Mona Lisa e o segredo enigmático de seu sorriso

Por séculos, ela tem sido a obra de arte mais famosa do mundo. É incrível como um quadro relativamente pequeno possa causar tanto assombro e admiração. La Gioconda, também conhecida como Mona Lisa, é uma das mais famosas (senão A mais famosa) obras do emblemático Leonardo Da Vinci; e é uma das peças-chave no ramo da arte durante a época do Renascimento. Creio que nenhuma obra foi tão copiada, conhecida ou usada como inspiração de outras cópias, usando personagens diversos, na história.

Mas sempre houve um certo quê de mistério em seu sorriso. Pessoas do mundo inteiro, ao longo dos séculos, se perguntam sobre o que ela está rindo. Mas a questão é: Ela está rindo mesmo? Pelo menos, é isso o que as pessoas pensam, mas elas podem estar erradas.

Se você é mais um que tem sido confundido pelo sorriso enigmático da Mona Lisa, você não está sozinho. Estudos indicam que isso acontece porque nossos olhos estão enviando sinais confusos para o cérebro cada vez que olhamos para o quadro.

Diferentes células da retina transmitem diferentes categorias de informação – ou “canais”, digamos assim – para o cérebro. Estes canais codificam dados sobre o tamanho de um objeto, claridade, brilho e localização no campo visual. São esses canais que nos dão a percepção de tamanho e volume ocupado que, aliado à nossa visão estereoscópica, nos dão pleno controle visual para manipular com objetos próximos e avaliação de objetos distantes. A utilidade disso advém de quando nossos ancestrais se moviam de galho em galho, pois precisaríamos avaliar a distância do galho, seu tamanho e localização espacial a cada salto, de modo que não nos esborrachássemos no chão.

Para o neurocientista Luis Martinez Otero, do Instituto de Neurociência de Alicante, Espanha, algumas vezes as informações trazidas por um canal se sobrepõe a outro canal; desse modo, acabamos vendo coisas que outras pessoas não vêem. Eu, por exemplo, não vejo um sorriso completo e sim uma espécie de expressão zombeteira no canto da boca da Mona do Da Vinci… quero dizer, do quadro do Da Vinci.

Como eu disse, Leonardo foi uma figura emblemática. Sua altíssima capacidade multifacetada fez dele um homem de múltiplos talentos, a ponto de criar um leão autômato para divertir nobres. Essa figura foi extremamente influente e um dos símbolos do Renascimento. assim, é mais que natural que muitos cientistas pesquisem suas obras. Em 2000, Margaret Livingstone, uma neurocientista da Harvard Medical School, com um interesse na história da arte, mostrou que o sorriso da Mona Lisa é mais aparente na visão periféricado que na visão central. Em 2005, uma equipe americana sugeriu que o ruído aleatório no caminho da retina para o córtex visual determina se a pessoa consegue enxergar o sorriso ou não. Em suma, o sorriso estará lá dependendo de sua predisposição (ainda que involuntária) de enxergar o sorriso, bem como de como você olha para a peça. E eu nem menciono o lado psicológico de esperar ver o sorriso lá, mesmo não havendo sorriso nenhum.

Para obter uma imagem mais completa das razões por trás do sorriso da Mona Lisa, Otero Martinez e Pablos Alonso testaram aspectos diferentes da Mona Lisa que são processados por diferentes canais visuais, e em seguida, pediram aos voluntários se eles viram um sorriso ou não.

Para começar, a dupla pediu voluntários para olhar para a pintura em tamanhos variados de diversas distâncias. Ao estar longe ou quando visualizam uma pequena reprodução do retrato, os voluntários tiveram problemas para observar qualquer expressão facial mais característica, ou seja, não conseguiam discernir se ela estava sorrindo ou não, só conseguindo ver a obra como por completo, mas sem muitos detalhes.

