Encontrado o mais velho fóssil com cérebro

Fósseis são algo difícil de obter. Quanto mais velho, mais problemático de termos algo completo sobre um ser vivo que pisou por aqui há milhares de anos. Cacos são aproveitados para tirar o máximo de informação e mesmo assim muito se perde, mas o que se encontra é algo maravilhoso. Outra coisa difícil é encontrar vestígios de órgãos internos e muito, mas muito raro encontrar um cérebro, mas os pesquisadores conseguiram algo melhor: o mais antigo fóssil com cérebro já encontrado.

O dr. Nicholas Strausfeld é neurocientista e diretor do Centro de Ciência de Insetos (por que não colocaram logo Centro de Entomologia é coisa que só burocratas sabem dizer), na Universidade do Arizona. Juntamente com a drª Xiaoya Ma e o dr. Gregory Edgecombe, ambos do Museu de História Natural de Londres, estudam um fóssil encontrado em Yunnan, China. Seria mais um fóssil como os que foram encontrados naquelas bandas. O fato de ele ser de um artrópode de mais ou menos 3 cm de comprimento e ser do período Cambriano já é importante, mas mais importante ainda é o que aquela criaturinha tinha ali, bem à mostra: um cérebro.

Cérebros são tecidos moles, e como todo tecido mole, são ainda mais difíceis de se fossilizarem. Antes que alguns manés achem que o miolo estava lá, inteiraço, mas não é bem assim. Tecido mole fossilizado NÃO É o tecido mole em si. Ele sofreu vários processos físicos e químicos, como permineralização celular, por exemplo. A vantagem da permineralização sobre outros tipos de fossilização é que a substituição lenta e gradual do material orgânico por substâncias inorgânicas mantém toda a estrutura celular, onde os cientistas podem estudar toda a morfologia do tecido ou mesmo órgão que estava ali há alguns milhares ou mesmo milhões de anos.

O que mais chamou a atenção dos cientistas foi que o fóssil do referido artrópode — batizado de Fuxianhuia protensa — mostra que cérebros anatomicamente complexos evoluíram mais cedo do que se pensava, mudando pouco ao longo do processo evolutivo, já que a Seleção Natural privilegia o que dá capacidade de sobrevivência. Qualquer mudança lateral pode acarretar em extinção da espécie. por isso, temos extremófilos que mudaram pouco ao longo dos milênios, morando em ambientes estáveis, como fontes termais submarinas. Qualquer mutação em seu código genético pode acarretar em tirar deles a capacidade de sobrevivência, restando a população que não tinha sofrido mutação nos genes. A pesquisa do dr. Strausfeld e equipe foi publicada na Nature. Abaixo, o fóssil de nosso querido F. protensa:

Aqui em cima, vocês podem ver como as estruturas estão bem conservadas e acima à direita a posição do cérebro no crânio do cascudo. Para fins de comparação, embaixo temos um desenho esquemático comparando o Fuxianhuia protensa (à esquerda) com um crustáceo moderno (à direita, obviamente):

Strausfeld tem compromissos em outros departamentos, incluindo biologia evolutiva e entomologia, tem catalogado cerca de 140 traços de caráter detalhando a anatomia neural de quase 40 grupos de artrópodes. Em sua área de atuação, ele tenta reconstituir como eram os clados no passado remoto e quais as suas ligações com os seres vivos de hoje. O fóssil encontrado apoia a ideia de que, uma vez que um projeto básico cérebro evoluiu, mudou pouco ao longo do tempo, como expliquei logo acima.

Componentes periféricos, órgãos sensoriais etc já estavam presentes no espécie em questão, apesar de não estar em outros, mas ninguém disse que todos os animais têm que evoluir da mesma forma, ao mesmo tempo, no mesmo local. Uma coisa é certa:o defunto não tinha menos de 6000 anos.

Então, quando você se deparar com um inseto em sua samambaia, lembre-se que o ancestral dele já tinha um cérebro maior e mais desenvolvido que seu próprio ancestral, muito tempo antes. Bem capaz daquele cérebro do passado remoto ser mais desenvolvido que o de muitas pessoas hoje em dia. Motivo elas dão para pensarmos assim.


Fonte: Universidade do Arizona

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