas e ainda hoje, 12 anos DEPOIS, há este mito que vacinas causam autismo. Obrigado, Wakefield por sua brutal ignorância e total falta de noção ao espalhar algo sem a mínima pesquisa a respeito. O caso foi tão grave que Wakefield foi expulso do conselho de medicina britânico este ano.

A "brilhante" ideia de Wakefield baseou-se num modus operandi digna dos melhores charlatões: Ele coletou amostras de sangue de criancinhas que participavam da festa de aniversário de seu filho, e "presenteou" cada uma com 6 dólares pela participação. Médicos do mundo todo reagiram com veemência. O Método Científico fez o seu trabalho. Mas as pseudociências contrariam até mesmo Einstein e viajam mais rápido que a Luz. Ainda hoje recebe-se e-mails fajutos "alertando" sobre vacinas que causam autismo.

Então, quando vê-se que a Natureza fez merda e seu filho tão desejado foi diagnosticado como autista, só resta o desespero às pessoas. E no desespero apela-se para tudo. Cházinho mágico, psicoterapia, acompanhamento de psicólogos, massagens localizadas, terapias com cristais etc. (sim, isso tudo existe, infelizmente). Por mais que saiam publicações dizendo que as causas do autismo são orgânicas, charlatões freudianos, jungianos, lacanianos ou sei-lá-o-quenianos vivem pregando que a criança deve passar por terapia. Dependendo do estado, você estará falando com uma porta. lamento, mas é verdade. Tem autista que é hardcore e simplesmente não sabe de nada que se passa em volta, ou "vê" as coisas acontecerem ao mesmo tempo, ficando com um curto-circuito cerebral. Óbvio, que a alimentação deve ser regulada. Não para melhorar, mas para não piorar mais. Melhorar, não melhora (no sentido que damos a "melhorar de um resfriado").

Novas tecnologias e uma ampliação da consciência da população ajudaram o autismo a se tornar um objeto de pesquisa mais atrativo (sem falar que a alta incidência gera mais "clientes"). Em meados dos anos 1990, os pais começaram a adotar sofisticadas táticas de lobby e arrecadação de fundos, empregadas para AIDS e câncer de mama, recorrendo a fundações e ao governo federal dos EUA. Aqui, não temos algo tão amplo assim. Mas o que se tem de amplamente eficiente no Brasil? De acordo com a Scientific American Brasil, na última década o financiamento para pesquisa em autismo nos Estados Unidos subiu 15% ao ano, com ênfase nas aplicações clínicas. Em 2009, os Institutos Nacionais de Saúde alocaram US$ 132 milhões em recursos para o trabalho com autismo, com um adicional de US$ 64 milhões decorrentes da Lei para a Recuperação e Reinvestimento Americanos [American Recovery and Reinvestiment Act]; boa parte dessa verba é destinada ao desenvolvimento de protocolos de pacientes e outras ferramentas investigativas. Em 2008, as fundações privadas, incluindo a Fundação Simons e a Autism Speaks, contribuíram com US$ 79 milhões. Segundo a Autism Speaks, investiram-se aproximadamente 27% de todos os recursos em tratamentos investigativos; 29%, nas causas; 24%, em biologia básica; 9%, em diagnóstico.

Brasil? Who?

Ainda estamos longe de ver o autismo reduzir seus números para algo que possa chamar de "bom". Difícil estimar quantos autistas o Brasil possui. No site da Associação Brasileira de Autismo não há informações de espécie alguma. Horrível isso. Segundo a Associação dos Amigos dos Autistas, "o autismo afetaria de 2 até 6 pessoas em cada 1000, isto é, poderia afetar até 1 pessoa em cada 166. O autismo seria 4 vezes mais freqüente em pessoas do sexo masculino". Os dados são de 1999. Hello? No site da AUMA – Associação dos Amigos da Criança Autista não tem informação útil nenhuma. Mas eles tem uma seção de links… para a APAE de São Paulo. OMFG! Uma informação! É só isso que as pessoas precisam. informação! Mas é querer demais. O primo da vizinha do cuinhado da lavadeira que passou a calça branca de um enfermeiro do Souza Aguiar disse que de repente uma mandingazinha resolve, pois é problema espiritual (também já ouvi coisa parecida).

Se você se deparar com receitinhas de medicina biomolecular, ortomolecular e outras pseudocienciamoleculares, fique com o pé atrás. O próprio Conselho Federal de Medicina disse que algumas práticas ortomoleculares e biomoleculares não podem ser realizadas por não terem comprovações científicas, conforme o Rafael do RNAm  escreveu.

Conhecendo a raça que cai de para-quedas aqui para escrever bobagens, adianta que não, não curei o autismo. Não, não sei como curar o autismo. Se soubesse, estaria rico. Isso não significa que as pseudociências estejam certas. Ainda mais quando se prova que estão erradas. E para as associações brasileiras de autistas, um recado: gastem 2 minutos usando o Google e coloquem informações atuais para as pessoas, sim?

12 comentários em “A eterna briga contra o autismo

  1. Nossa, quando li “tratamentos alternativos” eu gelei. Já li alguns artigos falando sobre a Psicanálise desmascarada, mas isso se aplica em outras terapias, como a Comportamental Cognitiva? Em alguns sites, citaram o benefício desta última, não em relação ao autismo, mas outros distúrbios. Curiosidade minha.

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    1. @Tati, Com relação a tratamentos alternativos, uma vez um amigo meu foi ao médico ortomolecular e ele disse que ele possuía fungos no sangue. :shock:

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  2. Eu acho que minha mãe apareceu esses dias falando sobre alguma coisa “ortomolecular” e só falava bem. Eu nem dei bola, mas agora que liguei um ponto ao outro.

