Sobre a filosofia pós-moderna

É interessante como as coisas perdem seu significado primaz com o passar do tempo. Se antes uma ação, movimento ou simplesmente um utensílio começou para ter um determinado fim, depois de certo tempo tais coisas adquirem uma nova utilização (ou nem tanto), acabando por ser muito diferente de quando começou. Um exemplo seria o Viagra, que foi desenvolvido para problemas cardíacos e terminou por ser a felicidade de muita gente, mas por outros motivos.

Com a filosofia não é diferente, e hoje vemos que ela não é bem o que fora um dia.

Long time ago, as pessoas não tinham estudo, eram completamente idiotizadas e se interessavam tanto pelo saber quanto eu me importo pelo que meu vizinho dá de comida ao seu cachorro. Bem, séculos depois, isso não mudou muito, mas deixemos isso de lado por enquanto.

Cerca de algumas boas dezenas de séculos atrás, não havia escolas como hoje em dia e somente a classe dominante tinha acesso à educação de qualidade (sim, eu sei). Nessa época, era comum contratarem-se professores particulares (os preceptores), que acompanhavam o rebento em todo o seu desenvolvimento mental (e corporal também, hu-hu-hummm) e estes professores eram chamados de “Pedagogos”, com a sorte que Paulo Freire ainda não tinha nascido (acho). Sendo um pouco cínico (nos dois sentidos), eu até poderia dizer que estes profissionais contratados acabavam sendo amigos das crianças, e como amizade em grego é Philos e criança é Paidos, eu não poderia me furtar em dizer que estes eram os primeiros “Pedófilos”, sem ter (apenas) o sentido que damos hoje à palavra.

De um modo geral, os filósofos eram homens cultos, cientistas, homens que estudavam e observavam o mundo de forma mais ampla. Claro que isso não impediu Aristóteles de escrever um monte de tolices (como o cérebro servir para refrigerar o sangue, quando Hipócrates dizia que lá era a morada dos pensamentos) e de Platão ter inventado coisas como a besteirada da Atlântida. Notem, entretanto, que muitas dessas besteiras ainda estão circulando por aí, de forma que fica bem ilustrado o poder das palavras que passaram dementes cultas para mentes não tão cultas, até chegar ao bando de idiotas que temos hoje.

E este é o ponto que o artigo quer chegar, caso você ainda não tenha percebido e eu hoje estou sem sacode fazer exercício de fixação no final dele. Aprenda a interpretar textos antes de continuar, ok?

Aprendeu? Ótimo!

Quando chegamos ao fim da Era das Trevas e vimos a Renascença surgir o mundo estava dando uma guinada. Se antes conhecimento ficava restrito aos mosteiros ou àqueles que podiam pagar um copista para copiar um determinado livro, com a prensa de tipos móveis criadas pelo “Seu” João o acesso ao conhecimento ficava mais fácil… tirando o fato que a maioria ainda era analfabeta, mas as coisas não são tão rápidas quanto gostaríamos.

Tempo passa e chegamos a Época das Luzes, o Iluminismo (estou resumindo! Estou resumindo!) Uma nova elite aparece. A elite preocupada em colocar algo dentro das pessoas deforma diferente que os déspotas estavam fazendo até então. Um pouco diferente de escrever blogs, a elite da época não xingava muito. No máximo se comunicava através de panfletos, livretos, peças de teatro ou livros mesmo em sua pujança de conhecimento, de forma profusa e abundante, num cascatear de palavras que volitavam por nossas essências e nos envolviam qual bruma da manhã de primavera, antes que os raios do Sol nos desse um câncer de pele.

A Encyclopédie foi a primeira coletânea moderna de conhecimento, disposta em 28 volumes, tendo como colaboradores Jean-Jacques Rousseau, Voltaire, Montesquieu et alli. Livros eram deixados em bancos de praças, peças conclamavam o povo para o que estava acontecendo no mundo, as sátiras de Voltaire, temperadas com seu sarcasmo habitual, mostravam como o mundo dos conformados e metidos a otimistas não acabavam sempre bem, como naquelas novelas idiotas. “Pensem por si mesmos” era a regra da época! Liberdade de expressão e repúdio à censura era a voz que bradava nos cantos.

Mas o tempo passa, a Lusitânia continua rodando e o Bamerindus não existe mais.

Hoje, os idiotas que ficam nas facurdadis da vida estudam um monte de textos idiotas, selecionados e mastigados previamente. Diferente do que os iluministas pregavam, essa racinha ignara criada em apartamento, e que discute a miséria do povo tomando whisky escocês em apartamento da Av. Vieira Souto, não sabe outra coisa a não ser citar outros autores. O sujeito não conseguiu estudar para nada mais sério que curso de tricô e crochê e resolveu que tinha que ter um diploma universitário. Assim, correm para os cursos de Filosofia, onde ficarão trocando textículos (textos ridículos) e ficarão colocando nas provas exatamente a opinião do professor sobre o caso, pois senão serão reprovados, demonstrando que liberdade de pensamento é lindo no papel, mas não funciona no mundo real dos próprios que pregam essa liberdade.

