Canadenses alegam ter uma forma barata de curar o câncer. Devagar com o andor!

Me preocupa ler notícias com manchetes fabulosas sobre os avanços da medicina. Cansei de ver no meu leitor de RSS trocentas maneiras de curar o Alzheimer. Não entendo ainda como o Alzheimer ainda não foi erradicado. É aquele lance onde jornalistas dão manchetes bombásticas para atrair leitores. mas quando vemos pesquisadores realmente acreditando nestas notícias, temos um problema. Um SÉRIO problema!

Lealcy me passou um link, onde pesquisadores canadenses alegam ter encontrado uma solução barata e, óbvio, eficaz para curar o câncer. Eu não acredito em algo tão miraculoso assim. O que há por trás disso?

O que há por trás disso é aquele famoso lenga-lenga em que as indústrias farmacêuticas ficam escondendo o jogo (e perdendo BILHÕES de dólares) ao não divulgar que existe uma cura definitiva para o câncer. E é aqui que começam os problemas. Não existe O câncer. Existem diversas formas de câncer e todas elas diferem em suas características. Boas informações podem ser obtidas pelo site do Instituto Nacional do Câncer (INCa). Se eu não confiar nos dados do INCa, fechem logo a porra do país e vendam no Mercado Livre!

A saber, quase todos os tipos de câncer possuem cura, desde que diagnosticados a tempo. O brasileiro tem a mania da auto-medicação e a filosofia que a tia que vende ervas na esquina entende mais da sua saúde que o médico (cansei de ouvir a frase "nah, médico não sabe de nada!"). Além disso, tem os casos em que o imbecil fiel sai do tratamento, porque seu pastor/mãe-de-santo/tia rezadeira/etc. falam que basta ter fé (nunca ouvi um padre católico dizer isso e de qualquer forma isso não vem ao caso perante o que estou abordando. Não ousem mudar de assunto!)

De acordo com o site Nutrition and Diet News (sim, eu também fiquei com o pé atrás por causa disso), o grande vilão pelos altos números de incidência de câncer seria o descaso das companhias farmacêuticas. Na notícia veiculada, cientistas canadenses  (não disseram quais) testaram dicloroacetato (não sei do quê, já que isto é um íon e radical orgânico, necessitando algum metal ou outro radical orgânico) em células humanas, e eliminou células cancerígenas nas mamas, pulmão e no cérebro, enquanto que as células saudáveis não foram afetadas.

O composto (que eu ainda não sei qual é) foi, de acordo com a notícia, testado em ratos com tumores graves, e as suas células cancerosas diminuíram uma vez que foram alimentados com água suplementada com Dicloroacetato (DCA). "A droga é amplamente disponível e é fácil de usar", pergunta-se o articulista, "então por que grandes empresas de medicamentos não estão envolvidos?"

E a resposta valendo 1 milho grande de doletas é…

O método emprega dicloroacetato, que é atualmente utilizado para tratar distúrbios metabólicos. Assim, não há nenhuma preocupação de efeitos secundários ou sobre os seus efeitos a longo prazo.

Blá, blá, blá

As empresas farmacêuticas não estão investindo em pesquisa porque o método DCA não pode ser patenteado1, sem que uma patente não pode ganhar dinheiro, como eles estão fazendo com suas patentes da AIDS (??). Como as empresas farmacêuticas não desenvolvem esta pesquisa, laboratórios independentes devem começar a produzir esta droga2 e fazer mais pesquisas para confirmar os resultados acima e produção de drogas. Todas as bases podem ser alcançados em colaboração com as Universidades, que terá prazer em ajudar na pesquisa e poderá desenvolver um medicamento eficaz para curar o câncer.

Considerações rápidas:

1) Ah, claro! As empresas farmacêuticas jamais poderiam patentear remédios com um único princípio ativo [a] [b] [c].

2) Laboratórios independentes para produzir este composto? Sigma-Aldrich serve?

Ei, péra aí! Como você sabe que é dicloroacetato de sódio?

Porque eu faço dever de casa, filhos. A pesquisa é conduzida pelo Dr. Evangelos D. Michelakis, que é pesquisador da Universidade de Alberta, responsável pelo estudo dos efeitos do dicloroacetato de sódio. Eles têm até site.

Vamos procurar pelas publicações indexadas? Nenhuma referência no próprio site e isso cheira mal.

