ANTES que vocês venham me xingar, temos que ser sinceros. Há MUITA gente fazendo Ciência séria aqui. Outros querem fazer, mas não deixam; e tem aquele bando de vagabundos que vivem inventando “pesquisas” que mais se destinam para anormais (UnB, estou olhando bem na sua direção) ou então travestindo pseudociência cromoterápicas de medicina. E nem vou mencionar as besteiras chamadas homeopatia e astrologia. E um dos principais problemas é a falta de desafios ou o engessamento, mediante politicagens, do desenvolvimento científico no Brasil.
Li uma entrevista da Folha (Imprensa Golpista! MATA! MATA!) com a drª Suzana Herculano-Houzel, minha neurocientista favorita que já me deu a graça de COF… COF… COF… comentar neste humilde blog. Não vou comentar toda a entrevista. Mas alguns pontos são precisos ressaltar.
Para a bela Suzana – que não chora por mim, já que eu nunca fui pro Alabama – a divulgação científica aqui no Brasil não é bem vista nem por cientistas. Para a população em geral, eu diria nula. Se eu tivesse um blog sobre resumo de novelas, eu estaria rico. Ou então com mensagens de horóscopos… acho que vou contratar o Gilmar Lopes do e-Farsas.
Bem, com um retorno bem pequeno por parte da população, cientistas se desanimam de escrever, pois não há graça em você escrever para as paredes. Isso funcionava com hippies com insolação pregando no deserto, mas não rola com pessoas ocupadas. Eu vivo isso quase sempre, quando perco um tempão escrevendo um artigo explicativo sobre carne assada e alguém chega e puxa assunto sobre preço dos combustíveis. Tem hora que realmente dá vontade de largar tudo e ir encher a cara com cachaça barata no primeiro boteco pé-sujo que encontrar.
Outro ponto, e isso é muito sério, é o monte de merdinhas que acontecem nos bastidores da pesquisa científica daqui. Ao invés de se buscar inovação e pesquisas de ponta, repete-se continuamente as pesquisas que se autoalimentam de orientadores e suas ideias toscas, onde “a tendência é a pessoa se aprofundar cada vez mais em um único assunto. Com isso, formamos jovens cientistas bitolados, tudo o que eles sabem é pensar em detalhes daquele único assunto que vêm desenvolvendo desde a iniciação científica”, disse Suzana.
“Além disso”, prossegue, “a política de contratação nas universidades privilegia os ex-alunos. Criam-se colônias sem diversidade. Colônias em que você tem o fundador original, o chefe do laboratório, e as crias todas vão se espalhando ao seu redor, estudando a mesma coisa”.
Eu bem que vivi isso durante minha pós. Acabei percebendo que pesquisa científica por aqui pertence a senhores feudais e se você quiser algo diferente, se conseguir, muito dificilmente conseguirá verbas. Isso responde porque o úmero de artigos científicos publicados no Brasil é pífio.
Agora, temos o governo financiando bolsas para os pesquisadores possam ir pesquisar LÁ FORA. HELLOOOOOOOOOOOOOOOOOO? Ao invés de fazer Ciência AQUI, gerando trabalhos AQUI, gerando patentes AQUI manda-se o cara com um pézão na bunda, com um bilhete “vai, mas não volta, cara. Não o queremos aqui. Não queremos nem jogador de futebol”
Enquanto isso, colocamos trogloditas dos tempos da Inquisição para gerir comissões de direitos humanos. Damos um cargo de ministro da pesca a quem abertamente diz que não entende nada disso e ainda é criacionista! O Brasil está caminhando para a Era Pré-Científica. Não demora muito ninguém irá escrever receita de miojo na redação do ENEM. Se conseguirem meter o mãozão numa poça de tinta e tascar na parede, estaremos com sorte.
De repente, chamamos Kanzi para dar aula a esse pessoal… Ou não.
A ciência, no Brasil, piorou muito, muito e muito nos últimos 30 anos mas não por culpa dos cientistas. Eu ainda ví as coisas acontecerem no antigo IPEN-SP (CNEN) – e não nos degladiávamos por um litro de álcool. Alí as coisas aconteciam de verdade na época dos militares, depois foi desmantelado pelos governos civís (não estou defendendo este ou aquele tipo de governo) mas antes já estávamos prontos para colocar em prática o propulsor nuclear (sim, já dominávamos a fissão nuclear) para o tão esperado submarino brasileiro. Mas só agora, em parceria com a França é que vamos ver algo acontecer lá pelos anos 2020. É triste saber que vários cientistas, para sobreviverem, vendem suas mirradas pesquisas para universidades estrangeiras que levam toda as honras pelas “descobertas e desenvovimentos”…..blahhh….agora compramos o litro de álcool com dinheiro do próprio bolso.
