Moralidade, Ética e Religião

Por Marcos de Almeida

ethics-1.gifÉ possível que haja uma moralidade sem religião? É necessário existir um deus ou deuses de modo a que isso se torne indispensável para a moralidade? O fato de que algumas pessoas não são religiosas, as impedem de ser, automaticamente, morais? E se a resposta a estas questões exigirem a crença em uma divindade, qual das religiões é o real fundamento para a moralidade? A grande constatação é que ao olhar-se o quadro mundial dos dias de hoje, é possível afirmar que existem conflitos em número equivalente ao das religiões e pontos de vista religiosos.

A religião é uma das mais antigas instituições humanas. Há, por exemplo, pouca evidência de que a linguagem tenha existido em tempos pré-históricos, mas temos evidências claras de que práticas religiosas já eram interligadas com expressões artísticas e de que leis ou tabus exortavam os seres humanos daquela época a comportarem-se de certas maneiras. Naqueles tempos primordiais a moralidade estava implantada nas tradições, hábitos, costumes e práticas religiosas de cada cultura.

Além disso, a religião servia (como o fez até bem recentemente) como a mais poderosa das sanções para manter as pessoas, moralmente bem comportadas e obedientes. As sanções de recompensa ou punição tribal eram desprezíveis ao lado da idéia de uma punição ou recompensa tão grande, que poderia ser mais terrivelmente destrutiva ou mais deliciosamente compensadora do que qualquer outra que os simples mortais pudessem oferecer.

Entretanto, o fato de que a religião possa ter precedido qualquer código legal formal, ou sistema moral separado, na história da raça humana, ou por que possa ter fornecido sanções poderosas e efetivas, para um comportamento moral, não prova de modo algum, que a moralidade deva ter, necessariamente, uma base religiosa. Meu argumento é, precisamente, o de que, por múltiplas razões, a moralidade não necessita e, de fato, não deve ser baseada somente na religião, muito embora, como adverte Fabri dos Anjos, a religiosidade (e não uma religião em particular ) e a idéia daquilo que nos é transcendente (não necessariamente uma divindade, sejam antropologicamente inerentes ao nosso refletir bioético.

Que razões seriam estas?

Em primeiro lugar, de modo a provar que é obrigatório ser religioso para poder ser moral, teríamos que demonstrar conclusivamente que um mundo supranatural existe e que a moralidade existe lá tanto quanto no mundo natural. Mesmo que isso possa ser demonstrado, o que é altamente improvável, teríamos que mostrar que a moralidade lá existente tem alguma conexão com aquela presente em nosso mundo. Parece óbvio, no entanto, que ao lidar com as questões morais, a única base que temos, para exercitar nosso pensamento ético, é este mundo em que vivemos, as pessoas que nele existem, as idéias e valores que elas possuem e as ações que elas praticam.

Um teste, para a veracidade dessa razão, seria tomar qualquer conjunto de preceitos religiosos e perguntar, francamente, quais deles seriam absolutamente indispensáveis para o estabelecimento de qualquer sociedade moral. Por exemplo, podemos usar os Dez Mandamentos sem validar os três primeiros. Os três primeiros podem ser um conjunto necessário para uma comunidade judaica ou cristã, mas se uma comunidade não religiosa seguir, rigorosamente, apenas os mandamentos de quatro a dez, de que modo, refletindo moral e honestamente, as duas comunidades diferem? Não estou querendo dizer que a moralidade não possa ser atrelada à religião; é um fato real que tem sido, é e, provavelmente, será no futuro. O que estou querendo dizer é que a moralidade não precisa ser fundada, de modo algum em uma religião. A religião, definitivamente, não é indispensável para a moralidade. E acrescentaria ainda, que existe um enorme risco real (demonstrado múltiplas vezes pela história), da restrição e da intolerância, caso uma religião passe a ser o referencial, o único fundamento da moralidade.

