A felicidade da história que não aconteceu porque não deixamos

Todos vocês estão acompanhando o desesperador acontecimento no Rio Grande do Sul, em que uma mudança climática causou uma catástrofe, os mortos estão em torno de cento e vinte pessoas, até o momento que eu estou escrevendo este texto, mas há muito mais, bem sabemos disso e ninguém vai se iludir. Quantos? Não sabemos ainda e muitos temem saber. Nós estamos testemunhando a História, como muitos dos nossos antepassados testemunharam e não estão aqui. Estamos vendo ao vivo e registrando o que quase sempre aconteceu.

Entretanto, eu estou vendo uma coisa diferente que ninguém se tocou e… eu não sei. Eu não sei classificar, pois, eu tento achar que é uma boa coisa, mas se falar isso, com essas palavras, irão me ofender, xingar e ameaçar, pelo que vou entender, claro, pois as frias letras são impessoais. De início, eu estou satisfeito de ver o que estou vendo, mas tente ler primeiro antes de me julgar. Eu preciso contar uma história… aliás, algumas histórias.

Você deve ter lido sobre os sumérios, principalmente se assina meu Apoia.se, onde escrevi um texto de mais de 20 mil palavras sobre sua ascensão e queda. Antes, o Crescente Fértil tinha este nome por ser um lugar fértil, com muitas plantações e impérios. Os sumérios caíram no segundo milênio Antes da Era Comum por causa de mudanças climáticas e os rios secaram e todos os sais minerais que eram levados pelas águas ficaram, transformando nas planícies do atual Iraque em um solo salino, quebradiço, desértico e incapaz de abrigar uma plantação.

Pela mesma época, em 1200 AEC, deu-se o início ao período conhecido como Idade das Trevas na Grécia, em que várias cidades-estados helênicas caíram. De Hattusha, a capital do antigo Império Assírio, com suas mais de cem torres, com grandes portais decorados com esculturas de leões estão atualmente em pedaços, e, hoje, arqueólogos tentam imaginar e reconstruir como ela deveria ter sido.

Por essa época, no reinado de Ramsés III, o Egito foi atacado pelos povos do mar, mas, mais do que isso, o Egito também sofreu com mudanças climáticas o que colocou o outrora orgulhoso reino de joelhos.

Pompeia, Herculano, Síria, Rodes, Roma, a Ilha da Páscoa, várias cidades-estados, reinos e impérios sucumbiram por várias ocorrências naturais (as guerras eu deixarei para outro dia). Várias civilizações desapareceram, e hoje mal temos relatos e temos a certeza de que muitas outras existiram mas foram ceifadas da face da Terra e sequer temos um único registro. Elas não sobreviveram para registrar. Foram eventos violentamente caóticos.

Observem o que aconteceu no Rio Grande do Sul. O avassalador ataque das águas, as tempestades, as inundações. Em algum tempo sem informação, seria tido como ira divina (ok, ainda hoje acham que é), que é a punição pelos seus pecados, que é a Ira de Deus caindo e ceifando vidas. Vemos como uma religião poderia se formar. Mas, mais do que isso, algo assim teria ceifado uma civilização inteira, com poucas pessoas sobrevivendo e se espalhando pelas redondezas, nem que seja para morrer depois por doenças trazidas por isso.

Nada disso está acontecendo. Nossa Ciência e Tecnologia consegue salvar pessoas e animais. Conseguimos prevenir o desaparecimento de um estado inteiro, de pessoas, de cultura, de vidas. Nos temos os registros ao vivo, sabemos efetivamente o que aconteceu e como salvar as pessoas. Nem todas serão salvas, infelizmente, mas a cada pessoa resgatada, a cada pet que volta pros seus donos, a cada criança salva, podemos ver que estamos na melhor das épocas.

Claro, apontaram detalhes sobre a causa da mudança climática que aconteceu para que tivesse acontecido o que aconteceu no Rio Grande do Sul, mas não entrarei nesses detalhes, pois, só a invenção da agricultura mudou o clima, e a construção de canais foi o que selou o destino dos sumérios. Hoje, nós temos meios de impedir, ou quase… pelo menos, podemos salvar quando a calamidade acontece.

Seres humanos são os mais resilientes seres vivos no planeta. Nós mudamos o ambiente para melhor ou pior. Sempre estamos aqui, sempre tentando fazer o melhor que podemos, ou o pior, mas isso é uma questão filosófica e o que eu estou falando é como podemos impedir coisas piores pois aprendemos com o passado, e poderíamos aprender mais. De novo, é uma questão filosófica. O realmente importante é que podemos resgatar o maior número de pessoas possível, pessoas que poderão contar uma história de forma que nós não a esqueçamos e possamos impedir que aconteça mais uma vez.

Se vão trabalhar para realmente impedir, é uma questão de vontades e não de potencialidades.

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