Quando eles pediram a outros voluntários para ver a peça de mais de perto (obviamente, estamos falando de réplicas, pois ninguém vai pro Louvre fazer esse tipo de experiência) – vendo detalhes da pintura ou mesmo uma cópia ampliada, os voluntários começaram a ver o sorriso – e quanto maior for o quadro mais provável que eles estavam vendo o misterioso. Isto sugere que as células da retina que o processo de visão central conseguia transmitir informações sobre o sorriso tão bem como as células que contribuem para a visão periférica, que não é nada precisa. Explicando melhor, quando mais detalhes, mais informações são bombardeadas no córtex visual e ele não pode dar conta de tudo ao mesmo tempo. Logo, ficou claro que ele teve um desempenho semelhante ao da visão periférica, que não é precisa.

Em seguida, a equipe de Martinez Otero, em comparação como a luz afeta o nosso julgamento do sorriso da Mona Lisa. Dois tipos de células que determinam o brilho de um objeto em relação ao seu redor: “no centro”, as células, que são estimulados somente quando os seus centros são iluminados, e nos permitem ver uma estrela brilhante numa noite escura e “fora do centro”, as células, que só disparam quando os seus centros são escuros, e nos permite escolher as palavras em uma página impressa.

Martinez Otero mostrou a outro conjunto de voluntários (isso se chama “duplo cego”, onde nem o pesquisador sabe o que esperar dos voluntários), quer uma tela preta ou branca por 30 segundos, seguido por um “tiro” da Mona Lisa. Os voluntários eram mais propensos a ver sorriso da Mona Lisa, depois de terem sido mostrada a tela escura. Isso teria silenciado fora do centro de células, levando Martinez Otero concluir que são estas as células centrais que “percebem” o sorriso da Mona Lisa.

Outro fator estudado foi o movimento dos olhos do expectador ao observar a obra. A equipe do pesquisador usou um software para rastrear o movimento dos olhos dos 20 voluntários que observavam a peça. Com um minuto para olhar para a pintura, os voluntários tendiam a se concentrar no lado esquerdo de sua boca, quando julgavam que ela sorria. Assim, os olhos se deslocam, guiados pela visão periférica, do centro para a lateral onde está o sorriso. Isso mostra que as pessoas que viram o sorriso possivelmente esperavam ver o sorriso. Provavelmente, a visão periférica captou a deformação no canto da boca, o cérebro avaliou e preencheu a lacuna e os olhos se dirigiram para lá, focalizando o local. O cérebro preencheu as lacunas e Voilà!

Mas será mesmo que Leonardo teve esta intenção? Difícil dizer, mas com certeza, não. Leonardo Da Vinci Tinha o hábito de pegar pessoas comuns como modelos para sua pintura. Ele se inspirava em todo tipo de gente, além de mesclar com seu próprio rosto, como uma assinatura debochada. Como o próprio Martinez Otero disse: “Ele escreveu em um de seus cadernos de notas que ele estava tentando pintar expressões dinâmicas porque é o que ele viu na rua.”

Por mais que a Ciência explique como ou porque nós vemos (ou não) aquele sorriso sereno e algo de triunfo, a verdade é que nem sempre há explicações misteriosas para as coisas, pois elas simplesmente são o que são. Duvido muito que Leonardo, mesmo nos seus sonhos mais loucos, pensasse que sua bra seria estudada por séculos a fio, só por causa do canto da boca de uma de suas personagens, mas isso não diminui o encanto e beleza de sua obra mais famosa.


Fonte: New Scientist

26 comentários em “Mona Lisa e o segredo enigmático de seu sorriso

  1. O cérebro realmente nos prega peças. Sempre eu olhava pra esse quadro e notava um tipo de “covinha” na boca da Mona. Só que começando a ler o artigo, quando olhei a foto, podia jurar que ela estava sorrindo …

    Cérebro motherfucker!

    Nem só o tamanho e posição altera nossa percepção, como também os fatores da ocasião… isso explicaria o fato das pessoas acreditarem em Deuses; Papai Noel; Chupa Cabra; Backward masking; Michael Jackson não morreu etc. etc.

    “Ladainha” alheia desnecessária ajuda a ferrar nossa cabeça.

    Agora irei divagar um pouquinho aproveitando a ocasião.

