Daqui a pouco teremos backup no DNA. Ratinho tá de olho

Carregar informações sempre é trabalhoso. Eu me lembro quando estava na faculdade e tinha que levar cadernos, livros, tabelas, régua, calculadora (sim, já existiam e a minha era uma Cassio FX 82D, que tenho até hoje e funciona) etc. Hoje seria muito mais simples, bastando levar um iPad ou mesmo um smartphone, se bem que ler livros nele é uma porcaria. Informação ocupa espaço, pesa e se você faz backup de tudo o que você tem (e que deveria fazer sempre), sabe a como as coisas vão se acumulando.

Pesquisadores da Universidade Harvard estão trabalhando num modo de armazenar dados (como texto, imagens e até vídeos) no mais simples, que nem a Natureza pensou: no DNA.

Mas, peraí! E aquele lance que o DNA cabe trocentas informações e blábláblá? Simplesmente não armazena da forma que você pensa. Para uma analogia, o DNA é como uma série de tábuas de madeira. Você pode fazer várias coisas com elas, inclusive pendurar na parede para servir de estante ou ficar batendo na própria cabeça. Da mesma forma, o DNA não apareceu para que seus donos passem vergonha em programas televisivos de conteúdo e qualidade questionáveis.

O conceito que o DNA "guarda" informações é algo subjetivo. O fato que árvores apresentam anéis de crescimento não implica que tenham aparecido para substanciar análise dendrocronológica. As informações que o DNA carrega é apenas a "receitinha básica" para se fazer um ser vivo, como costumam alegar, mas não é o tipo "pegue meia xícara de água, misture com duas colheres de ácido láctico, bata no liquidificador com 3 pitadas de proteínas, 5 folhas de nitrato de amônio e sirva com bacon, pois bacon é vida". Não há nenhuma mensagem escondida no DNA, que nem aquele negócio de "Código Bíblia", da mesma forma que cargas positiva e negativa são simplesmente… cargas positiva e negativa, que podem ser alinhadas para gerar informação de forma que possamos manipular.

Ora, se eu tenho estados Positivo/Negativo, Polo Norte/Polo Sul, Dentro/Fora, Yin/Yang, Aceso/Apagado etc para formar pares binários, de forma a registrar informações sob a forma de uns e zeros, então eu poderia fazer isso com o DNA também, certo?

O dr. George Church, além de ter barba de profeta, é professor de genética da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard. Ele e seus colegas codificaram um livro com 53.400 palavras, 11 imagens *.jpg e um programa em JavaScript, cujo armazenamento total disso tudo ocupou um total de 5,27 Mb (megabits e não megabytes) de dados em uma sequência de DNA de apenas 1 grama.  Pouco? Bem, quando eu comecei, eu usava disquetes de 1,444 megabytes, mas isso também não significa muita coisa, já que foi no milênio passado, praticamente escrevendo os dados com martelos de pedra. Ainda acha que isso não vale o esforço? Para Church vale, a ponto de sua técnica pode armazenar 5,5 petabits (1 petabit = 1015 bits) por milímetro cúbico. Ainda acha que é pouco agora?

"A densidade de informação e escala estão bem de acordo com outros métodos de armazenamento experimentais de Biologia e Física", disse Sriram Kosuri, pesquisador sênior do Instituto Wyss e principal autor do artigo, que por sinal foi publicado na Science.

Aê! Vou raspar a minha bochecha para poder fazer becápe do meu HD e das fotos questionáveis que tenho lá!

Er… não, não é bem assim. O processo de leitura e escrita no DNA é bem mais lento que seu pendrive comprado num camelô. A única vantagem dele é a quantidade enorme de dados que se pode armazenar por unidade de área (pegue um DVD, meça seu diâmetro, ache a área do disco e divida 4,7GB pelo valor da área e ache quantos dados podem ser armazenados por cm²). Esta técnica só pôde ser feita por causa dos chips microfluídicos.

