2010: O ano da vida artificial?

synthia Seres vivos são sistemas químicos fechados, capazes de se autossustentar, replicarem-se e capazes de evolução biológica. Até hoje os cientistas buscam a feitura de seres vivos em laboratório, ainda que bem primitivos. Ao que parece, talvez estejamos mais próximos disso do que pensávamos; entretanto, quando falamos em vida artificial, não estamos nos referindo em Exterminadores ou na deliciosa Daryl Hanna baixando o sarrafo no Harrison Ford. Estamos nos referindo realmente em organismos primitivos, como bactérias, que pode parecer pouco, mas seria um feito e tanto em termos de ciências biológicas.

Em agosto de 2007, a Associated Press publicou um artigo afirmando que, em no máximo 10 anos, os cientistas terão criado vida artificial. Já se passaram quase 3 anos e não se sabe ao certo se esta “previsão” se concretizará. A Ciência não é algo que se pode realizar com pressa; no entanto, a concordância está na proposição que o chamado “desenvolvimento de realidade úmida” irá mudar nossas concepções sobre o que é vida, lançando-nos num novo mundo, pois isso afetará não só a Ciência, como nosso modo de pensar; pois se podemos produzir vida em laboratório, estaremos com um grande abacaxi filosófico nas mãos. Se somente Deus (Alá, Shiva, Monstro Espaguete Voador etc) pode criar vida, e demonstrarmos que nós também podemos, para que precisa-se desse Deus? Por outro lado, isso demonstraria que somente ações conscientes e planejadas poderiam criar entidades complexas, como seres vivos. Seria uma prova que todos os seres vivos existentes, que existiram ou existirão um dia, vieram de um ancestral que foi “fabricado” intencionalmente. Não obstante, se usamos tão somente as propriedades físicas e químicas das substâncias, não é nenhuma prova que haja uma entidade superpoderosa, pois podemos fazer aparecer descargas elétricas, simulando raios, ou manejando massas de ar, produzindo efeitos num túnel de vento.

Mas, como eu disse, são questões filosóficas. Ciência não se baseia em questões filosóficas. Ela procura explicar o mundo que nos cerca, identificando ações e propriedades. O que causa o que não é tão importante em determinadas esferas. Por exemplo, para cientistas que estudam os processos evolutivos, não importa como o ser vivo apareceu ali. Importa é como se dá o seu processo de transmissão de caracteres e como ele se apresenta em seu habitat, estudando seu grau de adaptabilidade. Como surgiu o primeiro ser vivo é outra teoria, outra pesquisa, outro foco de estudo, outro assunto. Assunto que não condiz com a Teoria da Evolução Biológica.

A Ciência aguarda ansiosa por Synthia. Ela não é uma mulher, não é uma femme fatale. Ela é será apenas uma “bactéria” (não uma bactéria propriamente dita), mas que entrará para a história, como sendo o primeiro ser vivo produzido em laboratório, com um conjunto de instruções genéticas que estão perto do mínimo necessário para a vida bacteriana – com base no DNA de um micróbio chamado Mycoplasma genitalium. Será uma espécie de Louise Brown microscópica.

O Dr. J. Craig Venter é um dos pioneiros na pesquisa com vida artificial (sua abreviação em inglês é aLife). Quando Venter anunciou a criação de um genoma sintético do M. genitalium em janeiro de 2008, o nascimento Synthia foi tido como iminente, a ponto de Venter aventar (haha, gostaram do trocadilho?) que em 2010 Synthia nasceria, carregando um genoma inteirinho feito do zero, totalmente feito em laboratório. Será que em 2010 será o ano em que nós e Synthia faremos contato?

Venter ganhou notoriedade por ter participado na corrida pelo sequenciamento do DNA humano, chegando a ser o primeiro homem a ter seu genoma completamente decodificado. Mas entre sequenciar um DNA e produzir material genético do zero são duas coisas muito diferentes. Sua equipe teve de enfrentar vários problemas, as enzimas das células hospedeiras, que receberão o DNA artificial. Tais enzimas não gostam de intrusos e procuram destruir severamente qualquer invasor. Para essas enzimas, a pesquisa de Venter e um vírus desgraçado e intrometido é a mesma coisa.

Em outros lugares, muitos pesquisadores estão trabalhando sobre os componentes de uma célula totalmente sintético. George Church, da Universidade Harvard, já anunciou que sua equipe fez uma auto-montagem ribossomo – a “fábrica” responsável em produzir proteínas. Ele espera que o próximo passo, obter ribossomas sintéticos que se autorrepliquem, aconteça em 2010.

Uma célula completamente sintética continua a ser uma meta distante, como todas as metas que já foram alcançadas. Synthia é bem capaz de se atrasar, como qualquer noiva no seu maior dia. E como toda noiva, talvez ela chegue, talvez não.

Venter já foi criticado por ser arrogante e de “querer brincar de Deus”; mas sua capacidade, conhecimento e realizações são inquestionáveis. Ele pode se dar ao luxo de ser arrogante em certo ponto, pois nesse ponto ele demonstra que não é apenas arrogante, é um arrogante competente.

Quanto à Synthia? Sentemos e peguemos um jornal. Ela aparecerá quando sentir que é hora, independente da ansiedade daqueles que esperam pelo seu aparecimento.


Fonte: New Scientist

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