    Fala ae andré! Beleza cupade?!

    Há um certo documentário que “rebate” a teoria evolucionista (De Sapo a Principe: A Lenda da Evolução) dizendo que:”as mutações não causam acréscimo de informação genética, mas decréscimo”. E é o documentário que deixa Dawkins “olhando pro céu”.
    Minha mente Padawan está confusa diante de tal dúvida e, venho convocar as poderosas mentes jedis do cet.net para que explique tal cituação. Passo-lhes o sabre (ops) à esse pormenor.

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    1. @Fabricio_R.S,
      Há um certo documentário que “rebate” a teoria evolucionista (De Sapo a Principe: A Lenda da Evolução)
      Se você tem paciência, para ler e refutar essa tramóia, visite esse site (em ingreis), tá tudo lá, com direito a uma resposta (devidamente massacrada) de Gillian Brown, da Keziah Video Production, que produziu o filme.

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      1. @Joseph K,
        O que me deixou mais em dúvida quando vi esse documentário, foi quando o Dawkins foi refutado pela réporter e ficou olhando pra cima durante um tempão sem saber o que responder e quando respondeu não fez a altura. Logo ele, Pseudo-defensor darwinista.
        Mas deixa pra lá, minha mente padawan é assim. Se não, daqui a pouco o André vai mandar lenha por estar divagando sobre o artigo. Obrigado pelo link.

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          1. @André,
            Se for o video que começa com o gordo, Não!
            Me refiro à esse video Richard Dawkins dá Vexame! De Sapo a Príncipe : A Lenda da Evolução
            A pergunta feita é essa:”Dr. Dawkins, o senhor pode dar um exemplo de uma mutação genética ou de um processo evolucionista no qual pode ser observado o aumento da informação no Genoma?”. Aí eles mostram a hesitação de Dawkins em responder…
            Agora, o cara colocou outro video dizendo que Richard Dawkins admite o Design Inteligente como ciência autêntica. Só que esse video, até minha mente padawan consegue discernir o que Dawkins quis dizer.
            O que fode nisso tudo é que tem muita crentalha achando que com isso, dá provas que o Deus deles existe. Mas isso não entra no contexto. O que me instigou foi o fato do Genoma.

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          1. @Joseph K,
            WHAT THE HELL!! Nunca tinha me sentido tão necessitado em aprender Inglês em toda minha vida. Quem disse que a vida é fácil, né? Valeu por outro link. :razz:

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  2. Qual a importância de estar ou não sorrindo? Se provarmoque que a Gioconda está sorrindo em que isso via contruibuir? Esse sim é um grande mistério.

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          1. @André,
            Eu disse um estrondoso trocadilho e nem percebi :lol:
            Eu disse no sentido de que você não tem paciência em querer dizer pormenores. Prefere ir logo pro sarcarmos. Mas dá pra entender isso. Desde de 2007 discutindo com religiosos ignorantes não é pra qualquer um. :lol:

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          2. Eu tenho paciência para quem quer aprender. E não estou desde 2007. O Ceticismo.wordpress foi fundado em 2006, mas eu já saía na porrada com crente muito antes.

            A bem da verdade, eu tive ótimos embates (não perdi nenhum), como na comunidade Contradições da Bíblia, que perdeu muito do seu material graças aos bugs do Orkut.

            Os crentes de antes sabiam debater melhor. Agora só restou um bando de retardadinhos que nem escrever sabem, formados por moleques igrejeiros que entraram na escola dominical ontem, ou só acessa site apologético tosco. Nem o Answer in Genesis leva estes babacas a sério.

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  3. Eu não vejo ela sorrindo… mas como o artigo mesmo diz, cada um vê o que quer (ou o que o seu cerebro quer….)
    By the way, não vi utilidade em se fazer um estudo sobre isso, mas achei interessante. :mrgreen:

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  4. Deixe-me explicar: é que preferem dar mais valor para uma procaria de um quadro do que a todo avanço científico de Leonardo da Vinci, principalmente na área da engenharia

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