
Algumas conversas na Internet que eu tenho, por vezes, me trazem à lembrança o que uma amiga minha falava: “é solitário ser inteligente”. Ela tinha razão. Podem ver que as pessoas preferem ser burras, não por falta de cognição, deficiência ou baixa instrução. Elas PREFEREM ser burras ou falar qualquer asneira ou acreditar em qualquer bobagem. Elas sabem muito bem qual é a realidade, mas preferem fechar os olhos, ainda mais quando o viés de confirmação é levado em conta.
Por exemplo, posso citar algo que qualquer professor percebe. Você tem uma aluna (ou aluno, tanto faz) que é inteligente, participativo e esforçado. De repente, não mais que de repente, o comportamento começa a mudar. Deixa de ser aquele estudante que se destacava e começa a agir feito um idiota. O motivo? Pressão social. Num universo em que tirar 8 é ser visto como nerd e passa a ser excluído do grupinho (de alunos vagabundos), a criança/adolescente faz a sua escolha: o grupo, não o desempenho acadêmico. Ela precisa se sentir especial naquele grupo e ser bem aceito.
O indivíduo cresce e vai para onde sofre maior pressão social e vontade de se destacar: redes sociais. Antes tinha o Curious Cat, um site que deixavam perguntas e a pessoa respondia, se sentindo como… sei lá, se estivesse dando entrevista. Agora são as plataformas de caixinhas de mensagens. Virou uma febre ficarem dando conselhos emocionais, jurídicos, sexuais, relacionamentotais e coisas do gênero. À primeira vista, você olha aquilo e se pergunta por que alguém pediria opinião de um estranho. Então, você presta atenção nas perguntas/mensagens, ergue a sobrancelha e diz “fanfic! Isso é claramente mentira”. Mas isso é irrelevante.
Se você chegou aqui hoje e caiu direto neste artigo, rola a página lá pra cima. Tá vendo o nome do blog? Pois, é. Espero que tenha agora um vislumbre de onde acabou de cair. E não, aqui não é uma questão de ficar falando mal de religião. Eu nem falo mal de religião. De religiosos idiotas, talvez, mas eu ainda considero um típico comportamento religioso rolar uma história claramente mentirosa para se sentir superior na linha “puxa, alguém quer saber o que eu acho sobre ele estar pegando a sogra caolha dele, enquanto pratica bestialismo com o chiuaua”.
Aí você aponta “é fanfic”. O que fazem? Acham que VOCÊ é o errado porque isso é alguma forma de entretenimento. Deve ser algo como Serbian Movie. É um entretenimento doentio, mas entretenimento. Mas aí vem a parte desconfortável: as pessoas não gostam quando você aponta o óbvio, então, acham ruim, e você sente que isso é deprimente, se sente depressivo e pensa na solidão de ninguém mais na face da Terra pensar.
Tudo bem, eu não me sinto depressivo quando vejo gente falando asneira; eu passo por isso todos os dias no meu trabalho. A diferença é que lá eu sou pago pra aturar gente burra, gente idiotam, gente que age como burro para puxar saco dos idiotas que estão a alguns graus na hierarquia mais alta.
Se enveredar pelo campo político, estamos no pior dos momentos com gado de partidos por todo canto, sejam os dextrogiros ou levógiros, dois grupos de idiotas que não diferem em nada, pois, gado é sempre gado. O que muda é quem toca o berrante.
Enquanto um grupo acha que estamos sob o chicote da ditadura gay, todo mundo será obrigado a abortar e acabarão de vez com todas as religiões, os outros idiotas acham que a todo momento estamos à beira de um golpe de estado. Eu acho que se tivessem prestado atenção no que acontece na África toda semana ou como aconteceu o Golpe de 1964, teriam algum vislumbre do quanto são idiotas falando asneiras. Mas aí preferem repassar as asneiras para se sentirem politizados e se oporem a um mal horrível e nefasto, como se o Brasil estivesse à mercê da SPECTRE, quando seus altos escalões são formados por imbecis que cofundem Saint Exupery com Maquiavel. E ainda querem me convencer que este tipo de idiota vai implantar uma ditadura (sem nenhum apoio das Forças Armadas, porque ninguém levantou o cu dos quartéis).
