
Em Mateus 19:21, Jesus fala para um jovem rico: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu”. Notem bem: Jesus manda dar aos pobres. Não manda dar para construir santuários de doze milhões de dólares. Não manda dar especificamente dois mil dólares organizados em filas por incremento. E, crucialmente, não manda corrigir publicamente quem deu menos do que ele acharia que é o certo. (aliás, em Mateus capítulo 6, o próprio Jesus fala que quem reza em igrejas é hipócrita).
O bispo Marvin Winans, um pastor que, aparentemente, leu uma versão alternativa das Escrituras. Aquela em que Jesus vira um gerente de projetos obcecado por metas financeiras e divide a congregação em categorias de doadores como se estivesse organizando um programa de milhagem aérea. E assim, em um domingo qualquer, ele transformou um “Day of Giving” (Dia da Doação) no tipo de situação constrangedora que faria até um consultor de comunicação corporativa ter um colapso nervoso.
A cena se passou em Perfecting Church em Detroit, durante um evento dedicado a arrecadar fundos para completar a construção de um novo santuário (mais um!). Winans decidiu que aquele domingo seria o dia de bater a meta, já se preparando para dobrar a meta. Nobre causa, talvez. O problema começou quando ele resolveu comunicar suas expectativas financeiras usando uma linguagem que faria qualquer coach de investimentos ficar corado de vergonha (isso é força de expressão. Esse tipo de ser nunca se daria a esse luxo).
“Mil mais um”, repetia Winans para a congregação. “Mil mais um!”. O que diabos é esse mil e um dólares? Mil dólares mais um dólar simbólico? É uma equação matemática? Uma parábola moderna? Não, é mil dólares mais hum mil dólares (escrevi como os antigos contadores d’Antanho).
O bispo (cof cof cof) Winans preferiu a abordagem críptica, como se estivesse testando quem realmente prestava atenção no sermão. Spoiler: quase ninguém entendeu. Bem, uma dona chamada Roberta McCoy certamente não entendeu. Membro fiel da Perfecting Church desde 2013, ela subiu ao púlpito acompanhada de seu filho pequeno, pronta para fazer sua contribuição. Com a solenidade de quem está cumprindo um dever sagrado, declarou sua oferta de mil e duzentos e trinta e cinco dólares.
Pena que o pastosco tinha outros planos em mente. Ao pegar o envelope, ele não perdeu tempo: “Isso são apenas mil e duzentos dólares”. Pausa dramática. “Vocês não estão ouvindo o que eu estou dizendo… Se você tem mil mais mil…”
Imagine a cena. A mulher ali, de pé, com o filho ao lado, sendo corrigida como uma aluna que errou a resposta no quadro negro. Diante da congregação inteira. Em pleno culto transmitido ao vivo. Roberta, tentando recuperar a situação, ofereceu: “Ok, vou trabalhar nos outros oitocentos dólares”. Mas Winans cortou: “Isso não é o que eu pedi que você fizesse”.
O vídeo viralizou com a velocidade de um milagre digital, acumulando milhões de visualizações. E quando você consegue unir católicos, evangélicos, ateus e agnósticos em um único sentimento de “mas que absurdo é esse?”, você realmente alcançou algo especial.
Quem é Marvin Winans, afinal? Nascido na famosa família Winans – uma dinastia gospel americana –, ele não é apenas um pastor, mas também cantor renomado com patrimônio estimado em cinco milhões de dólares. Sua irmã CeCe tem oito milhões. Seu irmão BeBe, três milhões. Ele apareceu na sitcom “House of Payne” do Tyler Perry. É um homem pobre, desapegado a bens materiais, como Jesus orientou que todos o fossem.
A Perfecting Church, que ele fundou em 1989, vem trabalhando desde 2002 em um projeto de construção de novo santuário estimado entre dez e doze milhões de dólares. Vinte e três anos de construção, para quem está contando. É uma verdadeira obra de igreja, sem nem chegar perto da Sagrada Família de Gaudí.
Há sempre dois lados em uma história, certo? Depois da tempestade de críticas, tanto Winans quanto Roberta McCoy saíram em defesa do pastor. Ela declarou: “Ele absolutamente não me repreendeu. Há uma diferença. Houve uma correção”. Winans explicou que estava organizando as ofertas por incrementos para evitar que as “mães” ficassem em pé por muito tempo. Aham, estou muito convencido!
A ironia final é que Roberta McCoy, apesar de tudo, continua sendo membro da Perfecting Church e afirma que continuará doando. É o tipo de lealdade que faria qualquer gerente de relacionamento com cliente chorar de alegria ou um namorado tóxico que se lambeu todo a saber que a guria que ele está sentando a porrada e roubando tudo dela ainda está apaixonada por ele. Ou talvez seja apenas fé verdadeira… ou estupidez colossal.
Eu só queria saber se aparecesse um pobre miserável pedindo ajuda a Tia Berta se ela ajudaria. Nhé, eu sei a resposta, ela mandaria thoughts and prayers e diria que não tem dinheiro. Mesmo porque, ela deu tudo para um prédio que não faz obra social. Eu ouvi um amém?
Quanto a Winans, ele queria mil mais mil. Ele conseguiu milhões de visualizações, uma crise de relações públicas e uma lição sobre como não pedir dinheiro em pleno século XXI, mas sabe muito bem que vai funcionar, porque as pessoas são burras, crédulas e estupidamente idiotas a ponto de fazer tudo o que um corno fala porque ele é pastô!
Às vezes, o universo tem um senso de humor peculiar sobre como ensinar humildade. Especialmente quando você esquece que, em qualquer versão do evangelho que eu conheço, o valor da oferta da viúva pobre valia mais que os tesouros dos ricos.
Mas ei, o que eu sei? Não sou pastor, não tenho 2 mil dólares sobrando e nem sou retardado para ficar dando dinheiro pra um Zé Ruela enriquecer às minhas custas.
Fonte: NY Post

Quando chega nesse nível já era. A tia já passou pela lavagem cerebral completa. =/
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