Se pudermos, de modo sumário, caracterizar a moralidade desse mundo, como não ferir ou matar os outros e, de um modo geral, tentar tornar a vida e o mundo melhor para todos e tudo o que nele existe, e se muitos seres humanos não aceitarem a existência de um mundo supranatural e, ainda assim agirem tão moralmente quanto quaisquer outros que acreditam, então deve haver alguns outros atributos, diferentes das crenças religiosas, que são necessários para alguém ser moral. Embora seja óbvio que a maioria das religiões contenha sistemas ét icos, isso não transforma em verdade a afirmação de que todos os sistemas éticos tenham uma base religiosa; por tanto não existe uma ligação obrigatória entre moralidade e religião. O simples fato de que pessoas completamente não religiosas (como, por exemplo, vários eticistas ateus humanistas), podem desenvolver sistemas éticos significativos e consistentes, é prova suficiente disso.

Fornecer um fundamento racional para um sistema ético já é bastante difícil, sem ter de oferecer também um fundamento para a religião que propõe tal sistema ético. E a dificuldade de fundamentar racionalmente a maioria dos sistemas religiosos é inescapável. É impossível comprovar conclusivamente a existência de alguma supranatureza, pós-vida, deus ou deuses. Nem precisamos apelar para os argumentos modernos e tradicionais, sobre a existência ou inexistência de um deus ou deuses neste ponto, mas simplesmente verificar que não há evidência conclusiva de que tais seres existam ou não existam.

Portanto, se nenhuma evidência é conclusiva e nenhuma lógica dos argumentos é irrefutável, então a existência de um mundo supranatural, um pós-vida, um deus ou deuses, fica pelo menos colocada na categoria das coisas não provadas. Isso, naturalmente, não significa que grande número de pessoas não continuará a acreditar nas suas existências, baseando suas crenças na fé, no medo, na esperança ou na sua própria leitura das evidências. Todavia, como fundamentação lógica da moralidade, as religiões são, de fato, muito frágeis, exceto para aqueles que crêem. Acreditar que Deus, ou um pós-vida exista, pode fazer as pessoas sentirem-se melhor agindo de determinadas maneiras. Pode igualmente fornecer poderosos reforços para alguém agir moralmente (ou, pelo menos, não agir imoralmente) . Só que isso não se configura como uma fundamentação racional válida para a moralidade, que nos forneça razões, sent imentos, evidência ou lógica para agirmos de um modo e não de out ro. A qualidade moral de um ato reside no fato dele ter sido escolhido livremente e não comandado. Como declarou Scriven: “A religião pode fornecer um fundamento psicológico, mas não lógico para a moralidade”.

Ainda que as religiões pudessem ser racionalmente fundamentadas, qual religião deveria ser a escolhida como a base para a ética humana? Dentro de uma religião em part icular, essa questão é facilmente respondida, mas, obviamente, não respondida de modo satisfatório para os membros de outras religiões conflitantes, ou para aqueles que não acreditam em qualquer religião. Mesmo se os pressupostos das religiões pudessem ser conclusivamente provados, qual religião deveríamos aceitar como a verdadeira e legítima geradora da moralidade? É claro que existem muitas religiões que têm muitas prescrições éticas em comum, como, por exemplo, não matar. Mas é também bastante evidente que existem numerosas prescrições não congruentes.

Só para ficar no cristianismo, por exemplo, há muitas declarações éticas em desarmonia, relacionadas a sexo, guerra, casamento, divórcio, roubar e mentir.