(liberdade é escravidão, blábláblá)

Eu me lembro bem desse tipo de gente e de quem eles eram alvos favoritos: Sócrates, com sua ironia (no sentido etimológico).

A Filosofia Pós-Moderna baseia-se em citar Wittgenstein, Foucault, Nietzsche etc. Wittgenstein é um dos preferidos desse pessoal, ainda mais que este era um maníaco egocêntrico, que tinha a mania de sair batendo nas portas e chutar cadeiras quando era contrariado. Há o caso em que ele usou um atiçador da lareira para ameaçar convencer o conterrâneo Karl Popper por causa de uma divergência filosófica.

Na Filosofia Pós-Moderna, ser considerado filósofo é citar um caminhão de filósofos, na tentativa de defender seu próprio ponto de vista, ao invés de demonstrar o porque desse ponto de vista ser válido. Na minha cartilha, Argumentum ad Verecundiam.

Qualquer ideia sem demonstração, defesa ou sustentação é falácia.

Costumam por vezes citar autores de forma arbitrária. Aprendem uma frase e repetem igual a papagaios ad aeternum. Como exemplo simples eu posso citar o primeiro episódio da série House MD (ou Dr. House, tanto faz), onde ele tenta manipular uma situação dizendo: “Como disse o filósofo Jagger, você não pode ter sempre aquilo que quer” (“Well, like the philosopher Jagger once said, ‘You can’t always get what you want.’”). Pronto, um bando de idiotas saiu repetindo isso, realmente achando que Jagger era algum filósofo do século XVI, provavelmente inglês.

Bem, realmente, Jagger não só era inglês, como ainda é. You can’t always get what you want é uma canção dos Rolling Stones, e os tolos saem espalhando isso em muitos blogs por aí, achando-se o máximo.

A moderna filosofia é inútil, ela não responde nada, não propõe nada. É apenas uma algaravia de frases desconexas de gente pedante que se julga mais inteligente que você, só porque tem uma pilha de livros; normalmente, livros inúteis e pedantes, onde querem empurrar pela sua goela o que você deve pensar, o que você tem que pensar. E se duas pessoas estão pensando exatamente a mesma coisa da mesma forma, então nenhuma dessas pessoas está pensando e sim tendo um desvario.

Ter escritores favoritos não é um mal. Saber como alguns autores viam o mundo é realmente necessário. Conhecer como eles se referiam ao assunto, como eles pensavam sobre um determinado tema é muito importante. O que é tolo é cimentar o pensamento deles dentro da sua cabeça, é fazer citações esparsas sem saber direito o que elas significam. Dizer que Wittgenstein falou isso, que Deleuze disse aquilo e que Desmond Tutu redarguiu aquilo outro não fará de você um gênio.

Como disse meu avô: Aquele que cita os outros é idiota!


PS. Não poderia deixar de postar este vídeo (agora, legendado):

20 comentários em “Sobre a filosofia pós-moderna

  1. Em resumo: hoje não temos filósofos, temos hermeneutas e frasistas de Twitter. Por essas e outras prefiro ler livros mais clássicos de filosofia mesmos. Afinal, o que um filosofo A prova citando filósofo X? Há como o B refutar o A citando o filósofo Y? Enfim, viraria um debate de hermeneutas.

    Infelizmente cursos de filosofia na verdade viraram cursos de hermenêutica. Não há filosofia de verdade, ninguém pensa. O máximo que os novos filósofos conseguem, em termos de criatividade, é criar frases que cabem dentro de um post de Twitter. Bem, as vezes é isso mesmo o que fazem…

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      1. @André, se bobear essa gente nem entende o que o Kant quer dizer. Eles gostam de citar porque os livros deles costumam ser bem… cabeçudos mesmo. Já tentei ler um livro dele e o deixei no fim da fila para não surtar durante a leitura. :P Se bobear nem leram o livro do próprio, talvez textos sobre ele.

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    1. @Nihil Lemos, Meu professor sempre dizia que pensar requer o ócio. Deve ser por isso que não há mais filosofos… Ninguem quer mais sustentar um homem que fica so entre amigos discut… OH WAIT!

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  2. Pior é quando você até entende um pouquinho de um destes filósofos, nada assim tão profundo, mas é obrigado a ouvir uma palestra do seu chefe citando Kant, Aristóteles, Sócrates, Zico (ops!!), descontextualizados, citados só pra encher o Power Point e ouvir dos outros que o teu chefe é Phoddão.
    E você sabendo que ele é um tremendo de um Zé Ruela.

