Não se podia ver o que fosse: era como uma grande sombra, no meio da qual havia uma forma escura. Poder e terror pareciam estar nela e ao seu redor. A luz se apagou, como se uma nuvem tivesse coberto tudo. As chamas bramiram para saudá-la, e se ergueram à sua volta; uma nuvem negra rodopiou subindo no ar. A cabeleira esvoaçante se incendiou, fulgurando. A figura escura era envolvida em fogo.
O parágrafo anterior pode muito bem ser confundido com um excerto do Senhor dos Anéis (dica: é), mas ele tem mais a ver com o mundo real. Com o mundo da força estrondosa da Natureza. Com o mundo flamejante dos vulcões.
Na primeira quinzena de fevereiro deste ano, o Etna, aquele cuspidor de fogo e lava da Sicília, não parecia estar fazendo nada; mas era questão de tempo. Entre os dias 16, 18 e 19 de fevereiro, a coisa ia mudar de figura e uma coisa era certa: O Etna ia explodir colocando toda a sua fúria para fora, o que é bem inusitado, já que o distinto vulcão parece funcionar como um reloginho, mas tinha algo errado. Não estava acontecendo nada.
No dia 20, pesquisadores e moradores em volta daquela montanha de mau-humor viram o poder oculto do interior da Terra mostrar a sua ira. Jatos de material incandescente eram cuspidos com violência para fora do cume, bem acima do leste da Sicília. Uma fina língua de lava emergiu um pouco mais tarde, e um jato de rocha derretida subiu algumas centenas de metros. O que parecia inusitado virou terror à 1h30. Explosões violentas lançaram bombas vulcânicas do tamanho de geladeiras do pico. A lava jorrou mais de um quilômetro de altura, com o vulcão sendo iluminado por uma brilhante luz alaranjada de material hiperaquecido a muitos milhares de graus Celsius.
O que sobe, tende a descer e veio… como uma chuva de fogo, horror e destruição. A imensa torre de cinzas de mais de 9 km de altura, mais alto que o Everest. O vulcão rugia com ferocidade e as pessoas em volta estavam com medo. Na noite do dia 22, fontes de lava jorravam o material a quase 2 km de altura, num belo, terrível e flamejante jorro de magma que se caísse em você, não sobraria nem os ossos. Se aquilo não era o Inferno, era bem próximo disso, ou o Diabo seria capaz de sentir medo também.
O Etna é um vulcão pra lá de invocado, mesmo para o padrão “vulcões”. Ele está hiperativo há mais de 3.500 anos, com erupções intensas historicamente documentadas. Ele não para. É sua fúria avassaladora e fascinante. Terrível e interessante. Arrasadoramente horrível, mas ao mesmo tempo um campo de estudo para entender melhor o nosso planeta.
A seguir, vídeos registrando a erupção do Etna em diferentes momentos entre 16 e 21 de fevereiro de 2021.
Um evento magnífico de se ver, de preferência bem de longe.
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A realidade dá mais medo que a ficção.
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