    É essa “medicina ortomolecular” que está prometendo saúde e juventude?

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  3. Mas também chega a ser engraçado como as pessoas tendem sempre a seguir o lado errado da coisa. Se aparecer um idiota falando que 2+2 é 3, um monte acredita, e mesmo depois de alguém vir e provar que o resultado é 2, ainda vai ter gente acreditando que 2+2 é 3.
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    E há uma notícia que eu nem vou falar qual é pois eu sei que o André já está preparando o artigo sobre o fato. Outro post insano vem aí.

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  4. Nunca estudei autismo além do que as aulas de biologia no 3º ano ensinavam, por isso sempre acreditei que um acompanhamento psicológico pudesse ao menos estabilizar a situação, evitando pioras no quadro. … Sério que existe terapia com cristais para autismo? … Joguei no google as palavras corretas e li artigos de “crianças com espectro de autismo…”, depois do ESPECTRO DE AUTISMO tive medo e fechei todas as janelas. E o artigo era de 07/2010! Super-Homem, aonde está você?

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  5. Me senti extremamente ofendida com seu texto no geral, principalmente na sua depreciação do ser humano apenas por ser diferente de você e dos demais seres humanos “normais”. É claro que ninguém quer ter seu filho diferente, sofrendo preconceitos e com dificuldades a mais em relação aos demais, no entanto, os autistas severos ou portas como você se refere também possuem famílias, pais e mães que querem o melhor para eles em termos de desenvolvimento tendo em vista que esse é o comprometimento causado pelo disturbio ou desordem como você prefere chamar, afinal especial é um termo que deveria ser utilizado apenas para gênios como você. Tenho uma filha de três anos com autismo leve, fazemos tratamento com neuropediatra, T.O., fonoaudiológo e psicológo comportamental e esses tratamentos possuem sim base científica e funcionam, não utilizo metódo ABA e nem TEACCH dois metódos de ensino com bases científicas sólidas, pois minha filha consegue aprender através do método fônico que é utilizado para as crianças normais em escolas tradicionais, ela estuda em uma escola regular junto com os demais que você deve chamar de normais e acompanha (sorte a nossa que a minha filha anormal consiga tal feito heim?). Com tudo isso quero apenas que você reflita sobre o que fala ou digita, pois existem muitas famílias sofrendo, pois, sabemos que não somos eternos e queremos independencia para nossos filhos e filhas, de forma que quando morrermos possamos partir sabendo que ficarão bem e o modo depreciativo de se expresar, o preconceito e a discriminação apenas aumentam esse fardo, sendo assim, apenas peço que seja mais empático, não espero que entenda o que é sofrer por outro ser humano, sentir na carne a dor da impotência, não pretendo mudar sua forma de pensar (isso é mesmo impossível) apenas quero que seja mais cuidadoso ao se referir a seres humanos.

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    1. Você tem todo o direito de se sentir da maneira que quiser, mas só ficou ofendida por ter lido apenas o primeiro parágrafo. Eu não chamo autismo de distúrbio ou desordem. Médicos e pesquisadores sim.

      http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?44
      http://www.ninds.nih.gov/disorders/autism/detail_autism.htm
      http://www.medicalnewstoday.com/info/autism/
      http://www.chw.org/display/PPF/DocID/22122/router.asp
      http://www.mentalhealth.com/dis/p20-ch06.html

      É uma pena vc destilar péssimos sentimentos com relação a mim, tão-somente pela leitura de um parágrafo, sem sequer ter feito visto o texto na sua totalidade, onde eu critico exatamente esta falta de informação em sites tidos como “especializados” no Brasil. As pessoas não têm culpa do mundo ser injusto e seu depoimento, apesar de comovente, foi diluído pelo amargor que nutriu por alguém que não conhece, só por este alguém ter feito observações claras e sem minimizar acontecimentos. Eu tenho que refletir na mesma medida que vc deve ler textos de forma ampla sem pré-conceitos sobre pessoas que não conhece. Você se comportou pior que a figura que você idealizou de mim.

      Não faça isso com outras pessoas. Nem todo mundo é como eu, que simplesmente estou acostumado a ser atacado de forma desonesta como você o fez. Passar bem.

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      1. @André, Eu não tenho péssimos sentimentos em relação a você, apenas pedi reflexão, mas imaginei que você devia fazer parte da quase totalidade da humanidade que nunca erra, o erro é sempre do outro. Sei que a vida é injusta, tbm sou cética, e talvez por isso mesmo tente respeitar as outras pessoas e tratá-las como gostaria de ser tratada, dessa forma lhe peço desculpas pela grosseria em algumas palavras postadas, ou como você se referiu amargura, e gostaria de saber o que os demais que não estão acostumadas a serem atacadas de forma “desonesta” fariam em relação a mim? De qualquer forma espero que reconheça que por mais que pessoas ajam e pensem de forma diferente da maioria, ainda assim, continuam sendo seres humanos e merecem respeito.
        Assista esse vídeo se tiver tempo: http://falandodeautismo.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=73:temple-grandin-o-mundo-necessita-de-todos-os-tipos-de-mentes&catid=43:videos&Itemid=68
        Esse link é interessantíssimo, o cientista Alysson Muotri conta em uma espécie de diário como chegou a uma provável cura: http://g1.globo.com/platb/espiral/2010/11/29/combatendo-o-autismo-consertando-um-neuronio-de-cada-vez/
        É super interessante até pelo valor científico, um grande avanço.

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  6. se o autismo for colocado como uma aleatoriedade ( ou desfocalização) da percepção, talvez todos nós tenhamos esse sintoma, em maior ou menor grau, durnate o nosso tempo de vida.

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