Em resumo, qual a conexão entre a religião e a moralidade? A resposta é que não há uma conexão necessária. Pode-se ter um sistema ético completo, sem mencionar outra vida, que não esta, deus ou deuses, nada supranatural, ou qualquer pós-vida. Quer dizer, então, que para sermos morais precisamos evitar a religião? De modo nenhum! Os seres humanos devem ser permitidos livremente a acreditar ou desacreditar, desde que exista alguma base moral que proteja todas as pessoas contra tratamento imoral tanto nas mãos de religiosos, como de não-religiosos. Uma religião que advogue o sacrifício humano de não-voluntários, não pode ser permitida existir dentro de um sistema moral amplo. Se, por outro lado, as religiões puderem aceitar alguns princípios morais abrangentes e seus membros puderem agir de acordo com tais princípios, então eles podem coexistir com pessoas não religiosas e, ao mesmo tempo, manterem seus próprios princípios de modo significativo, sem pretenderem impor suas crenças.

Nos dias atuais é uma insanidade pretender que as pessoas cresçam ingênuas. Não podemos, e certamente não devemos, re-introduzir a famigerada era da credulidade. Está muito claro que o dogmatismo é um terrível obstáculo à educação e temos a convicção que representa um enorme perigo. Existe uma tendência, há muito perceptível nos Estados Unidos, e que vem aumentando também em outras partes do mundo, de tentar enveredar pelos caminhos do fundamentalismo religioso. A principal característica de qualquer religião fundamentalista seja cristã, judaica ou muçulmana, é que ela se baseia em um texto que supostamente deve funcionar como fundamento para a educação e a verdade. O conhecimento é, assim, finito, e essencialmente a-histórico. Dessa maneira, o único conhecimento novo permitido deve ser uma nova interpretação de um certo texto que, por supostamente conter verdades que foram definitivamente reveladas, não é um objeto adequado para uma investigação crítica ou histórica.

O fundamentalismo é um convite, uma exortação, para se aceitar inquestionavelmente o que é tido como sendo os ensinamentos centrais da fé (e isto não apenas com relação a questões como a criação do mundo, mas em assuntos do século XX, como engenharia genética, clonagem terapêutica, células-tronco, etc.). Dessa forma negativa, o fundamentalismo atua como um empecilho à pesquisa científica e à busca de evidências históricas. O fundamentalista não acredita que seja desejável possuir conhecimento, seja para onde for que este o possa levar. O conhecimento não é considerado um objetivo em si. A mensagem é que nós deveríamos acreditar naquilo que nossos professores de religião nos ensinam e não nos intrometer em questões que seria melhor deixar ocultas. No entanto, o fato é que não podemos desaprender o que foi uma vez descoberto e demonstrado. Não devemos e não podemos desejar voltar ao período medieval, à era pré-Galileu ou pré-cartesiana. É impossível, ainda que tentássemos, acreditar que o que Aristóteles e Tomás de Aquino disseram, consistia na soma de todo o conhecimento possível.

Dizer que a ética é independente da religião não é negar que teólogos ou outros crentes religiosos possam ter um importante papel a desempenhar em Bioética. Tradições religiosas freqüentemente têm longas histórias no trato com dilemas éticos; e o acúmulo de sabedoria e experiência que representam, podem fornecer valiosos modos de enxergar determinados tipos de problema. Só que esses modos de enxergar devem estar submetidos à análise crítica, na mesma medida em que quaisquer outras propostas devam sê-lo. Se, no final, nós as aceitarmos, será porque as julgamos sólidas e racional e emocionalmente justificáveis, e não meramente porque sejam declarações de um papa, um bispo evangélico, um rabino, um monge budista, um mulá ou qualquer outra pessoa supostamente infalível ou sagrada.

Toda decisão moral deve ser embasada, fundamentalmente, em três elementos: a maior quantidade de conhecimento que se possa adquirir sobre a questão, o tempero do sentimento e da emoção humanos e, sobretudo, o máximo de liberdade e isenção para fazer a escolha. Isso adiciona predicado humanitário à nossa estatura ética e confere responsabilidade real à escolha. Sem conhecimento, sem sentimento, sem isenção e sem liberdade para decidir, não há ação moral possível. Há imposição. Mando e obediência. E toda imposição é moralmente injustificada, teologicamente herética, subversiva da dignidade humana e, pior do que tudo é obscurantista e espiritualmente opressiva.

