No universo das pequenas coisas, você precisa fazer um estardalhaço com algo que não tenha efeito nenhum, de forma a fingir que trabalha e mostra serviço. Nada é mudado mas você tira onda que está fazendo muito por todos, quando efetivamente não está fazendo nada para ninguém. É com base nisso que se baseia esta proibição imbecil dos canudos de plástico no Rio de Janeiro. Motivo? “Ain, o meio-ambiente lindinho não pode ser emporcalhado por causa desses malditos canudos”. Que nem a foto ao lado mostrando a imensa quantidade de canudinhos de refrigerante.
Mas, Oh!, nós sabemos muito bem o verdadeiro motivo por trás disso.
É tudo uma questão de propaganda política fingindo que está trabalhando. Enquanto a cidade do Rio de Janeiro está imunda, com uma coleta de lixo ineficiente, o prefeito tomando processo de impeachment pela fuça (e se livrando tranquilamente), já que anda fazendo favorzinhos pros seus amiguinhos de igreja e a Baía de Guanabara continua sendo a Baía da Guanabara, em que nem precisa mais ponte, já que, em breve, poderemos asfaltá-la e os carros poderão passar por cima e ir até em Niterói (não sei fazer o que lá, já que a única coisa que presta em Niterói é a vista pro Rio), a preocupação é com esses monstruosos canudinhos de plástico.
Todo mundo que defende esta proibição retardada mostra aquela foto (ou vídeo) de uma tartaruga com um canudo dentro das vias respiratórias. Chocante.
Mas deixe-me perguntar uma coisa: que canudinho de plástico é esse que precisa ser cortado (com dificuldade) com um alicate de corte. Se você já viu algum canudo de pRástico, sabe que eles são bem flexíveis. No momento 2min05s, o que eles tiram parece tudo (inclusive um graveto), mas não um canudo de plástico. Mesmo que for, sabem o que isso significa? Nada. Isso sequer foi aqui. Mas calma, vem coisa mais desagradável. Não precisa me xingar agora. Vou dar mais motivos ainda.
A massa de um canudinho de plástico é cerca de 0,63g ou 0,00063kg. A produção de resíduos sólidos urbanos brasileira é de 1,05kg per capta por dia. Ou seja, seria preciso você tomar 1667 refrigerantes na rua por dia para produzir este tanto de canudinhos e estes serem jogados no ambiente. Sendo que se vai para o ambiente, a culpa não é sua e sim do sistema de coleta de lixo ineficiente, mas, como sempre, a culpa sempre é jogada na população, como foi quando aboliram as lâmpadas incandescentes, pois elas gastam muita energia. O país não investe em novos sistemas de geração de energia, não repotencializa os que já estão e muito menos moderniza as linhas de transmissão. Da mesma maneira, o problema da falta d’água foi por culpa das pessoas, não porque 50% de toda água urbana com fins de abastecimento da população é perdida por vazamentos de tubulações tão velhas quanto meus avós (isso não foi uma hipérbole. É exatamente isso. Tem manilhas e tubulações ainda da década de 30-40 por aí); além de terem “esquecido” de dizer que o consumo de água potável por parte da população é apenas ridículos 3%. A maior parte é gasta na agricultura, seguido de perto por setores industriais.
Como tudo é feito para fazer um estardalhaço de forma a culpar a população por tudo e, em seguida, punir esta população, de forma que tudo continua a mesma coisa, mas as pessoas se “conscientizem”, ficando tudo na mesma, inventaram que canudos plásticos acabar com o planeta. Aí mostram de novo o vídeo ou a foto desta bosta de tartaruga, evidenciando que não há outros exemplos, e muito menos no Brasil.
Nesta galeria de fotos da Folha, vemos a absurda quantidade de canudinhos plásticos acabando com a Baía da Guanabara.