No site do Nutrition, a fonte referenciada é do Medicor Cancer Centre, que é uma clínica particular especializada nesse tratamento, e deixa disponível para download um artigo publicado no The Journal of Palliative Medicine (não pergunte) e você pode baixar o PDF. Não, não foi publicado pelo dr. Michelakis e sim por um médico do próprio Medicor. E enquanto o site do dr. Michelakis, cujo nome parece ser de vilão de filme do 007, diz que as pesquisas estão prosseguindo, o do Medicor praticamente dá como certa. Temerário!

Eu vejo com muita reserva qualquer alarde que uma simples substância possa ser plurivalente para todos os tipos de câncer e fico com o pé atrás com o lenga-lenga das malditas indústrias farmacêuticas. Câncer não é como uma infecção, curada com penicilina. Câncer é algo sério e não se pode dar falsas esperanças ás pessoas, prometendo algo que pode não passar de um engodo.

Não sei até que ponto existe alguma eficácia no tratamento ou se TEM alguma eficácia, mas como cientista eu fico no aguardo de mais publicações, porque até agora nada disso me cheira bem e eu nunca recomendaria este tratamento a um amigo meu.

15 comentários em “Canadenses alegam ter uma forma barata de curar o câncer. Devagar com o andor!

  1. Difícil… As pesquisas para o tratamento para essa doença ainda vão longe e, ao que parece, nenhuma solução que preze pela simplicidade, exceto a que fica no campo da profilaxia e cuidados com a saúde (acompanhamento médico regular, entre outros) tem mostrado eficácia comprovada. Lembro-me de que, na graduação, enquanto estava tendo “Polímeros I”, o professor-pesquisador falava com entusiasmo do desempenho nos avanços da aplicação de sistemas de “drug delivery”, via cápsulas poliméricas, para o tratamento quimioterápico em pacientes cujas áreas mais vulneráveis do organismo tivessem sido tomadas pelo câncer. Entretanto, ele dizia que, mesmo com uma futura distribuição desse método em larga escala, haveria ainda muito o que fazer, pois a caixa-preta que envolve esse assunto era muito mais complexa de abrir do que imaginávamos :sad: .

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  2. “A droga é amplamente disponível e é fácil de usar”

    A única coisa que é fácil de usar e é amplamente disponível é, na verdade, a prevenção do câncer com hábitos saudáveis (o que não é garantia que vc não va morrer de um tumor no reto).

    Obs.:

    1. Eim, o cara da ilustração tá vendendo é outra coisa e não remédio pra câncer. :cool:

    2. Erro de atenção na última frase. ;-)

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  3. Acompanho o autor, esperar neste caso por mais informações é o prudente, agora o caso das conspirações farmacêuticas é antigo, já ouvi dizer que um grupo teria pago para que cientistas desenvolvessem um Cepa do H1n1 para que a venda do Tamiflu disparasse no mundo, bom olhando pelo lado econômico uma pandemia mortal enfraqueceria o mercado como um todo, atingindo assim os próprios barões desta indústria, não vejo onde isto possa ter algum fundamento.

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  4. Não vou contar nenhuma novidade, mas qualquer tipo de câncer tem variações genéticas. Tratar com medicamentos aplicados no fenótipo é o mesmo que cuidar das folhas das árvores e deixar as raizes de lado.
    Como é um assunto que mexe na auto-estima e na sobrevida de muita gente, medicamentos milagrosos, de efeito imediato, viram moda a todo momento.
    A única coisa que faz efeito imediato é óleo de rícino e ainda assim dá tempo de correr para o banheiro. Claro, às vezes!

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  5. Bem que seria bacana que as coisas fossem fáceis assim de se resolver…
    Não acho que alguma empresa seria tão FDP (mas posso estar enganado) de não divulgar algo tão grande e importante, apenas porque não teria retorno financeiro.
    Imagino que se fosse esse o caso, só a publicidade que a descoberta geraria para a empresa, já daria o retorno financeiro esperado (propagandas, divulgação, “Prêmios Nobel”…).

    Eu acho ainda que, mesmo que a cura total e rápida de cânceres nunca seja descoberta, se alguém desenvolvesse um tratamento com efeitos colaterais mais brandos e suportáveis, já seria um enorme feito.

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  6. Existem diversas formas de câncer e todas elas diferem em suas características.

    Se o tratamento for o que eles dizem, o pessoal da imuno-histoquímica já era…

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  7. Haha! Podemos chamar isso de “Curandeirismo (pseudo) Científico”? Deu para perceber que temos muito espertinho espalhado pelo mundo. Se no Canadá tem estudos duvidosos como esse o que podemos esperar no Brasil?

    Bem, aqui no Japão tem gente que trata dores musculares com colares e pulseira magnéticas, então vamos usar o bom-senso. Mais uma vez o Cet.Net nos salva da desinformação ;)

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