Não há qualidade moral em um teatro de marionetes.

Com toda a certeza, claramente não nas próprias marionetes!

12 comentários em “Moralidade, Ética e Religião

  1. O facto de existirem ateus com padrões morais liga-se com a cultura e a civilização onde existe sempre a religião. Não é possível uma civilização sem religião — basta estudar a História. Ler Spengler.

    Na sua “Crítica da Razão Pura”, Kant provou a existência de valores e conhecimentos universais que existem independentemente da experiência humana. Não é preciso experimentar para conhecer. Por exemplo, a matemática tem conceitos que a experiência jamais poderá comprovar, e por isso, a matemática encerra em si conceitos “a priori” da Razão Pura que existem independentemente da ciência poder experimentá-los. Certo?

    Exactamente porque esses juízos de Razão Pura sempre existiram desde que o ser humano existe, por isso a religião existe desde sempre nas sociedades humanas. Os ateus nada mais fazem do que basear todo o seu conceito conhecimento no empirismo (experiência), por uma questão de sensibilidade pessoal, ignorando a Razão validada pelo universo e que não depende da experiência humana.

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    1. Orlando;
      Boa-noite!

      Esquecestes também de dizer que Kant destruiu a metafísica enquanto objeto científico e disse que Deus (ou qualquer outra experiência com divindades e et e all) por extrapolarem o limite da ‘experiência possível’, jamais poderia(m) ser objeto da ciência.

      Já no livro ‘A religião nos limites da simples razão’, Kant tenta (sem logar êxito, haja vista que parte de princípios incognoscíveis) enquadrar o sistema religioso dentro do pensamento puramente racional, descartando a revelaçãod ivina por meio de livros sagrados ou manifestações extra-sensoriais (delimitadas unicamente pelo espírito).

      As premissas (sabe como Kant era, né? Ele, para produzir qualquer texto, sempre buscava estabelecer premissas/princípios) das quais ele partiu foram o princípio do bom e do mau, como se o homem não pudesse guardar em si uma dualidade.

      De mais a mais, em toda a obra produzida por Kant, há a questão moral como principal, ou seja: não seria a moral fruto da religião, mas a religião como filha da moral.

      Bueno, nada justificaria a produção de premissa que dissesse que o ateu não possui moral própria. Por óbvio que considero como ‘moral’ o conjunto de valores, acerca do bem e do mal, justo e injusto, belo e feio, eleitos por determinado grupo social e tornados obrigatórios por força de convenções.

      Enfim…..Ateus podem sim possuir ‘moral própria’, independentemente do fenômeno religioso, aliás, muito se discute se o fenômeno religioso seria nato ao homem ou se criado artificialmente.

      Sua filosofia é fraca, assim como teus argumentos.

      Obrigada pela visita e comentários.

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      1. Esquecestes também de dizer que Kant destruiu a metafísica enquanto objeto científico e disse que Deus (ou qualquer outra experiência com divindades e et e all) por extrapolarem o limite da ‘experiência possível’, jamais poderia(m) ser objeto da ciência.

        Não é verdade o que Kant defendeu? Wittgenstein não disse o mesmo, por outras palavra (como ele escreveu: “se não pode falar, cale-se”)

        Já no livro ‘A religião nos limites da simples razão’, Kant tenta (sem logar êxito, haja vista que parte de princípios incognoscíveis) enquadrar o sistema religioso dentro do pensamento puramente racional, descartando a revelaçãod ivina por meio de livros sagrados ou manifestações extra-sensoriais (delimitadas unicamente pelo espírito).

        Kant desdogmatizou a religião. Para ele a “ética do dever” era a boa religião, aquela religião que se procura o bem do “outro”. Kant defendeu e foi o precursor da “fé racional”, que está hoje na moda. Não entendo a crítica, vinda de alguém que defende o ateísmo.

