Microgotículas de água foram o berçário dos primeiros seres vivos

Uma das questões primordiais sobre o início da vida é… quando surgiu e como? Entendê-la é entender a Química em si, e entendendo a Química, entenderemos melhor como surgiu a vida. Sim, um paradoxo, mas um paradoxo intrigante. Muitos começaram com o lenga-lenga de Pasteur que disse que é impossível um corpo vivo ser produzido por um não-vivo, esquecendo-se de um pequeno detalhe: como delimitar onde realmente uma substância começa a reagir por si mesma, se auto-copiando? Basicamente, a vida depende de substância com moléculas muito grandes (macromoléculas), logo, é preciso entender bem como se formaram as primeiras macromoléculas.

Então, o que precisamos ver é como deveriam ser as condições para que tais macromoléculas tenham se formado e, ao que parece, estamos bem perto de desvendar de vez isso… apenas por causa de uma gota de água.

O dr. Sylvain Ladame trabalha no Departamento de Bioengenharia do Imperial College London, no Reino Unido. Ele estuda a dinâmica das reações químicas de um período esquecido por seres vivos que sequer existiam, pois era um período pré-biótico. De acordo com sua pesquisa, reações químicas ocorrem de forma muito mais rápida e mais eficiente quando são feitas em pequenas gotas e não em bolsões de água, como uma poça ou um lago.

Isso faz sentido, pois teríamos diversos microssistemas ocorrendo ao mesmo tempo, oferecendo maior probabilidade de algum deles ter sucesso. É aí que o pessoal que acredita em contos de fadas pensa que isso inviabiliza a Evolução. Estão errados por dois motivos.

1Evolução não tem nada a ver com isso. Estamos falando de seres vivos ainda inexistentes e Evolução explica como organismos vivos mudam, gerando novos tipos de espécies. Assim, primeiro, eu tenho que ter um ser vivo, para depois ter especiação.

2Reações químicas não acontecem uma depois da outra. Então a desculpa que levaria trilhões de anos para que isso fosse possível é balela de quem nunca entrou num laboratório na vidam, nem mesmo para fazer eletrólise de água com duas pilhas médias. As reações acontecem praticamente ao mesmo tempo. Assim que um produto é formado, ele já passa a reagir com outros reagentes. Quando uma substância é formada, ela não está sozinha, pois normalmente outras são formadas junto e está tudo mundo reagindo ali. Multiplicando isso pelo número de sistemas, só aqui na Terra, perceber que aparecer vida não é algo tão impossível assim. Química básica. Agora, se essa vida vai evoluir mediante o ambiente, aí não é mais problema de quem estuda o surgimento da vida e sim daqueles que estudam como ela se mantém viva.

Entender todo esse complexo sistema de reações químicas irá nos ajudar a prever outros tipos de reações, produzindo outros materiais. O avanço científico nos ajudará, não só a desvendar como a vida se originou no nosso planeta, como entender a química do ambiente em questão e estudar como isso pode ter aplicações hoje, criando processos de síntese de novas moléculas com muito mais eficiência.

Para estudar esse fenômeno, Ladame e seus colaboradores sintetizaram duas pequenas moléculas não fluorescentes, para depois reagirem-nas entre si dando como produto uma substância fluorescente. Eles testaram essa reação em duas condições diferentes, para estudar qual seria mais eficiente, ou seja, o frasco que ficasse fluorescente primeiro, óbvio, reagiu primeiro. A equipe do dr. Ladame verificou que a reação prosseguia em ambos, mas era 45 vezes mais rápidas nas microgotículas de água esparsadas. A pesquisa foi publicada no periódico Physical Review Letters.

O estudo nos leva a pensar sobre vários processors industriais. Nos leva a entender o que está acontecendo em outros planetas e na possibilidade deles desenvolver vida, mediante aerossóis na atmosfera, com microgotas que são um universo em si mesmas, em nível molecular. É um capítulo a ser escrito no grande livro de nossas biografias e em nossa árvore genealógica.

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