Eu sou um libertário (ou o mais próximo disso que se pode ser). Eu acredito que as pessoas tenham o direito de fazerem o que quiserem da vida, desde que não ferre com a vida de ninguém, nem violem leis previamente estabelecidas. O fato de eu me achar no direito de ouvir "música" do Mastruz com Leite bem alto não implica que meu vizinho tenha que compartilhar este desejo. Ainda nisso há a lei de crimes ambientais e ouvir som muito alto é, sim, crime, e não depende das 10h da noite.

Também acho que o que eu faço no meu computador em casa, como o configuro, como uso meus aparelhos etc só diz respeito a mim, e se você não gostou, bem, preciso dizer para onde deve ir? Tendo isso em mente, eu analiso as reclamações do pessoal que produz conteúdo (como eu) que fica enchendo o saco que usa meios para impedir veiculação de propagandas (tenho mais de 12 anos para ficar reclamando assim).

Sempre que se fala em monetização de qualquer coisa na Internet, sempre vêm com a história de como as pessoas estão erradas em usar o AdBlock, um add-on usado em vários navegadores que impedem o aparecimento de propagandas., seja sob a forma de texto, como o AdSense (que nem estes que aparecem aqui e eu sou impedido de implorar para que cliquem neles) ou mesmo burla aqueles segundos chatéééérrimos de propaganda no YouTube.

Vamos ser honestos: eu odeio propagandas, você odeia propagandas,. sua avozinha odeia propagandas. Quero saber se no meio do jogo do Brasil e Alemanha parassem a transmissão para veicular um comercial. Seria algo assim:

Zero para o Brasil, Zero para a Alemanha. David Luiz vem pelo meio, toca a bola pro Hulk, este se aproxima da área alemã e…. Então pessoal, absorventes Catchup recolhem tudo, absorvem tudo. Se você não quer ficar esquisita e se privar de usar calça branca em dias como o de hoje, use Absorventes Catchup e… E MAIS UM GOL DA ALEMANHA! Alemanha 5, Brasil, Zero. Pode isso, Arnaldo?

Ninguém gosta de propagandas, comerciais etc. Se gostassem, ninguém levantava para ir no banheiro nos intervalos.

– Madalena, traz o penico do Juquinha!
– Por quê?
– Por nada. Eu estou apertado, mas não quero parar de ver o comercial das Havaianas!

Said no one ever!

Aí, como as pessoas não gostam de propagandas (e, repito: tirando o Washington Olivetto, ninguém gosta de propagandas!), acabam apelando por subterfúgios, como o já mencionado AdBlock. O problema é que se o anúncio não é veiculado, ele não é visto, e muito menos clicado, e isso gera umas coisinhas desagradáveis. Então, separemos os argumentos:

1) Criador de Conteúdo

Criar conteúdo na internet é moleza e mantê-lo também. O problema é a qualidade. Qualquer zé ruela pode colocar uma página no "Feiçi" ou um bloguinho chumbrega no WordPress.com ou ainda algum vídeo no YouTube, gravado com celular. Como falei, o problema é a qualidade da apresentação até a qualidade DO material.

Existem muitos sites (como o meu, claro, que é o melhor site do Universo, em sua humildade) com excelente qualidade de material (ok, meu design não é lá essas coisas, mas é legível, que é o que importa), assim como temos muitos canais com excelente qualidade de vídeo, como é o Nerdologia, que eu já cansei de mencionar. Manter isso custa dinheiro, como hospedagem, domínio etc. Pior é o caso do SciCast, que precisa investir em servidores melhores, ou a bagaça cai. Dinheiro esse que não cobramos de você, amigo acessador (sim, eu sei que não existe. Guimarães Rosa criou neologismos. Eu também posso e você não vai me impedir!). A saída então é veicular umas propagandinhas, botões de doação etc. O acessador (muahaha) que não usa isso prejudica o site, prejudica o cara que anuncia, prejudica quem consome o conteúdo, pois chegará a um ponto que ficará inviável manter o serviço.

Assim, pelo menos, o cara deveria desligar o AdBlock no site da gente, no canal do YouTube da gente. No blog da gente, no whatever da gente, que vocês tanto adoram. Isso ajudaria a financiar todo o cuidado que temos para com vocês.

 

Só Que Não!

 

2) Consumidor de Conteúdo

Eu trabalho, pago minhas contas e resolvo comprar um computador, notebook, tablet, não importa. Eu pago meu acesso pela internet, luz etc. Eu tenho o direito de dizer o que eu faço com meu computador. Eu quero NÃO TER que assistir comercial. Se eu compro um Blu-Ray, ficarei muito irritado se no meio do filme aparecer anúncio. Já me irrita aquela palhaçada do FBI me ameaçando de prisão, sendo que eu paguei por aquela porcaria. É algo mais ou menos assim.