        As premissas (sabe como Kant era, né? Ele, para produzir qualquer texto, sempre buscava estabelecer premissas/princípios) das quais ele partiu foram o princípio do bom e do mau, como se o homem não pudesse guardar em si uma dualidade.

        O que é que a Fátima está a fazer com o seu comentário? Não está a estabelecer princípios/premissas das quais parte para o positivo e negativo? O facto de se estabelecer princípios não significa a negação automática da natureza humana, que inclui a dualidade instintiva (animal) e racional. Kant defendeu claramente a existência essa dualidade.

        De mais a mais, em toda a obra produzida por Kant, há a questão moral como principal, ou seja: não seria a moral fruto da religião, mas a religião como filha da moral.

        Esta proposição faz parte de uma teoria reducionista muito em voga pelos opositores de Kant. Kant incomoda tanto os religiosos fanáticos como os ateístas fanáticos. Kant escreveu claramente: “A religião é o reconhecimento de todos os deveres (morais) como ordens divinas” (ler em “A religião nos limites da razão”, de Kant). Se Kant escreveu isto, não sei como a proposição supracitada pode ter alguma coerência. As análises simplistas dão em reducionismos que dão jeito mas caem como baralhos de cartas em equilíbrio precário.

        Bueno, nada justificaria a produção de premissa que dissesse que o ateu não possui moral própria. Por óbvio que considero como ‘moral’ o conjunto de valores, acerca do bem e do mal, justo e injusto, belo e feio, eleitos por determinado grupo social e tornados obrigatórios por força de convenções.

        O ateu tem a moral herdada, como o religioso tem. A diferença é que o religioso transmite essa moral, enquanto que o ateu não dá importância a essa transmissão cultural. Kai Nielsen, um ateu inveterado e cientista, escreveu há pouco tempo:
        «Nós não conseguimos demonstrar que a Razão requer um ponto de vista moral, ou que pessoas realmente racionais, desligadas de qualquer mito ou ideologia, têm necessidade de não serem egoístas ou amorais. A Razão não decide nada nesta área da vida humana. O cenário que vos descrevo aqui não é, de todo, agradável.»

        Sua filosofia é fraca, assim como teus argumentos.

        Esta sua conclusão revela muita coisa. As pessoas que julguem, que eu não julgo em causa própria.

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  2. Já que ninguém alimentou a conversa, aqui vai mais uma dica: servi-me do Empirismo de John Locke para provar que o ateu não tem uma moral própria.

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    1. Deixe-me ver, John Locke era um religioso e disse que ateus não têm moral porque não fazem juramentos.

      O que tem uma coisa a ver com outra? Se religiosos tivessem respeito pela crença alheia, não teria havido as trocentas guerras, perseguiçoes, Inquisição (católia e protestante), terrorismo islâmico e nem as milhões de mortes que elas têm patrocinado ao longo da história. Logo, seu argumento é um lixo.

      Sim, não tenho tolerância com quem fala besteira. A menos que vc me dê provas empíricas do que vc está dizendo e não apenas uma mera masturbação mental.

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  3. Locke é considerado “o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua”[1]. Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão negra, pois, aparentemente, ele só considerava como humanos os homens livres. Locke contribuiu para a formalização jurídica da escravidão na Província da Carolina, cuja norma constitucional dizia:

    […] todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os seus escravos negros seja qual for sua opinião e religião.

    Ele também investiu no tráfico de escravos negros.[2]

    [1] David B. Davis, The Problem of Slavery in the Age of Revolution, 1770-1823 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1975), p. 45, apud Domenico Losurdo, Contra-História do Liberalismo (Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006 [editado em italiano em 2005]), p. 15.