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Parabéns pelo texto;
Faço bacharelado em psicologia, desde o primeiro dia de aula os professores já falam (não diretamente, mas de vários comentários, tem-se uma média): – para que fazer pesquisa? Tem tudo pronto “nos gringo”; – Pesquise em inglês terá milhares de pesquisas a mais que em Português (DROGA tem mais em espanhol que em português);
E outra, em minha cidade Blumenau-SC, implantaram um esquema de corredores de ônibus, legal, só que não. Em determinadas ruas o corredor de ônibus não ajudou em nada, era explicito o negocio, só que como gente cética tem que ter “ibagens”, um (para a maioria, eu não acho, estou satirizando) “idiota”, “energumeno” que com certeza para a maioria deveria estar jogando video games ou brigando pelo orgulho gay/lesbica/travesti/transsexual/parafuso/parabolica, ele foi para o site bnu.tv (especificamente aqui http://bnu.tv/blumenau/beirario) e ficou cinco horas observando o transito para chegar a conclusão obvia de que o corredor só PIOROU o transito ali. Massa, muito legal o que ele fez, só que não. Para a maior parte das pessoas com quem eu comentei isso, foi perda de tempo, o pia não tinha nada para fazer, para que ficar cinco horas olhando para uma tela, por que contar carros?
Então o que eu noto, é que, se eu tenho um desses “insights”, e eu começo a produzir um tema para uma pesquisa, e não tivesse um retorno financeiro rápido, ou demorasse muito. Ou iriam me mandar olhar em bases dos “gringos”, e se não tiver nada por lá, esquecer, por que, o “guverno não vai ajuda”, ou por que está errado. Então quer dizer que brasileiro é burro, e dependemos de “gringo” fazer pesquisa?
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@Bruno Luiz K.,
num país sério, os dados coletados pelo rapaz serviriam para quantificar o trânsito e redimensionar as vias de acordo com as necessidades reais.
Não, não estou sendo sarcástico.
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@reinaldo, Mas foi com esse intuito que o rapaz fez a pesquisa. Mas como estamos falando de Brasil.
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Esse texto me remete a uma conversa que tive recentemente com meu orientador de Mestrado, mais um outro professor de lá.
Este outro professor, a certa altura, começou a reclamar sobre a pesquisa científica no Brasil ser castrada por canetaços de burocratas (que normalmente não entendem picas de ciência), sem NENHUMA avaliação técnica sobre a pesquisa em questão. Fica claro pra mim que a única coisa que esses camaradas avaliam é se a pesquisa vai render lucro IMEDIATO, se a resposta for não, então é limbo.
Nessas horas, dá vontade de virar pastor, o que nem é caso, com R$ 500 tu abre uma igreja no Brasil (mas isso é assunto para outra discussão).
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“(…)o que nem é caRo(…)”
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Eu, e acho que qualquer um que se dispõe a ingressar em um curso como química por aqui, já tinha uma ideia de como ciência no Brasil é piada mas tenho que dizer que fiquei um pouco surpreso depois que li a entrevista da doutora, não fazia ideia que existia esse ”feudalismo cientifico” e sabia menos ainda da situação totalmente inversa no exterior. Enfim, o que vocês sugeririam pra alguém que tem interesse em pesquisas? Acham que a situação aqui é feia demais? Que melhor faria se após a graduação fosse pro exterior?
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Enfim, o que vocês sugeririam pra alguém que tem interesse em pesquisas?
Estude inglês A FUNDO e prepara as malas.
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Essa é a nossa realidade. Isso me dá muito medo e tristeza. Parece que estamos entrando em uma nova Idade média (idade das trevas para a ciência) no Brasil. Tenho medo por meu filho crescer aqui. :cry:
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Schwartzman já tinha citado essa questão da contratação dos ex-alunos em universidades, inclusive fala que nos EUA e Alemanha não é bem assim.
Para quem quiser ler a entrevista dele: http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=3731&lang=pt-br
O problema maior é não ver nenhuma política que tente mudar o ensino, tanto superior quanto básico, para melhor.
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@Douglas RR, na minha opinião não basta apenas melhorar a qualidade do ensino básico (o que é muito importante), mas falta também um verdadeiro acompanhamento dos estudos e rotina das escolas pelos pais.
Tenho uma hipótese que pais altamente presentes, ajudariam até a mudar a qualidade do ensino, pois atuariam como fiscais dos filhos e escolas. Só uma hipótese mesmo.
Quem sabe um programa obrigatório de informação diária ou semanal sobre a rotina do filho na escola não melhorava isso? Mas já estou me dispersando no assunto do post… Fui!!! :mrgreen:
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@Breno Bernardes, Os pais de hoje (salvo algumas pouquíssimas excessões) chegam em casa e querem assistir novela e bbb – como vão acompanhar os filhos, em seus deveres, se não aprenderam nada na escola?
O sistema educacional brasileiro criou este cenário e acredito que não vá mudar tão cedo.
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Isso lembra uma amiga que está terminando o mestrado de química e já pesquisando para o doutorado, porém sempre no mesmo assunto, no mesmo laboratório e sem qualquer perspectiva de “pra que?”. Até hoje sua maior felicidade é relatar quando isolou a dopamina em laboratório.
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