Você tenta explicar a enormidade da besteira, mas aí bate a tristeza de perceber que está perdendo seu tempo e o melhor é nem dar conversa e preferir escrever um artigo de blog, já que falar com as pessoas é perda de tempo e o melhor é escrever no seu espaço, com a certeza que vai ter gente xingando, mas isso já faz parte da minha história de vida na Internet brasileira.
Ser inteligente só não é mais solitário que o único neurônio das pessoas que ficam falando asneiras por aí por pura preferência, afinal, a pressão social sempre será mais forte em algumas pessoas.
A solidão de ser inteligente acaba sendo melhor quando você percebe que uma pessoa morta efetivamente não sabe que morreu, quem tá em volta é que sofre. É a mesma coisa com as pessoas burras. O melhor mesmo é me certificar que os caldeirões estejam sempre a postos para despejar óleo fervente.

Isso me lembrou o dia em que eu falei que a história do Criado-mudo era faje news e fui defenestrado por todo mundo.
É assin que a gente aprende a parar de perder tempo.
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Na casa da minha mãe tem uma pasta com uma porção de relatórios que minhas professoras do pré e do primário fizeram sobre o meu desempenho em sala de aula. Eu sempre fui adiantada, tanto que não cursei formalmente a primeira série, fui direto pra segunda. No relatório da professora Hilda (da segunda série) ela contou (eu não me lembro disso, tinha sete anos) que do nada eu passei a fazer perguntas simples, de coisas que eu certamente sabia (certa vez, segundo ela, a sala separou as sílabas da palavra higiene como hi-gie-ne e eu levantei a mão pra perguntar se aquela palavra não tinha um hiato…). Comecei a me comportar mal – e eu era o típico caso de CDF boazinha. Não, eu nunca tive amiguinhos no primário, como adivinhou?
Depois de adulta eu percebi que sentia exatamente isso que você descreveu como a solidão da inteligência. É realmente muito, muito solitário olhar ao redor e não entender nada, não porque eu não sei o que está acontecendo, mas exatamente porque eu SEI o que está acontecendo. Conseguir olhar pras situações como um todo e ir além da superfície é basicamente excruciante.
Meu cunhado comentou comigo e com o Alan que acha fofo o modo como eu e ele conversamos sobre coisas “complicadas” com naturalidade e como é legal ver dois nerds em seus habitats naturais. Mas pra mim é tão natural, tão simples que eu não consigo nem classificar nossos assuntos como complicados. Física mecânica não é nada de outro mundo, por exemplo…
Enfim, eu te entendo, meu amigo, e compartilho dessa solidão. É difícil, muito difícil ser inteligente.
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Lembro de uma época no twitter (x, hahaha) que era comum rolar fanfics de coisas interessantes que aconteciam com a galera, não sei se ainda rola porquê pouco uso o “esse x” hoje em dia mas, chegou um momento que acabou a graça e a coisa ficou tão apelona (não que já não fosse né? mas, conseguiu piorar, como tudo ligado ao ser humano) que eu perdi paciência até pra dar aquele risinho de canto mas, a coisa ia de vento em popa sendo repostada por páginas de humor mundo afora. Com certeza não era só eu que via que tava sendo feito de besta ali mas, em nome de humor porque não né? é a diminuição da inteligência de uns poucos nesse mundo e aumento cada vez maior da idiotização da população como um todo… nesse ritmo onde a gente vai chegar? no coração das trevas das grandes massas de gente atualmente ligadas 24h nas redes sociais só nos resta algo:
– O horror, o horror!
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Concordo 100%. Infelizmente por muito tempo na minha vida concordei com coisas estúpidas e sem sentido, só pra ficar bem no grupo social e por isso sempre tive muitos amigos, mas eu sabia que no momento que eu abrisse minha boca muitos iriam embora. Hoje em dia, felizmente, estou perdendo esse medo de ficar sozinho. Quero ser livre para dizer o que eu penso.
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Será que em Cingapura, Coreia do Sul ou Japão, as pessoas inteligentes sentem-se solitárias, sendo que, de um modo geral, a população é muito inteligente? Ou há algo que eu não esteja sacando? 🤔
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