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  3. Isto também acontece com a prima Psicologia… em 4 anos de faculdade, 70% (ou mais) das provas que fiz se resumem a dizer como determinado cara pensa sobre alguma coisa, explicar um conceito, ou encaixar o pensamento de um (ou “teoria psicológica” pros mais íntimos) em determinado caso. Basicamente, é o ”O que fulano faria?” :???:

    Assim como citado no artigo, claro que é importante saber a visão de mundo de um autor, como pensava sobre os fenômenos e os entendia… mas basicamente, é isso aí… aí te pedem pra pegar essa visão de mundo de alguém e encaixar em tudo a sua volta. Não se cria nada, assim como na filosofia pós-moderna. :| E não lhe é permitido ”criar” nada, já que cada linha que você escrever tem que estar com uma citação de algum autor…TENSO!

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  4. Tens problemas de sono?
    Leia a Crítica da Razão Pura na cama.
    Duvido passar do segundo capítulo…

    Tem filósofo que aredita que as ciências ainda são filosofia, principalmente a Matemática.

    Bem se Matemática é filosofia é a única que funciona.

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  5. André, que o pós modernismo filosófico é uma bela porcaria, isso não se discute. Mas esse tipo de pensamento é característica da chamada “filosofia continental” (dominante no Brasil) de onde saíram coisas como a fenomenologia de Edmund Husserl ou Maurice Merleau-Ponty, a ontologia fundamental de Martin Heidegger, a psicanálise de Sigmund Freud ou Jacques Lacan, o existencialismo de Jean-Paul Sartre, o estruturalismo em ciências humanas inspirado por Claude Lévi-Strauss ou Michel Foucault, a semiologia de Algirdas Julien Greimas ou Roland Barthes, a hermenêutica de Hans-Georg Gadamer ou Paul Ricoeur, e desconstrução de Jacques Derrida e a mer** da teoria crítica da Escola de Frankfurt.

    Todavia, desde o final do século XIX que temos a chamada filosofia analítica (com expoentes como Karl Popper e Bertrand Russell) para equilibrar o jogo. Hoje, a filosofia analítica não é mais produzida, mas deu lugar às filosofias da mente e da linguagem (a séria, e não aquela porcaria que vemos em seres bizarros como Foucault e Deleuze), as quais nos trazem filósofos do calibre de Daniel Dennett (que defende uma conversa entre filosofia e ciências naturais e escreveu o clássico “A Perigosa Idéia de Darwin”), John Searle e Thomas Nagel (ferrenho adversário do pós modernismo em seu livro “A última Palavra).

    O Problema é que no Brasil quem manda são os membros da seita pós moderna, principalmente nos “cursos” de pedagogia, psicologia e sociologia. Só quando esses retardado nascidos na década de 60 baterem as botas poderemos nos ver livres dessa picaretagem toda.

    Ah sim; aconselho a todos a leitura da obra “Imposturas Intelectuais” dos físicos Sokal e Bricmont.

    Abraços

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    1. Concordo plenamente. E foi exatamente Popper que Wittgenstein bateu boca, por causa de conceitos/problemas morais e filosóficos, que para Witt, o Insano, não existiam, a ponto de ameaçar Popper exigindo que ele demonstrasse um real problema ético. Popper chapou na cara dele: “Ameaçar conferencistas convidados com um atiçador é um exemplo”. Kuhn complementa Popper, pois para Kuhn Ciência tem que se basear em experimentos e replicações, ponto que a filosofia científica de Popper não abrange com exatidão, ao meu ver.

      Sobre essa racinha nascida nos anos 60, pouca coisa pode-se fazer. O que há nas facurdadis é uma doutrinação, e o cara acaba sendo adestrado a “pensar” como eles, onde a liberdade de expressão e pensamento é nula. Eles querem que vc pense como eles e fim de papo.

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  6. Eu já tive aula de filosofia quando eu estudava na Unisinos, com um tal de Sérgio Trombetta. A aula dele se resumia em obrigar os alunos a concordarem com o marxismo e ridicularizar os alunos que tinham religião, debochando das religiões alheias e enfiando ateísmo guela abaixo dos alunos. Para piorar, ele ainda obrigava os alunos a assistir filmes vegans. Na hora da prova, ele já fazia perguntas querendo que você concordasse com ele. Caso contrário, a respostas era marcada como errada.

    André, será que ela lei brasileira esse tipo de professor pode fazer isso? Não é constrangimento ilegal?

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  7. Outra disciplina que está copiando o filosofia pós-moderna é a sociologia. Tem um sociólogo que trabalha para um jornal da Record, um tal de Juremir Machado da Silva, que se acha “o cara”. Pra mim ele só fala asneira. Você já ouviu dizer dele?

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  8. Algumas comparações do texto ilustram uma cena do belo filme “Gênio Indomável”, onde o personagem principal, Will, é um virtuoso intelectual independente (apesar de soberbo, muitas vezes), ao defender o amigo, Chuck, que tenta dar ideia em um garota, depois de aparecer um “sabichão” universitário para tentar envergonha-los e impressioná-la. Mas, no final, as coisas não saíram como previstas pelo filósofo pós-moderno.

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