    [2]Ver Domenico Losurdo, Contra-História do Liberalismo, pp. 15-16.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke#Defesa_da_escravid.C3.A3o

    John Locke, autor da clássica explicação do direito à revolução para a proteção da liberdade, não cogitou de estender esse direito aos pobres sem terra. Ao contrário, imaginou para eles e seus filhos um esquema de trabalho forçado. As crianças deveriam começar aos três anos de idade em instituições públicas, chamadas escolas de trabalho porque a única matéria ali ensinada seria o trabalho (fiação e tricô). Seriam pagas com pão e água e cresceriam “habituadas a trabalhar”. Enquanto isso, as mães, liberadas do cuidado dos filhos, poderiam ir trabalhar com seus pais e maridos. Se não conseguissem um emprego regular, então poderiam também ser enviadas à escola de trabalho.

    C.B. Macpherson, The political theory of possessive individualism, Oxford, 1962, p. 221-224; H. R. Fox Bourne, The life of John Locke, 2 v., London, 1876, II, p. 377-390.

    Cit. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100007

    Res ipsa loquitor, filhão. Vai estudar História, vai.

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      1. Locke era cristão e, como reza em seu livro religioso, era escravocrata. Hitler era cristão, viveu no século XX e não só era eugenista, como exterminou judeus, homossexuais, ciganos e qualquer um que fosse contra sua política. Que tal?

        Quer mais exemplos? Monteiro Lobato tb era eugenista. Você pode dizer que Dawkins é eugenista. Primeiro, teria que provar, segundo terá que provar que TODOS os ateus são eugenistas.

        Quantas passagens bíblicas vc quer que eu coloque aqui, mostrando que ela é discriminatória, escravagista, assassina, misógina e violenta?

        Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento. E posto as strongs em hebraico e grego se quiser.

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        1. 1.No século XVII, 99,9% dos europeus ou defendiam a escravatura ou davam a escravatura como sendo algo de normal. John Locke não fugiu à regra. Só podemos julgar uma época histórica à luz dos conceitos vigentes nessa época. Quando julgamos, por exemplo, a escravatura na Grécia Antiga à luz dos conceitos do século 21, incorremos no que se chama de “falácia de Parménides”.

          2.Não sei quem foi Monteiro Lobato, mas Dawkins é eugenista. Não preciso provar: basta fazer uma pesquisa no Google: “Dawkins Eugenism”. Todo o ateu que se preze é sempre evolucionista e darwinista. O darwinismo aplicado à sociedade só pode resultar num eugenismo, porque o evolucionismo defende a selecção natural (a lei do mais forte) como algo de sacrossanto. Não consigo entender um ateu que não seja evolucionista.

          3.O desconstrucionismo ideológico (segundo as ideias e conceitos do século 21) aplicado ao Antigo Testamento pode levar à conclusão de que se trata de um documento “discriminatório, esclavagista, assassino, misógino e violento”. Da mesma forma, o desconstrucionismo ideológico pode levar à conclusão que as obras de Shakespeare são misóginas, ou de que a poesia de Luís de Camões era colonialista, imperialista e machista. A gente sempre pode desconstruir um texto (ver Heidegger) para chegar a uma interpretação diferente daquela que histórica e culturalmente fora adoptada. O Pós-modernismo trouxe consigo a liberdade de cada um interpretar a História como quiser. O Presentismo é outra coisa: é tentar apagar a História, condenando-a e impondo um pensamento único, construindo o futuro hipotético, utópico e ideal em função de premissas do passado e presente julgadas a partir de conceitos actuais.

          4.Hitler era cristão? Eu não sabia. A gente está sempre a aprender. .

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          1. 1.No século XVII, 99,9% dos europeus ou defendiam a escravatura ou davam a escravatura como sendo algo de normal. John Locke não fugiu à regra.

            Será porque a maioria era cristã?

            Só podemos julgar uma época histórica à luz dos conceitos vigentes nessa época. Quando julgamos, por exemplo, a escravatura na Grécia Antiga à luz dos conceitos do século 21, incorremos no que se chama de “falácia de Parménides”.