Bem, não vi nenhum, mas vi muitos móveis e bonecas. Não seria o caso de proibir que se vivenda móveis e brinquedos? E aqueles sachês de catchup e mostarda? Eles têm maior quantidade de plástico do que canudinhos. Não seria melhor acabar com aquilo e voltarmos às velhas bisnagas que ficavam nos botecos para nos servíssemos à vontade, antes de começarem com a mendigaria e colocar estes sachês do Inferno? Aliás, para onde vão esses sachês depois de usados e jogados no lixo? Desaparecem magicamente e vão parar em Nárnia?
Você comprou um refrigerante? Vai beber direto na lata. Afinal, é muito seguro fazer isso, com higienização total. Ou, então, usar copo de plástico. Esses copos de plástico são feitos com plastiquinho do bem. Ou então copos de vidro. Daí gasta-se mais dinheiro para lavar e higienizar o copo.. o fato dele poder cair, quebrar e cortar as pessoas é irrelevante. Vamos salvar a tartaruguinha com graveto, digo, canudo de pRástico na fuça.
O Globo fez uma reportagem e, para variar, veio com aquelas “entrevistas” de gente dando total apoio à medida. Rolou até fanfic da criancinha jogando canudo no chão e veio aquela correção imediata, com papai dizendo que ele pagou então poderia fazer o que quiser. Curiosamente, não escutaram o outro lado. Qual outro lado? Que tal pessoas que possuem tetraplegia, foram vítimas de derrame ou algum acidente que as obriga a recorrer a canudos pois não conseguem beber diretamente num copo? Chegaram até a fazer um infográfico de como as “alternativas” podem machucá-los.
Não, isso é irrelevante. Essas pessoas não contam. A tartaruguinha com graveto, digo, canudinho de pRástico na fuça merece maior atenção.
Claro, você vai alegar que existem canudos biodegradáveis. Eles só custam dez vezes mais (adivinhe quem pagará por isso). Viram o padrão? Trocar tomadas, economizar água (para depois ganhar aumento, porque as companhias de água tiveram queda na arrecadação), ecobags… todas essas lindas mudanças obrigando a gastar bem mais, com efeito ZERO! No lance das ecobags, também criaram um inferno contra as sacolas de supermercado. Você que comprasse uma ecobag (cuja produção era mais poluente), e se quisesse embrulhar lixo, comprasse sacos de lixo, também feitos com aquele plástico mágico que não afeta o ambiente.
O Rio de Janeiro não tem coleta seletiva de lixo. Tudo vai pro mesmo lixão. Investir nisso sai muito caro. E mesmo assim, temos sorte. Nem de longe o Brasil é o país com maiores índices de poluição jogada no ambiente. É, pois é. Os países que mais poluem são China, Indonésia, Filipinas, Vietnã e Tailândia; e acho que o problema lá não é bem o canudinho de pRástico vendido com uma latinha de refrigerante na praia. De novo, é a implantação da ideia que a culpa do mundo estar uma droga é toda nossa.
Propagam isso, mas não há uma política mais série de limpeza urbana de forma generalizada. Na Zona Sul é tudo lindo e maravilhoso. Vai para os subúrbios e veremos que não e bem assim. Se bem que os fiscais não irão verificar a dona Zuleide, num boteco em Olaria. Não dá pra arrumar um dinheiro junto a ela para não multar. Melhor mesmo é Zona Sul, onde tem turista e rola mais grana. Mas e a Baía da guanabara? Quando começará o processo de despoluição? Estou ouvindo isso há décadas e nada. Melhor mesmo é protegê-la dos nefastos canudinhos.
Depois disso tudo, eu posso tranquilamente dizer que eu não estou preocupado. Ninguém vai impedir camelô de oferecer canudo de plástico, assim como a proibição de dar sacolas plásticas já caiu no esquecimento. Dá para comprar álcool 96ºGL e lâmpadas incandescentes. Essa do canudinho é apenas mais uma imensa baboseira para um ano de eleição que daqui a pouco cairá no esquecimento e ninguém se importará.
Deficientes físicos e pessoas que sofrem de doenças debilitantes agradecem.