Eu sou um homem velho. Me lembro do seriado (na minha época, eram chamados assim, e não “série”) do Homem de 6 milhões de dólares (que a dinheiro de hoje vale mais em moeda brasileira do que na época que foi lançado). De acordo com o seriado, ele enxergava que nem a gente. Já, no século XXIV, a tecnologia parece que ficou pior, posto que o tenente-comandante Geordi La Forge usava o VISOR e enxergava uma algaravia de cores, que ele conseguia interpretar muito bem.
Mas e no alvorecer do ano de 2016, o que temos para mostrar? Como os nossos atuais olhos biônicos “enxergam”?
A drª Ione Fine é professora adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade de Washington. Seu foco de estudo são os mecanismos de plasticidade no cérebro humano, principalmente em saber como
No estudo da drª Fine, usa-se simulações visuais do que alguém com visão restaurada pode ver. O que ela descobriu é que a visão fornecida por tecnologias de recuperação de visão pode ser muito diferente do que cientistas e pacientes tinham assumido anteriormente.
YOU DON’T SAY!
Sim, é isso mesmo. Antes as pessoas, médicos e pacientes, achavam que as cirurgias restauravam parte da visão, mas no conceito como as pessoas tinham antes. Mas não é assim. A pessoa vê, mas PENSA que vê como antes. O cérebro, este sacaninha, aprontando mais uma.
A verdade é que as atuais próteses permitem a visão estimulando células sobreviventes com uma matriz de eletrodos colocados na retina, além de usar optogenética, em que algumas proteínas são inseridas nas células da retina sobreviventes para torná-las sensíveis à luz. Obviamente, nunca seria igual.
Fine um artigo no periódico Philosophical Transactions B, mostrando como os pesquisadores usaram simulações para criar vídeos curtos que imitam o que seria como a visão depois de dois tipos diferentes de terapias de recuperação de vista. Os resultados mostram um pouco do lampejo do óbvio: as imagens jamais ficaram iguais. Mas se ninguém fizer os testes e publicar os resultados, como fica? Liminares a torto e a direito ordenando a distribuição de um equipamento sem nenhum teste? A drª Fine não parece ser uma pseudopesquisadora idiota e irresponsável que concordaria com isso.
O problema é que o estímulo elétrico nas células bastonetes e cones por via artificial não são idênticas ao que o nosso corpo faz naturalmente. Além disso, as estimulações por via optogenética ainda estão limitadas no número de diferentes tipos de células que podem ser estimuladas, o que acaba ficando uma zona dentro do cérebro, e este tem que montar a imagem de qualquer jeito. Ou seja, estamos mais para o tenente-comandante La Forge do que Steve Austin.
Mas tem um detalhe: La Forge e Austin não fizeram tratamentos dentro do olho. eles tinham implantes que captavam a imagem e jogavam direto no cérebro. Que tal isso? Futurístico, não? Bem, o dr. Arthur Lowery, da Universidade Monash em Clayton, Victoria, Austrália, até concordaria que isso está pro futuro, mas ainda para este século… se bem que o Homem de 6 Milhões de Dólares era do século passado, mas disperso-me.
Lowery é especializado em comunicações ópticas, sistemas e circuitos fotônicos (esse caprichou no Star Trek) e simulação de visão biônica.
Lowery e seus colaboradores estão desenvolvendo um novo tratamento para a deficiência visual que não envolve a reparação dos olhos ou sistema visual. Ele resolveu ir por outro caminho. LITERALMENTE! Se o sistema de captação de imagem que 3 bilhões de anos de evolução biológica lhe deu está dando pau, que tal dar um balão nisso e fazer uma espécie de bypass?
*bypass, que em português simplificado significa: gambiarra.
A tática, então é empregar óculos com uma câmera embutida (lembraram de alguém?), que capta as imagens e manda para um implante que irá estimular o córtex visual, com o emprego de uma matriz de minúsculos eletrodos.
Isso pode parecer algo copiado de tentativas anteriores, mas diferente do que vem se trabalhando até agora, o trabalho do dr. Lowery corre direto para estimular o córtex visual, ignorando os olhos e sistema visual totalmente.
Gostaram? Querem mais? Que tal olhar o site dos pais da criança?
Como é maravilhoso a Ciência bem feita conseguindo com que pessoas possam enxergar de novo. Ela não enrola ninguém esfregando terra e mandando ficar calados, nem inventa pesquisas sem comprovação.