            A Europa no início do século XX era anti-semita. Os pogroms não começaram com o nazi-socialismo. Logo, seria certo aceitar o extermínio de judeus como algo normal? Deixa de ser tosco. Essa besteira de Falácia de Parmênides pode ser usada para justificar qualquer atrocidade ocorrida ao longo da história.

            2.Não sei quem foi Monteiro Lobato

            Mrs. Google ensina.

            mas Dawkins é eugenista. Não preciso provar:

            Falar mal de Locke é ad hominem, mesmo apresentando as provas, acusar dawkins sem provas não é? Seu senso de justiça é algo digno de religiosos mesmo. Primeiro acusam e queimam na fogueira. Séculos mais tarde é que reconhecem “é, até que vcs estavam com a razão…”

            Giordano Bruno não é um bom exemplo?

            basta fazer uma pesquisa no Google: “Dawkins Eugenism”.

            Puxa, eu procurei. Não é interessante que os links que retornaram são de sites religiosos? Que tal? O problema, linduxo, é o que vem escrito na capa do livro dele:

            “os homens viveriam melhor sem crenças religiosas”

            O detalhe é que quem disse isso foi o editor e não ele. Mas, se vc me mostrar alguma publicação assinada pelo Dawkins, deixando claro que ele defende a eugenia…

            Lembre-se: Onus Provandis. Vc acusou, vc tem a obrigação de provar. :-)

            Todo o ateu que se preze é sempre evolucionista e darwinista.

            Mas, nem todo evolucionista tem que ser necessariamente ateu. A Igreja Católica reconheceu a Teoria da Evolução como fato. Qual é a sua formação para alegar que não é? Jornalista que nem o Sabino?

            O darwinismo aplicado à sociedade só pode resultar num eugenismo

            Infelizmente, IGNORANTE, Darwin nunca falou nada de sociedades. Vai estudar. Compre a Origem das ESPÉCIES (eu disse ESPÉCIES E não SOCIEDADES) e leia a porra do livro, ao invés de proceder como inquisidores medievais, que queimavam livros sem ler.

            porque o volucionismo defende a selecção natural (a lei do mais forte) como algo de sacrossanto.

            Sua filosofia é fraca, seu conhecimento em história é pífio e seus fundamentos de biologia são como sua crença: estúpidos. A Seleção Natural diz que o MAIS ADAPTADO ao ambiente, e não o mais forte, consegue se manter vivo, gerando descendentes. Você pode ser um leão furiosíssimo, mas isso não o fará viver no mar. Duhhhh

            Se a Seleção Natural, meu pobre ignorante, favorecesse o mais forte, então ainda teríamos dinossauros por aí e os mamíferos nunca teriam dominado a Terra. Portanto, deixe de se sentir importante. Você só está aí por mero acaso. Se tem algo especista, chauvinista e preconceituoso é a crença ridícula, estúpida e imbecilóide que afirma que o mundo foi criado para que o ser humano dominasse.

            Não consigo entender um ateu que não seja evolucionista.

            Eu consigo entender porque muitos religiosos são evolucionistas: são os poucos inteligentes que existem :-P

            Não é o seu caso, como pudemos perceber.

            3.O desconstrucionismo ideológico (segundo as ideias e conceitos do século 21) aplicado ao Antigo Testamento pode levar à conclusão de que se trata de um documento “discriminatório, esclavagista, assassino, misógino e violento”. Da mesma forma, o desconstrucionismo ideológico pode levar à conclusão que as obras de Shakespeare são misóginas, ou de que a poesia de Luís de Camões era colonialista, imperialista e machista.

            Isso significa que podemos apedrejar pessoas por adultério como ainda se faz no Oriente Médio?

            A gente sempre pode desconstruir um texto (ver Heidegger) para chegar a uma interpretação diferente daquela que histórica e culturalmente fora adoptada.

