Muitos seres vivos possuem capacidade de camuflagem e mimetização. A grosso modo, podemos dizer que camuflagem é quando o animal/planta muda a sua cor, afim de se confundir com o ambiente. Mimetização é quando eles se fazem passar por outra coisa, afim de enganar seus predadores, ou mesmo afugentá-los. O camaleão é um exemplo de camuflagem, como o polvo. O bicho-pau confunde-se com gravetos, fazendo-se passar por um simples galho, enquanto que asas de algumas borboletas parecem ser os olhos de um bicho maior.
Plantas dependem de fatores externos para se reproduzirem, como água, vento ou agentes polinizadores, como abelhas e borboletas. Acontece que as belas criaturinhas precisam ser atraídas e como quem comanda é a Seleção Natural, as plantas que conseguiram uma adaptação que por mero acaso conseguiam atrair os insetos, de modo que eles se servissem do néctar, se “sujassem” com o pólen e, ao ir pra outra flor, fecundavam-na, se reproduziram mais, gerando mais descendentes e assim por diante. Mas, seria o caso de algumas trocarem de cores, de modo que isso fosse uma vantagem? A resposta é sim! Existem plantas que trocam de cor, indicando assim a que horas suas flores abrem.
Não são só camaleões, lulas e polvos que possuem a capacidade de trocar de cor quando necessário. Mais de 450 espécies de flores têm a capacidade de alterar sua cor e posições ao longo de um dia. O objetivo, basicamente, é que sirva de uma forma de comunicação, mas é feito de forma inconsciente, já que plantas não pensam. Algumas plantas desenvolveram um mecanismo, através de Seleção Natural, onde ela muda de cor, de modo que fica indicado que ela já fora visitada e seu agente deixou pólens de outras flores nela, propiciando a fecundação. Isso avisa, indiretamente, ao polinizador que, se ela já fora visitada, significa que tem pouco néctar. Logo, para os agentes polinizadores é uma vantagem, pois eles não precisam perder tempo indo lá, pois através de uma diferença de cores, eles poderão identificar qual planta tem néctar e qual tem pouco ou nenhum. A vantagem para a planta reside no fato que, com essa indicação, uma planta que não fora visitada poderá ser polinizada mais efetivamente.
Um exemplo de planta com esta adaptação é a Desmodium setigerum, que possui pequenas flores de apenas um centímetro de diâmetro. Tais flores duram apenas um dia e começam com um tom lilás. Quando as abelhas polinizadoras pousam sobre a flor, o seu peso sobre as pétalas colocam os órgãos reprodutivos à mostra. Após estas visitas, as pétalas do topo dessas flores caem, obscurecendo as anteras e o estame, fazendo com que as pétalas de lilás passem a ser branco e turquesa (conforme imagem que abre o artigo). O processo inteiro leva menos de duas horas. A passagem para a turquesa acontece naturalmente com o tempo, mas visitas de abelhas aceleram bastante o processo.
Pat Willmer da Universidade de St Andrews encontrou um exemplar de D.setigenrum que pode inverter o processo, isto é, caso a transformação não tiver recebido pólen o suficiente na visita, a planta voltará à sua cor inicial, mostrando que ainda possui néctar para novos insetos, de modo que eles possam voltar e polinizá-la. Aos insetos, é a garantia de voltar com mais néctar para casa. O pesquisador passou dois meses estudando a flor no Parque Nacional de Kibale, em Uganda. No caso das flores que conseguem inverter a sua coloração, as pétalas conseguem voltar à posição inicial, revelando o estigma.
Willmer considera que esta possibilidade de reverter a mudança de cores é única nas flores. Não está ainda bem claro como isso acontece, mas os tubos de pólen meio que “explodem” em grãos de pólen. Plantas produzem vários hormônios que poderiam propiciar estas mudanças bioquímicas. Em flores como a Viola cornuta, os hormônios como o ácido giberélico atuam sobre os genes que produzem pigmentos púrpuras chamados antocianinas, as quais trocam os tons da flores de branco para o púrpura. Sem o crescimento dos tubos de pólen, baixas taxas hormonais podem acarretar a troca oposta.
O artigo foi publicado na Current Biology
