Vocês aprenderam na escolinha de tia Teteca que os rins filtram o sangue. O sangue ruinzão entra, é filtrado e sai sangue bão, com as impurezas e toxinas indo parar no seu glorioso xixi. Você tem dois rins e se cuidar bem deles, os terá por muito tempo. Se a sua função renal cair, existem tratamentos e até mesmo se suas capacidades de filtração estiverem a 50%, você pode viver uma vida (quase)normal. Por isso que pessoas com apenas um rim podem viver bem. Entretanto, quando a função renal cai abaixo disso, meu filho, você tá com um problemão, e quando chega a 10 ou 20%, você é mandado pra hemodiálise. Algo demorado e nada confortável.
Com tecnologia aeroespacial, uma equipe interdisciplinar de pesquisadores do Reino Unido projetaram uma fístula arteriovenosa com melhores padrões de fluxo (sem capacitores) de sangue, de forma a salvar mais vidas de pacientes.
Obviamente, você está quicando na cadeira para saber que raios é uma fístula intravenosa. Bem, nada mais é que uma fístula na veia! Isso deveria ser o suficiente para qualquer um, mas você não é qualquer um. Se fosse, estaria lendo a coluna de Ciência do G1 ou, deuzolivre, a Superinteressante.
Uma fístula arteriovenosa é uma conexão anormal entre uma artéria e veia. Ela naturalmente não deveria estar ali, mas alguns problemas congênitos pode acarretar isso, o que acaba fazendo com que alguns tecidos não sejam irrigados de sangue. Essa fístula é como um taxista fazendo bandalha, e não te deixando onde você precisaria estar, só porque você não deu gorjeta. Bem, você também pode fazer uma bandalha quando for extremamente necessário, como fugir de um tiroteio na Avenida Brasil. Mesma coisa com a fístula arteriovenosa.
E o que a hemodiálise tem a ver com isso?
EXCELENTE PERGUNTA!
Você sempre ouve falar de hemodiálise, que é aquele troço que filtra o sangue e parte direto pros gols da rodada. Bem, a máquina de hemodiálise pega o sangue do paciente por um acesso vascular, que pode ser um cateter – que nada mais é que um tubo com nome gourmet – e depois bombeia o mesmo até o filtro de diálise, que se chama "dialisador",. Lá, o sangue é exposto à solução de diálise (dialisato) através de uma membrana semipermeável, a qual retira o líquido e as toxinas em excesso e devolve o sangue limpo para o paciente pelo acesso vascular.

Essa coleta de sangue pode ser feita através de uma fístula arteriovenosa, também.
E o que a ciência de foguetes tem a ver com isso?
Cara, tu só faz pergunta maneira!
O dr. Peter Vincent tem um laboratório no Departamento de Aeronáutica do Imperial College London e trabalha no Conselho de Pesquisa de Engenharia e Ciências Físicas. Não, ele não é músico e muito menos o personagem da Hora do Espanto.
A equipe chefiada pelo dr. Pedro Vicente encontrou uma maneira de reconstruir um modelo melhor de fístula arteriovenosa pode diminuir a probabilidade de bloqueios, que é uma das principais complicações da diálise. O objetivo final é usar ferramentas de simulação computacional para projetar sob medida, com uma configuração de fístulas arteriovenosas específicas para cada paciente, otimizando o funcionamento.
Para fazer isso, os pesquisadores precisavam entender melhor como a curvatura arterial afeta o fluxo de sangue e padrões de transporte de oxigênio dentro da fístula arteriovenosas. Ao usar o software de simulação computacional desenvolvido originalmente para o setor aeroespacial, a equipe foi capaz de simular e prever os padrões de fluxo em várias configurações das fístula arteriovenosas, permitindo projetar fístulas arteriovenosas com muito mais padrões de fluxo naturais, reduzindo as probabilidades de falhas. A pesquisa foi publicada no Physics of Fluids.
Preciso dizer as implicações deste trabalho? Que tal você ter um serviço bem feito no seu encanamento, evitando ao máximo que você tenha problemas maiores que rins defeituosos? Ainda não temos as pílulas do dr. McCoy, mas ainda temos 2 séculos para conseguir. Enquanto isso, qualquer tecnologia melhor é uma melhor tecnologia.