            Ué, não entendi. Se podemos ter como fonte de verdade absoluta que o mundo foi criado por um deus qualquer, mas quando mostramos que o mesmo livro é misógino e escravocrata, dá-se o nome de desconstruciuonismo? Quer dizer que só podemos considerar as partes bonitinhas da Bíblia, hein? Troféu Cara-de-Pau pra vc. Em poucas linhas desbancou a maior parte dos crentes que vieram aqui. Sabino conseguiu um oponente à altura. Devem ser parentes, vai saber…

            O Pós-modernismo trouxe consigo a liberdade de cada um interpretar a História como quiser. O Presentismo é outra coisa: é tentar apagar a História, condenando-a e impondo um pensamento único, construindo o futuro hipotético, utópico e ideal em função de premissas do passado e presente julgadas a partir de conceitos actuais.

            Lamento, este blábláblá não fará com que as pessoas mortas e assassinadas por motivos religiosos, ao longo da história voltem à vida. Este blábláblá não fará com que a perseguição a pessoas quye pensam diferente, como acontece no Bible Belt nos EUA deixe de acontecer. Este blábláblá não fará toda a sujeira cristã ser varrida para debaixo do tapete, pois tais perseguições, discriminações (a homossexuais, mulheres e livre-pensadores) deixem de existir.

            4.Hitler era cristão? Eu não sabia. A gente está sempre a aprender. .

            Viu o que eu disse? Seu mau-caratismo (ou ignorância estupenda?) o faz ignorar fatos mais do que comprovados. Vai dizer que não sabia que o próprio Pio XII defendeu as atrocidades nazistas? Vai dizer que nunca leu nada, mas nada mesmo sobre isso? Que tal um discursinho do austríaco maluco?

            “My feelings as a Christian points me to my Lord and Savior as a fighter. It points me to the man who once in loneliness, surrounded by a few followers, recognized these Jews for what they were and summoned men to fight against them and who, God’s truth! was greatest not as a sufferer but as a fighter. In boundless love as a Christian and as a man I read through the passage which tells us how the Lord at last rose in His might and seized the scourge to drive out of the Temple the brood of vipers and adders. How terrific was His fight for the world against the Jewish poison. To-day, after two thousand years, with deepest emotion I recognize more profoundly than ever before the fact that it was for this that He had to shed His blood upon the Cross. As a Christian I have no duty to allow myself to be cheated, but I have the duty to be a fighter for truth and justice… And if there is anything which could demonstrate that we are acting rightly it is the distress that daily grows. For as a Christian I have also a duty to my own people.

            Speech on 12 April 1922 (Norman H. Baynes, ed. The Speeches of Adolf Hitler, April 1922-August 1939, Vol. 1 of 2, pp. 19-20, Oxford University Press, 1942)

            Um é pouco? Que tal mais um?

            How many of my basic principles were upset by this change in my attitude toward the Christian Social movement! (Mein Kempf)

            Quer uma do Goebbels, também?

            Christ is the genius of love, as such the most diametrical opposite of Judaism, which is the incarnation of hate. The Jew is a non-race among the races of the earth…. Christ is the first great enemy of the Jews…. that is why Judaism had to get rid of him. For he was shaking the very foundations of its future international power. The Jew is the lie personified. When he crucified Christ, he crucified everlasting truth for the first time in history.

            -Joseph Goebbels, Michael: Ein deutsches Schicksl in Tagebuchblattern (Munich, 1929).

            Quer mais, ou basta?

            Vai estudar, moleque. Sua filosofia de merda não fará os erros dao passado serem apagados. E Ceticismo, Ciência & Tecnologia ficará lembrando isso por muito tempo. Queiram ou não.

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    1. Raysa,
      boa-noite!

      Escrever faSer mostra que vc precisa estudar mesmo. Mas, não se sinta desestimulada, continue! :grin: :grin:

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