Em vez de dados binários codificados como aceso;/apagado, sim/não etc. A técnica usa os nucleotídeos (Adenina, Citosina, Guanina e Timina – A, C, G e T). Pela convenção criada por eles, T e G valem 1; A e C valem 0 e o restante é tecnologia. Abaixo, um vídeo com os pais da criança:


Fonte: Harvard

12 comentários em “Daqui a pouco teremos backup no DNA. Ratinho tá de olho

  1. Pelo que li eles ainda continuam com o problema de gerar arquivos somente para leitura. Pensou ter uma máquina que alterasse o dna ao seu bel prazer?

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  2. Era Douglas Adams um profeta? E se o nosso planeta for de fato um grande computador e nós, seres vivos, formos na verdade peças deste computador, programado para encontrar a pergunta fundamental da vida, do universo e tudo mais? Fiquei assustado agora… :-)

    Só achei estranho utilizarem uma base binária para armazenar informação no DNA. A “base” do DNA é quartenária (podendo haver 4 valores distintos pra cada unidade ou bases), certo? A base usada no experimento foi a binária, atribuindo a cada par de bases a possibilidade de “0” ou “1”, o que é um baita dum desperdício de espaço. Mas certamente deve ter havido uma boa justificação técnica para tal escolha.

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    1. Era Douglas Adams um profeta? E se o nosso planeta for de fato um grande computador e nós, seres vivos, formos na verdade peças deste computador, programado para encontrar a pergunta fundamental da vida, do universo e tudo mais?

      Douglas Adams? Olha, detesto ser desmancha prazer (mentira), mas Isaac Asimov e Arthur Clarke já escreviam sobre isso uns 40 anos antes dele. Longe de mim questionar preferências literárias, mas simplesmente não consigo entender que genialidade é essa que veem em Adams, famoso por um livro só (e de qualidade da qual duvido).

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      1. @André, Não seja injusto! Douglas Adams escreveu 5 livros de uma mesma série, e seu foco era o humor. Humor tipicamente inglês, mas ainda um bom humor. Tudo bem que acho os dois primeiros livros muito melhores que os três posteriores, mas ele tinha seu valor. Não diria que era um gênio, mas alguém com uma visão de mundo partilhada com poucos.

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        1. 5 livros (ao meu ver, ruins) da mesma série, brutalmente massacrada pela trilogia Fundação. E se o foco dele é humor, então por que ficam puxando o saco do cara como escritor de ficção científica?

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          1. @André, Engraçado, estava (re)ouvindo o Podcast do Jovemnerd sobre ficção científica ainda hoje e lá falava uma coisa legal. A ficção científica é apenas o meio, o humor é o real tema do livro. O mesmo pode ser dito de romances, terror e outros. De qualquer forma, sempre vi os livros de Adams como a famosa crítica humorística, não há compração com Fundação que possue um tema e enredo muito mais profundos. É como comparar TV Pirata (ou Casseta e Planeta no começo) com um Roda Viva.

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          2. @JCFerranti, é, acho que falei demais e expliquei pouco. A culpa é dos fãs que identificam incorretamente as obras.
            Sabe, é bem parecido com alguns que entram aqui: O problema não está no que defendem, mas da forma que defendem (ou muitas vezes entendem).

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      2. @André, creio que nem seja a genialidade, já que do ponto de vista científico não há nada de genial na obra do Adams.

        O ponto nelas é o humor desleixado, na minha opinião. De não querer ser científico, embora “travestido” como tal, se forma claramente intencional.

        Embora eu já tenha visto os livros do Adams na categoria de “ciência” em alguns sites, não há nada de científico neles, e nem no sentido de ficção científica como dos autores que vc citou. Não creio que dê para compará-los. É comparar laranjas com maçãs :-)

        Acho que Adams seria mais comparável com Augusto Cury :-)

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