Do desastre que causa um desastre ainda pior

A prefeitura da cidade do Rio de Janeiro já está com o dito cujo na mão. Todo ano acontece as mesmas chuvas, com as mesmas perdas, com a mesma ação (ou inação) das autoridades. Todo ano as chuvas causam estragos, desabamentos, mortes e o máximo que as "autoridades" fazem é apelar para fundações da cobra sei-lá-das-quantas a fim de pedir, de pés juntinhos, que não chova 3 dias sem parar, independente de qualquer mágoa. O próprio ministro Aloizio Mercadante, afirmou que o governo não tem como impedir mortes neste verão e nos próximos. Se bem que agora ele mudou a conversa dizendo que fará de tudo para conter as tragédias. Políticos e suas volatilidades…

Se você pensa que isso é ruim o suficiente, tenho – não o prazer – mas o dever de lhe trazer mais más notícias (que linda construção para pessoas que não sabe escrever!): estudos indicam que não basta ter uma chuvarada se a Natureza pode nos brindar com algo pior. De acordo com cientistas, chuvas torrenciais não só levam sua casa embora como podem causar até mesmo terremotos.  A Natureza é um primor de perfeição!

O dr. Shimon Wdowinski, da Faculdade de Ciências Marinhas e Atmosféricas da Universidade de Miami, pesquisa há cerca de um ano as conexões entre tempestades e terremotos. De acordo com seu levantamento, o terremoto cataclísmico de magnitude 7 ocorrido no Haiti no ano passado aconteceu 18 meses depois de uma leva de furacões e tempestades tropicais bem fortes na região. Pode não ser nada, mas pode ser tudo. Antes de partir para um argumento Post Hoc Ergo Propter Hoc, Wdowinski resolveu estudar outros casos. Em 2009, um terremoto de magnitude 6,4 caiu sobre Taiwan como um martelo da ira divina. Buda andou meio irritado com o pessoal de lá e resolveu mostrar a sua força… ou foi por causa de movimentos das placas tectônicas, mesmo; mas o detalhe é que este terremoto aconteceu cerca de 7 meses após a área ter sido atingida pelo tufão Morakot (tufão é uma coisa, furacão é outra. Furacões começam no Oceano Atlântico, Caribe e noroeste do Oceano Pacífico, enquanto tufões formam-se no oeste do O. Pacífico e no sudeste do O. Índico).

Ok, mas isso é suficiente para estabelecer uma relação Chuvarada x Terremoto? (eu tenho plena convicção de para onde isso levará alguns diletos argumentadores.)

O dr. Wdowinski resolveu pesquisar mediante evidências geológicas do passado, procurando por registros históricos de Taiwan, bem conhecida pela quantidade de tempestades intensas e terremotos. O bom pesquisador descobriu que um terremoto de magnitude 7,6 havia atingido em 1999, apenas três anos após o tufão Herb ter despejado sua fúria e feito o questionável favor de inundar Taiwan com algo semelhante a um índice pluviométrico de 2000 mm. Só este ano, as tempestades causaram um prejuízo de 2 milhões de dólares na agricultura (SÓ na agricultura) e isso é muito, muito dinheiro. Para vocês terem uma ideia, no ano passado o Rio de Janeiro teve um índice de cerca de 288 mm em 24h e a cidade virou o caos absoluto!

AQUI vocês podem ver um mapa da Ásia com uma resolução estúpida.

No geral, sua análise revelou que grandes terremotos de Taiwan – de magnitude 6 ou superior – ampliam em cerca de 5 vezes a probabilidade de ocorrer terremotos em curtíssimo espaço de tempo (coisa de um ano ou dois e isso É SIM curtíssimo espaço de tempo mediante os fatores envolvidos. Então, fica a pergunta: chuvas causam terremotos? A resposta não é simples, como nada no mundo natural é à primeira vista. A questão é que as tempestades não acarretam no terremoto, elas são indicativos.

Vejamos pelo caso da cordilheira do Himalaia, que apareceu mediante o choque da placa do Índico com a da Eurásia, fazendo uma "dobra" no terreno, o qual elevou-se até aquela altura toda. Isso implicou numa mudança climática, mas não foi instantâneo. Demorou milhões de anos para isso ocorrer, a despeito do que queiram lhe convencer que a Terra é jovem. Placas tectônicas movem-se a velocidades medidas em centímetros por ano. Deixando este detalhe de lado, pois não é importante por agora, com a elevação do Himalaia tivemos uma mudança climática na região. Ventos e chuvas não conseguem passar de um lugar pro outro e é por causa disso que na Índia há grandes ocorrências de monções enquanto o lado chinês praticamente é desértico. A Mongólia, ao norte, é dona de um deserto feio, inóspito, bobo e chato: O deserto de Gobi. Por outro lado, o chão arenoso chinês junto à elevação do Himalaia acaba se tornando uma fonte de minerais que são carregados pelos ventos daquela região e que se movem em direção leste (já que a mesma cordilheira impede que os ventos prossigam pelo oeste afora) e foi por causa disso que o solo chinês mais pro centro do país acabou excelente para cultivo, fornecendo uma agricultura rica o suficiente para servir de subsistência a um império cada vez em ascensão até dominar todo o Oriente Distante e – depois de ser vencido pelos mongóis – dar origem a império vasto, maior que o de Alexandre da Macedônia ou do Império Romano.

Sim, eu sei. Provavelmente você não viu isso no colégio, pois não é matéria do vestibular e muito menos do ENEM, a prova que eu amo de paixão.

Você pode estar imaginando que a grande massa de água afeta a movimentação das placas. É mais ou menos isso. Não é exatamente o peso da água sobre o chão que causa os terremotos, mas sim os fatores oriundos da erosão. Claro que a grande massa de água influencia, meio que "dobrando" o terreno, modificando como a placa indiana se move, aplicando força de tensão na imensa placa, a qual acaba gerando tremores. No inverno, quando cessam as chuvas, a placa "volta ao normal" gerando mais atrito e, assim, a incidência de terremotos é muito maior. É por isso que cerca de um ano/ano e meio depois, ocorrem terremotos Este efeito foi observado até mesmo no Himalaia e (e aqui vai uma especulação minha) coisa parecida deve ocorrer em relação aos Andes, mas – ao que eu tenho notícia — faltam estudos sobre isso na América do Sul. Informações sobre terremotos na América do Sul podem ser obtidas no site da United States Geological Survey – USGS.

A pesquisa do dr. Wdowinski ainda não serve para prever quando um terremoto vai acontecer e muito menos onde. Ele é um indicativo e pode melhorar as previsões no futuro. Imensas quantidades de chuva ou tufões muito fortes poderão servir de alarme contra terremoto, dando tempo às autoridades de estabeloecerem planos de contiongência de forma que causa o menos de perda possível, principalmente perda de vidas.

Isso, claro, se não for governo brasileiro.


Fonte: National Geographic

3 comentários em “Do desastre que causa um desastre ainda pior

  1. Você pode estar imaginando que a grande massa de água afeta a movimentação das placas.

    Isso me fez lembrar os SIR (Sismos Induzidos por Represas). Não sei se além de erosões inundações como o que ocorreu na Tailândia possam provocar tremores de terras, mas é bom lembrar que o Brasil tem muitas represas e o seu solo não é lá muito resistente. Fico imaginando todos esses fatores somados.

    Me parece que terremotos de origem antrópicas não são um absurdo tão grande assim.

    Curtir

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.