Chimpanzés mudam de sotaque para fazer amigos. Sotaque?

Sim, sotaque. Lindo, não? Chimpanzé tem sotaque, e o pessoal do Tumblr vai alegar apropriação cultural! Claro, você deve estar se perguntando "como assim ‘sotaque’?". Muito simples. Eles não fazem gruuuuu-bruuuuuuuuuu de qualquer jeito (a onomatopeia é minha e eu digo que chimpanzés "falam" assim. Me processe!). Eles mudam suas entonações para se encaixarem em outro grupo social, o que poderia ser chamado de "sotaque", ou algo próximo a isso.

Examinando dois grupos de chimpanzés no Jardim Zoológico de Edimburgo, biólogos perceberam que eles passavam a grunhir da mesma forma em cerca de três anos. Coisa sem utilidade nenhuma, né?

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Pesquisas estudam o ignorado local onde fica o aprendizado

O cérebro é o órgão mais complexo, esquisito, gambiarrento, problemático e desconhecido que temos. Não é questão que só usemos 10% dele. Isso é boato. O certo é que mal conhecemos 10% dele. Há algumas partes do cérebro que simplesmente não sabemos pra que serve (se é que serve para alguma coisa. Ninguém nunca disse que tudo no corpo humano tem que ser 100% eficiente o tempo todo). Agora, pesquisadores estão dando atenção a algo que vem sendo ignorado por muitos e muitos anos: a parte associada à leitura!

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Qual é o segredo do Disco de Festo?

Em 15 de julho de 1908, o arqueólogo Luigi Pernier estava estudando o sítio arqueológico de um palácio minóico de Festo, próximo a Hagia Triada, que fica na costa sul da ilha de Creta. Lá, diferente do que certos apóstolos tendem a se enganar, os cretenses não eram sempre mentirosos, mesmo quando isso era dito por um cretense. Durante as escavações, Pernier encontrou uma coisa estranha. Um prato de argila com umas inscrições. O que estava ali? Ninguém sabia. Para que servia aquele treco? Ninguém fazia a menor ideia. Aquilo poderia ser usado como frisbee? Meio pesado. Aquilo era minóico? Eu que sei?

Mas alguns pesquisadores parece que descobriram os segredos envoltos no Disco de Festo. Aliens? Maçonaria? Feitiços da Bruxa do 71?

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Gene humano implantado em camundongos os faz ficar mais espertos

Existem muitos exercícios por aí para aumentar a sua inteligência. Se você acredita neles, realmente precisa aumentar essa sua inteligência. Agora, imagine que com uma simples terapia genética, você ficasse mais espertinho e aprendesse mais rápido. A Ficção Científica já abordou isso em diversos livros e filmes. Claro, isso não tem nada a ver com usar apenas 10% do cérebro. Você usa 100% dele, a todo momento. O que acontece é ter mais ligações sinápticas.

Alguns pesquisadores pensaram: e se nós déssemos um gene de um animal mais inteligente e capaz a um rato. Será que ele ficaria inteligente? Bem, na falta de um animal muito mais inteligente, deram o gene de um ser humano mesmo. E os resultados foram fantásticos.

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O que é sotaque?

Olá amiguinhos(as)!

A gente já viu muito sobre a fala e sua complexidade, mas ainda há muitas dúvidas sobre isso. E outro dia me deixaram encasquetada no twitter falando sobre sotaques. Então… Você sabe o que é sotaque?

Eu já disse que a primeira coisa que a gente aprende quando aprende a falar é a variante diatópica de lugar onde aprendemos a falar, ou seja, o dialeto. Isso inclui aprender as palavras e construções típicas dessa região, além da fonologia específica (por exemplo, se vai usar o "chiado" [o termo técnico é africada, em oposição às oclusivas, sem "chiado"] ao falar |tia|dia|). Mas o que mais faz diferença mesmo entre os dialetos e que mais "marca" a fala das pessoas é o sotaque.

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Sobre gramáticas: contribuição do Mattosão

Oi amiguinhos(as)!

Quem me acompanha no twitter sabe que eu estou me preparando para a seleção do mestrado em linguística teórica e descritiva da Universidade Federal de Minas Gerais. Ontem, durante uma "sabatina" dos meus estudos, meu namorado me deu uns livrinhos muito bacanas do Joaquim Mattoso Câmara Jr. sobre linguística descritiva.

Eu já falei sobre gramáticas aqui e aqui, sobre a diferença entre fala e escrita aqui, e sobre os diferentes usos da língua aqui, mas não sei se ficou claro o suficiente. Então resolvi deixar pra vocês um trechinho da introdução da Estrutura da Língua Portuguesa, do Mattosão, que fala sobre isso.

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Sobre escrita e ortografia

Olá amiguinhos(as)!

Agora que nós já vimos que a língua é um fenômeno bem complexo, que apresenta variedades bem distintas e vários níveis de variação em diferentes graus, e não é muito bem definido cientificamente, podemos ver como isso complica na hora de padronizar o uso da língua.

Por que, afinal de contas, se ela é tão variável, como a gente consegue se entender de boa? E como a gente vai criar um sistema de escrita, que é infinitamente mais rígido e durável que a fala, de uma maneira que todo mundo entenda, mesmo que falem dialetos diferentes?

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O complexo fenômeno linguístico

Eu já disse nos textos anteriores que a língua é um fenômeno supercomplexo. Já disse que há, pelo menos, dois jeitos diferentes de se expressar linguisticamente – pela fala e pela escrita. Também já disse que há níveis de formalidade na fala e na escrita, salientando a questão da adequação. Vou falar mais sobre isso agora.

Na linguística, costumamos falar que a língua é um diassistema: um sistema de sistemas. Como assim, tia Bárbara? Eu explico. Cada "nível" linguístico de variação é um sistema em si, e todos juntos formam o fenômeno da linguagem.

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Decreta-se a língua portuguesa como fora-da-lei!

Sim, pois é só isso o que falta!

Estamos num caminho sem volta, rumo à ignorância. Estamos sem salvação frente à massa ignorante, apedeuta, débil mental, analfabeta e estúpida. Um povo que se recusa a aprender qualquer coisa. Um povo cuja maior ostentação foi ter um analfabeto na Câmara dos Deputados e um ignorante se sentir orgulhoso por ser ignorante e ter chegado à Presidência.

É o pais dos atoleimados, dos vis, dos pulhas, dos biltres, dos descompassados, dos torpes, dos pusilânimes, dos desclassificados, daqueles que me dão vergonha de possuírem características de Homo sapiens, mas deveriam ser enquadrados como Homo idiotens.

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O que é gramática? (Segunda parte)

Continuando a nossa série de textos sobre estudos da linguagem, hoje vou falar um pouquinho sobre os estudos "tradicionais", ou seja, aqueles relacionados à primeira definição de gramática que eu dei no texto anterior (e se você não leu os textos anteriores, PARE AGORA! e só volte quando ler tudo. É importante seguir o raciocínio.)

Para falar dos estudos tradicionais, vou usar um texto do linguista britânico David Crystal, mais especificamente o segundo capítulo do livro A Linguística. Infelizmente não consegui uma versão digital do livro para linkar aqui (eu tenho um xerox desse texto que usei numa matéria na faculdade, traduzido para o português, aparentemente uma edição portuguesa.).

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