Ser jornalista é algo complicado. Tem que achar uma matéria suculenta, fazer pesquisa, investigar, entrevistas milhões de pessoas, escavar, catar dados, redigir a matéria, tomar esporro porque não veio com fotos do Homem-Aranha e, por fim, consegue uma matéria bombástica, para depois ser desacreditado, ameaçado, perder o emprego, enveredar pro álcool, perder a família e ser assassinado num quarto de motel barato (aprendi isso com os filmes).
Já ser jornaleiro é muito mais fácil. Pega uma pesquisa com conclusão na base do erro estatístico e vende como o Apocalipse culinário, a morte em vida, a geração zumbi do inferno e todo mundo prestes a morrer de forma horrível porque comeu um bife.
Tudo começa quando meus espiões me aparecem com a notícia que diz que um “estudo vincula consumo de carne vermelha a inflamação intestinal”. O primeiro parágrafo é taxativo:
Os homens que consomem muita carne vermelha sofrem com mais frequência de um tipo comum de inflamação do intestino, chamada diverticulite, revelou um estudo publicado nesta terça-feira.
Mulheres não? Só homens? Hummmmm
O estudo comparou o grupo composto por 20% dos participantes que consumiam mais carne vermelha com os 20% que consumiam menos, e concluiu que os casos de diverticulite foram 58% mais numerosos no primeiro grupo, explicaram os pesquisadores, em sua maioria acadêmicos da Universidade de Harvard.
Deixe-me ver se entendi: Tinha um grupo de pessoas que foram acompanhadas. Separaram em 2 grupos. Os que comiam carne vermelha e os que não comiam. Do grupo que comia carne vermelha, separaram em 3 grupos? Os que comiam muita carne (20% do grupo), os que comiam muito, muito pouca carne vermelha (outros 20%) e o grupo que consome moderadamente (o restante, ou seja, 60%). Desses que consomem muita, muita carne vermelha, há uma maior incidência de casos de diverticulite.
Ok? Entenderam?
De acordo com a Reuters, numa grande mostra de jornaleirismo preguiçoso até para escrever:
Researchers examined more than two decades of data on more than 46,000 men and found frequent red meat eaters were 58 percent more likely to be diagnosed with diverticulitis, a common bowel condition that occurs when small pockets or bulges lining the intestines become inflamed.
Pesquisadores examinaram por mais de duas décadas dados sobre mais de 46 mil homens e determinaram que frequentes comedores de carne vermelha possuem 58% mais probabilidade de serem diagnosticados com diverticulite, uma condição intestinal comum que ocorre quando pequenos bolsos ou protuberâncias intestinais se inflamam.
O dr. Andrew T. Chan é médico e chefe do Departamento de Gastroenterologia do Hospital Geral de Massachussets. Ele acompanha uma pesquisa de longa data. Entre 1986 e 2008, vários pacientes são acompanhados sendo estudados em termos de saúde versus hábitos alimentares. Quantos? 37.698 homens. Já pacientes mulheres somaram 83.644 numa pesquisa de 1980 a 2008 (não, não era a mesma pesquisa). Toda a pesquisa foi feita nos EUA.
Os resultados preliminares apontaram 23.926 mortes documentadas (por várias doenças) num espectro de 2,96 milhões de pessoas-ano. Após ajustes multivariados para os principais fatores de risco de vida e dietéticos, a razão de risco combinada e o intervalo de confiança de 95% da mortalidade total foi de 1,13 para aumento de 1 porção por dia de carne vermelha não processada e 1,20 para a carne vermelha processada. Chan e seus colaboradores estimaram que as substituições de 1 porção por dia de outros alimentos (incluindo peixes, aves, frutos secos, leguminosas, laticínios com baixo teor de gordura e grãos integrais) para 1 porção por dia de carne vermelha foram associadas a um decréscimo de 7% a 19% no risco de mortalidade. Também estimaram que no final do seguimento, 9,3% das mortes de homens e 7,6% de mulheres em nossas coortes poderiam ser prevenidas se todos os indivíduos consumissem menos de meia porção de carne vermelha.
Levando em conta a alimentação do americano médio, dá pra entender esses números, quando sua alimentação altamente gordurosa e de baixo teor de fibras alimentares fazem com que seus intestinos fiquem uma bosta. Obviamente, vegans adorarão a manchete e replicarão a torto e direito, ignorando a parte que os pesquisadores recomendam a ingestão de carnes de peixes e aves, além de laticínios. Tudo vindo de origem vegetal, imagino.
A conclusão inicial diz:
O consumo de carnes vermelhas está associado a um risco aumentado de mortalidade total, por doenças cardiovasculares e câncer. A substituição de outras fontes saudáveis de proteína pela carne vermelha está associada a um menor risco de mortalidade.