Até mesmo o cara que veicula anúncio odeia anúncio de qualquer espécie, mas a questão é: Pessoal, a hora que vocês pagarem pelos meus apetrechos, minhas contas e meu feijão TALVEZ, eu deixe que vocês me digam como usar as minhas coisas.

"Você desliga o AdBlock no meu canal e deixa ligado nos dos outros". Vergonha na cara é algo muito legal, vocês deveriam experimentar!

Mas… Mas… você colocou adeçensi aí!

Mas não estou enchendo o saco de ninguém. Quer usar AdBlock, cara: USE! Quer clicar no banner 999999999999 ganhador? Não me importo. Quer namorar a minha filha? AÍ A GENTE CONVERSA! (e farei uma proposta que você não poderá recusar).

Eu entendo que se queira ganhar dinheiro, ainda mais por vias honestas, como alguém que monta uma lojinha na esquina. Mas você não tem o direito de dizer pros seus clientes para não comprar no camelô, ou ele mesmo fazer aquilo que você vende (se fica bom, tosco ou uma merda comparado ao seu produto, é problema dele, o seu é se destacar).

Eu vejo isso tudo como dar gorjeta. Eu dou gorjetas… quando EU quero. Detesto ser obrigado a pagar os 10%. Se o serviço vem bom, vem 10%. Se for uma bosta, são 10%. Eu que tenho que pagar o salário do funcionário? Eu não dou caixinha de natal a ninguém. Ninguém me dá dinheiro por fazer o meu trabalho. Ninguém que estiver lendo aqui vai no colégio dar um agrado para os professores. Quando vão é por interesse, visando passar o aluno vagabundo. Ninguém parabeniza um professor pelo bom trabalho. Então, o cara faz um concurso público para gari, NÃO VARRE a sua rua, NÃO RECOLHE o lixo direito e no final do ano vem pertinho de mim para eu não esquecer as festas dele? E as MINHAS festas?

Agora, surgiu o Patreon. Você cria um cadastro, escolhe alguém e passa a ser o "patrão" dessa pessoa, pagando uma quantia por mês. O próprio Paypal tem este sistema, apesar do forte do Paypal ser doações únicas, mas que alguém pode continuar doando. No caso do Patreon, o favorecido promete… sei lá, uma camisa, conversar com o patrocinador, qualquer coisa neste sentido (mas não é obrigatório). Cria-se planos de doação e você escolhe o que fica bem no seu bolso. Doação é feio? Harvard aceita doações de qualquer um. Até EU já recebi doações. Se eu, que sou eu, fui merecedor de uns caraminguás que me deram (e ainda hoje recebo, nem que seja 5 reais, o que é muito na minha opinião, pois a pessoa gostou do trabalho e contribuiu com o que pôde), imagine as "estrelas" da Internet e seus vastíssimos e profundos conteúdos (muitas vezes, tão profundos quanto um pires).

Doações não é feio, como as próprias grandes universidades comprovam. Feio é o dono do conteúdo ficar de merdinha do tipo "assim pararei de fazer as coisas", como se esta ameaça vazia significasse algo num mundo digital em que o que não falta é conteúdo. É como se o Paulo Coelho (que não se importa se você piratear os livros dele) reclamasse que ninguém compra os livros dele e dissesse: "não vou escrever mais". Parece ou não parece coisa de criança? Os fãs ficarão tristes? Ficarão, mas arrumarão outros autores para ler. O mundo não vai acabar.

Então, você tem muitos modos de ganhar dinheiro com seu trabalho. Se não conseguir… lamento, mas muitas lojas não vão pra frente, a Microsoft já enterrou muitos dos seus softwares, a Apple enterrou computadores e o próprio joguinho do ET pra Atari foi enterrado (neste caso, literalmente). Às vezes dá errado, lamento. O que não pode é querer dizer pras pessoas que elas estão erradas por usarem seus computadores como querem.

Essa tendência de cagar regras nos bens alheios é que nem quando cismam com gente que filma na vertical. Olhem pro celular. Ele foi feito pra funcionar na horizontal? O uso normal dele é na vertical, que se dane se a filmagem fica horrível na vertical. Se fosse para funcionar apenas na horizontal, o aplicativo de câmera impediria o uso, ou faria lentes que giram sozinhas ou sei lá. Que nem o N-Gage, um telefone/gameboy que funcionava como celular e ficava absurdamente esquisito ao se atender o telefone.

A tendência desse pessoal de regrar as pessoas é patético. Se você fala um "A" para elas, jogam pedras, esbravejam e dizem que na vida delas ninguém manda. Nenhuma delas deve desgrudar da frente da TV. Nenhuma delas deixa de ler cada um dos anúncios em jornais e revistas. Clicam e todos os anúncios que aparecem. Dão gorjetas generosas e cartas elogiosas. Só que não.

Internet: a terra da hipocrisia

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