A moderna invenção para captar água que já existia antes

Como sempre, políticos aproveitam-se da ignorância das pessoas (eu prefiro achar que esses políticos não são débeis mentais, já que político não se confia). Recentemente, um desses idiotas mostrou uma grande inovação do povo simples do interior e altamente sustentável: cisternas. Quanta inovação, teria pensado um mesopotâmio.

Como você deve saber, a Mesopotâmia está no lado leste da região chamada de “Crescente Fértil”, onde a agricultura floresceu e as primeiras civilizações nasceram há mais de oito mil anos. Na planície aluvial da Baixa Mesopotâmia, os habitantes desenvolveram complexos sistemas de irrigação, já que a água não estava sempre disponível o ano todo. Na Alta Mesopotâmia, a agricultura era possível sem ter o auxílio de irrigação, graças a chuvas constantes.

Um complexo sistema de canais e obras hidráulicas se desenvolveu, com a dupla função de garantir a irrigação e ser usado como cursos d’água. O controle da água, por causa disso, foi decisivo como forma de garantir a prosperidade econômica, mas também foi uma fonte de conflitos interestatais e uma ferramenta política. Quem controla a água, controla o reino.

As cisternas mais antigas já encontradas datam de cerca de 4000 A.E.C. na região de Israel, Jordânia e Líbano; e desde aquela época, a tecnologia e o design das cisternas permaneceram relativamente inalterados desde a sua criação, já que não tem muito o que aperfeiçoar numa coisa que existe só para captar e conter água para ser usada mais tarde, de preferência para abastecer grande número de pessoas.

As primeiras cisternas assumiram a forma de pequenas escavações revestidas de gesso sob a casa. Havia um sistema que coletaria água da chuva para as necessidades diárias, enquanto as cisternas posteriores são comumente caracterizadas por grandes estruturas de concreto semienterradas ou acima do solo, a fim de fornecer pressão natural de água a uma torneira interna.

Em Israel, uma enorme cisterna de 250m³ foi encontrada em 2012, próximo ao Muro das Lamentações, datando do primeiro Templo. Isso dá em torno de 3000 anos de idade. As paredes da cisterna foram completamente rebocadas, da mesma forma que outras cisternas do mesmo período encontradas em diferentes áreas de Israel, incluindo Bet Shemesh e Be’er Sheva.

Saindo de Israel e indo para a região do Indo, temos o reino de Harappa, que floresceu em torno de 2600-1700 A.E.C., banhada pelos rios Indo e Sarasvati, além de seus afluentes. Harappa tinha uma área que cobria cerca de 1,25 milhão km², quase chegando ao tamanho do estado do Amazonas, com seus 1,57 milhão km². Eu já tinha falado sobre o povo de Harappa quando escrevi sobre o Pilar de Delhi.

O auge de Harappa se deu entre 2.600 A.E.C. a 1900 A.E.C., com uma população estimada em mais de 5 milhões de pessoas, o que é algo considerável naquela época. Uma das suas cidades mais importantes era Lothal, situado perto da aldeia de Saragwala no Dholka Taluka do distrito de Ahmedabad, sendo um importante centro comercial e próspero, que negociava contas, bainhas e ornamentos valiosos, que chegavam aos cantos mais distantes da Ásia Ocidental e da África. As técnicas e ferramentas pioneiras na fabricação de contas e na metalurgia resistiram ao teste do tempo por mais de 4.000 anos.

Como água é uma necessidade, poços e cisternas foram abertos e entre eles está o Poço de Lothal, que ainda hoje está lá. Ele possui uma profundidade de cerca de 6 metros e foi muito importante na captação de água da região.

Uma das mais maravilhosas obras de arte arquitetônicas para acumular água é o Chand Baori. Localizado no extremamente árido estado de Rajastão, este não é apenas um poço, mas um magnífico exemplo da grandiosidade do povo do Indo. Rata-se de um poço profundo de quatro lados com um grande templo localizado na parte de trás dele, com 30 metros de profundidade. O Chand Baori possui exatos 3.500 degraus estreitos em 13 andares, cuja parte mais antiga fica em torno do ano 800 E.C., e demorou muito, mas muito tempo para ser terminado, cuja data se perdeu nas brumas do tempo. Algumas coisas, entretanto, se sabem. Seu nome é em homenagem ao governante local da dinastia Nikumbh chamado Raja Chanda.

Com a ocupação inglesa, o pessoal do Tâmisa achou que aquela água era infecta e fecharam para que ninguém tivesse acesso àquela água, mas essa é a história oficial. Leiam mais acima: quem controla a água controla o reino. O problema é que os ingleses não tiveram como controlar a água e um surto de cólera assolou a Índia e as regiões em volta.

Para terminar, temos o mais antigo poço encontrado até hoje. Durante a construção de uma autoestrada na região da Boêmia Oriental perto da cidade de Ostrov, na República Checa, os arqueólogos escavaram uma estrutura de um poço de água com uma área de base quadrada de 80 × 80 cm e 140 cm de altura.

Devido ao excelente estado de conservação das madeiras de carvalho em volta do poço, foi possível datar a madeira por meio dos anéis das árvores (dendrocronologia). As árvores utilizadas foram derrubadas mais ou menos no ano 5256 A.E.C., o que torna este poço a construção arqueológica de madeira mais antiga do mundo.

Então, quando você vir um político tirando onda como se fazer poços ou criar cisternas fosse algo novo, mande-o à merda. A História da Humanidade tem muito mais que oportunistas e populistas. Claro, continuarão tratando esse pessoal como deuses, enquanto um velho registra numa tábua de argila a maravilha de ter água perto de casa.

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