Ok, mas vamos LER o trabalho publicado no periódico GUTS:
Em 22 anos de pesquisa (758.524 homens), nós documentamos 8.926 mortes, das quais 2.716 foram mortes por doenças cardiovasculares e 3.073 foram mortes por câncer. Com até 28 anos de pesquisa (2.199.892 mulheres), nós documentamos 15.000 mortes, das quais 3.194 foram mortes por doenças cardiovasculares e 6.391 foram mortes por câncer. Homens e mulheres com maior consumo de carne vermelha eram menos propensos a ser fisicamente ativos e mais propensos a ser fumantes, beber álcool e ter maior IMC. Além disso, uma maior ingestão de carne vermelha foi associada a uma maior ingestão de energia total, mas menor ingestão de grãos integrais, frutas e legumes. O consumo de carne vermelha não processada e processada foi moderadamente correlacionado. No entanto, o consumo de carne vermelha foi menos correlacionado com a ingestão de aves ou peixes. Durante o seguimento, a ingestão de carne vermelha diminuiu em homens e mulheres. Por exemplo, a ingestão média de carne vermelha não processada caiu de 0,75 para 0,63 por cento da dose entre 1986 e 2006 nos homens e de 1,10 para 0,55 por cento da dose entre 1980 e 2006 nas mulheres.
De acordo com esta conclusão, quem come carne vermelha tem maiores tendências a fumar e beber álcool? Deve ser. Vamos examinar os números. Em 28 anos, o número de mortes femininas somou 0,68% dos pacientes (lembrando que não só comem carne vermelha, como o resto da dieta é ruim, fuma e bebe álcool). No caso dos homens, em 22 anos, 1,18% morreram com doenças que foram associadas à ingestão de carne vermelha (homens que também fumavam e bebiam bebida alcoólica, mas estes números exatos não estão na pesquisa).
Entendam, eu não estou dizendo que carne vermelha (processada ou não) é 100% saudável. NADA É! Mas pesquisa com uma conclusão dúbia e manchetes de jornal que tascam logo uma notícia dando a entender que se comer um bife você contraiu câncer e diverticulite até o fim do dia contribui para desinformação. Não que jornais primam por querer informar, claro.
E lembrem-se: Estatística é a arte de torturar números para que eles confessem o que você quiser; além disso, associação não é causa, ou teremos o caso que investimentos em Ciência & Tecnologia estão diretamente associados com enforcamentos, estrangulamentos e sufocações.
Uma tendencia constante ”olha estou aqui manipulando dados mas é por uma boa causa, publico uma baboseira vai pro meu currículo e cumpre as minhas metas com a universidade, a mídia divulga e agrada o patrocinador pela repercussão, pessoas acreditam e repensam seus hábitos diminuindo a demanda por recursos naturais, todo mundo ganha”, fazer e falar merda em nome do bem e do futuro das criancinhas ta liberado, e vai acabar enterrado no meio de todo lixo de desinformação.
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Afff… quanta baboseira. Assim fica bem fácil enfiar as conclusões nos incautos. Tipo o portuga arrancando as pernas da aranha e mandando ela andar. Quando arrancou a última e ela ficou parada, concluiu que as aranhas ficavam surdas sem as pernas.
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O ser humano é melhor adaptado a carne branca de animais de pequeno porte. Somos seres fracos, sem garras nem nos dentes nem nas mãos, de locomoção lenta, corredores fracos, sem agilidade, tornando-nos impróprios para a caça de grandes animais. Eu acho pouco provável que nossos primeiros antepassados consumissem carne vermelha de animais de grande porte. Isso não quer dizer que sejam impróprias ou mortalmente proibidas. As doenças transmitidas é devido a hormonização e qualidade parca dos alimentos dos animais em questão.
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O ser humano é melhor adaptado a carne branca de animais de pequeno porte.
Fonte?
Somos seres fracos, sem garras nem nos dentes nem nas mãos, de locomoção lenta, corredores fracos, sem agilidade, tornando-nos impróprios para a caça de grandes animais.
Senhora, nós temos tecnologia.
Eu acho pouco provável que nossos primeiros antepassados consumissem carne vermelha de animais de grande porte.
Caçadores de mamutes discordam.
Isso não quer dizer que sejam impróprias ou mortalmente proibidas.
So…?
As doenças transmitidas é devido a hormonização e qualidade parca dos alimentos dos animais em questão.
Releia o artigo, sim?
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“Somos seres fracos, sem garras nem nos dentes nem nas mãos, de locomoção lenta, corredores fracos, sem agilidade, tornando-nos impróprios para a caça de grandes animais.
Senhora, nós temos tecnologia.”
Né?! Acho curioso quando vêm com essa conversa de que não deveríamos comer animais de grande porte, pois apenas fazemos isso por causa de nossas armas e armadilhas de caça. Isso seria o mesmo que dizer para o leão apenas caçar a zebra, despido de unhas e dentes.
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Nesse caso teria que dizer pra moça parar de tecer esse tipo de comentário na Internet. Afinal ela só faz isso por causa de nossos computadores e smartphones…
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