Pela foto aí ao lado, você pode até estar pensando que o pobre patinho está morrendo à míngua, com suas tripas expostas ao vento, morrendo de uma forma brutal. Na verdade, não. Aquilo que você está vendo ali esticado não tem nada a ver com os intestinos, é o pênis do dito pato.
Não, você não leu errado, logo, pare de ficar se admirando no espelho achando que é o tal. Aquele pato tem um pinto (irônico, não?) maior que o seu em todos os sentidos. O pior é que, como divulgador de Ciência, acabo tendo que compartilhar histórias assim. A vida não é fácil. A dita realmente é dura…
A drª Patricia Brennan e seus colegas da universidade de Yale pesquisa sobre a estranheza dos genitais dos patos. Ela queria entender por que alguns patos tem o que se pode chamar de um pênis “extravagante”, com um formato de saca-rolhas (sem trocadilhos, gente. O negócio é séri… HAHAHAHA). Dessa forma, ela procurou o caminho inverso: o aparelho reprodutor feminino ou, segundo suas próprias palavras (da doutora e não dos genitais da pata) “Se você tiver um carro como este (o pinto do pato), que tipo de garagem iria estacioná-lo?”
Brennan descobriu que as patas têm um igualmente estranho duto reprodutivo (os chamados “ovidutos”). Esses ovidutos são em formato de saca-rolhas também, como já puderam imaginar. Mas tem um pequeno detalhe: Enquanto pênis pato masculino torção no sentido horário, as torções do oviduto são em sentido anti-horário. A Natureza sempre pregando peças.
A distinta doutora e seus colegas especularam que esta bizarra anatomia é o resultado de uma forma peculiar de evolução conhecida como “conflito sexual”. Uma estratégia que permite que as fêmeas reproduzam de forma um tanto complicada, de modo que dificulte a fecundação por outros machos. Assim, diz a pérfida Seleção Natural, aquele pato que foi capaz de penetrar, torcendo e retorcendo seu membro, a fêmea, gerará prole. O patinho que não conseguir não terá descendentes. Logo, o processo evolutivo continuará e os patos previamente bem adaptados às condições difíceis terão maiores chances de terem filhos, e dentre estes, aqueles que conseguirem penetrar e fecundar as fêmeas terão seus próprios descendentes e assim sucessivamente.
Assim, segundo as pesquisas de Brennan, as dificuldades impostas pelo sistema reprodutor feminino geram conflitos, pois a maior parte dos intercursos sexuais entre patos são forçados, pois o rapazinho fica doido pra molhar o biscoito, mas a xícara é esquisitona, daí ele força até conseguir, muitas vezes machucando a fêmea.
Alguém aqui me ouviu falar que a Natureza é boazinha com os seres vivos? Pois é. A Natureza é ruim, pérfida e canalha. Só algo bem sádico planejaria uma loucura dessas, de forma totalmente burra. Mais fácil seria o patinho chegar, levar a piriguete pra uma rave e, depois de alguns gorós, se mandar pra primeira lagoa. Mas não. Se pode-se complicar, por que facilitar, mesmo que a violência seja grande e acabe sendo fatal? Apenas 3 por cento dos patinhos que as patas produzirem vêm de tais acasalamentos forçados.
Segundo a teoria de Brennan, as espirais inversas da fêmea ajudam a bloquear o que seria uma forma de estupro avícola. E isso gera mais violência por parte dos machos, embora as fêmeas também possam isolar o esperma dos machos em bolsas internas separadas. O pinto avantajado foi obra de uma seleção, onde os machos tentam porque tentam copular e fecundar de qualquer jeito, não importando os danos causados às fêmeas. Como a Natureza é linda e ética, não é mesmo?
Agora, chega a hora de meter (ops) a mão no… na… bem, vocês sabem. A drª Patricinha e sua equipe produziram um vídeo filmado em alta velocidade, afim de saber como o processo ocorre na prática. Logo, alguém segurou o pato, levou pra perto de uma pata e a natureza fez o resto. O resultado você pode conferir no vídeo abaixo:
http://www.dailymotion.com/swf/xbm8dj
Dilatação Peniana dos patos
Bizarro, não é mesmo? O acontecimento durou 1/3 de segundo e a velocidade de dilatação do pênis chegou a 1,6 metros por segundo. Por favor, não sejam engraçadinhos a ponto de perguntar se foi a doutora alcoviteira que segurou a ave (pelas mãos, acho que não foi, mas vai saber…).
Como cientistas nunca estão satisfeitos com nada, a drª Patricinha resolveu simular a penetração através de um oviduto. Para tanto, ela usou próteses de silicone, mas estes não resistiram à investida do patinho entusiasmado. Ela preferiu então usar próteses de vidro, de diferentes formatos, como os da imagem ao lado (clique para ampliar). O diâmetro dos tubos é de 10 mm; da esquerda pra direita, vemos um tubo reto, um com espiral em sentido anti-horário (adequado ao pênis dos patos), uma espiral em sentido horário (semelhante aos ovidutos das fêmeas) e um com ângulo de curvatura de 135º (semelhante ao oviduto de algumas fêmeas).
Como Brennan havia previsto, o tubo com espiral em sentido horário desaceleram a expansão do pênis do pato, comparado a um tubo em linha reta ou em um com sentido horário, demonstrando que isso serve para deter a investida do Romeu, levando o macho a investir com mais força. O vídeo abaixo demonstra este experimento.
http://www.dailymotion.com/swf/xbm8p8
Dilatação Peniana dos Patos 2
O artigo completo da Drª Patricia Brennan pode ser lido direto no site da Proceedings of the Royal Society of London. De conclusão só me resta um alívio: ainda bem que minha profissão tem a ver com reagentes químicos ou, como se diz na jocosa observação: minha parte é “a que fede” e não “o que se mexe”.

Achei fantástica a idéia dos ovidutos artificiais que permitiram um estudo mais detalhado, parece que os patos não são muito exigentes. Quando os adeptos do criacionismo e do “projeto inteligente” vão finalmente desistir ?
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