O quadro acima é do volume de Sandman, quando ele conversa com Hob séculos depois de ele e a Morte terem-no feito imortal. O tiozão reclama das chaminés, pois antigamente erra melhor. Antigamente sempre era melhor. Falam isso usando a mais moderna tecnologia para espalhar aos 4 ventos que antigamente era melhor.
Todo mundo uma hora ou outra pensa “antigamente era melhor”. Até eu penso. Mas quando olho para o mundo hoje, penso que o que é muito melhor hoje compensa o que era bom ontem. A despeito do que falam, o mundo está a cada dia melhor. A mortalidade infantil caiu vertiginosamente, o número de pessoas vivendo em extrema pobreza está diminuindo.
Está em valores ótimos? Não, mas depende do lugar. Nos rincões da África, líderes tribais impedem acesso de medicamentos, médicos e assistência, pois eles precisam que haja os pobres e miseráveis para poderem se manter no poder.
O que falam sobre os tempos de antigamente fazem isso de uma memória afetiva de suas infâncias. Como não gostar de ir à quitanda do seu Manoel comprar doces e balas naqueles baleiros giratórios? Como não se lembrar com carinho do seu Damião e sua loja de aviamentos ou o Pereira, dono do armazém onde fazíamos compras? Sim, lembramos com carinho dessas figuras do passado, assim como lembramos das frutas suculentas que comíamos ou das árvores de nossas ruas que hoje já não existem mais, porque árvore suja e a própria prefeitura não quer o custo da manutenção, metendo cimento em tudo. Mas isso não significa que tudo antigamente era melhor. Não era.
Alimentos são produzidos em maior escala, temos maior oferta de produtos e serviços, a medicina deu saltos, temos acesso à informação e tecnologia que facilita a vida de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Tinha coisas melhores no passado? Sim, mas somando tudo, prefiro o que temos hoje.
Não vivemos no futuro, vivemos o dia de hoje com a tecnologia avançada de hoje, a qual propicia que pessoas possam usar tecnologias de hoje para dizer que antes era melhor, mesmo sem ter vivido o antes, numa paradoxal idiotice.
Não tem como não ler esse texto sem se lembrar daquele vídeo do saudoso Hans Rosling mostrando o que aconteceu com 200 países no período de 200 anos.
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Ultimamente eu tenho achado que essa nostalgia tem a ver com a percepção da pessoa sobre si mesma e não sobre o tempo propriamente dito. Ninguém dirá, por exemplo, “tenho saudade de fazer fila na escola pra tomar a vacina da polio” porque essa parte da infância não é relevante, mas a bala do seu Manoel é. A pessoa se lembra do tempo que a única preocupação dela era escolher bala de morango ou tutti-frutti. Ou do tempo em que chegava da escola e via TV Globinho. A noção do progresso tecnológico nem chega ao consciente porque a nostalgia, no fim das contas, é sobre quem ela era no passado.
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Realmente, muitas vezes associamos apenas a memórias boas, mas vai dar um surto de SARS-CoV-2 em 1911, junto da gripe…
Ou quem sabe uma varíola turbinada séculos antes da descoberta das vacinas?
Pessoal hoje pede comida pelo celular, enquanto desconhece a dificuldade de ir até a aldeia mais próxima TENTAR roubar o mamute que os vizinhos conseguiram.
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