O gênio do crime que saiu do julgamento pela porta da frente e voltou pela dos fundos

Do alto do meu ceticismo eu acho que já vi de tudo, e nada me surpreende. Infelizmente, morar no Brasil nos dá a capacidade X-Men de se surpreender com brasileiro e suas insânias, graças à sua genialidade invertida, sua criatividade para o absurdo, sua maestria em transformar vitória em derrota num piscar de olhos.

Um sujeito foi absolvido de assassinato na terça-feira, dia 9 de setembro, o que parece ser um número cabalístico do Inferno, já que logo em seguida ele foi em cana. Motivo: tinha levado droga pro tribunal.

O caso aconteceu no 2º Tribunal do Júri de Belo Horizonte. O homem estava sendo julgado por um crime de 2021. A vítima, Osmar Marques de Oliveira, foi agredido com pauladas e pedradas no Parque Guilherme Lage. Não que ele fosse flor que se cheirasse. O tio era bebum, e num dia que estava chapadaço resolveu fazer suas necessidades fisiológicas na rua, expondo seu órgão genital. Uma tia fez queixa ao dono do movimento alegando que o velho era pedófilo; realmente, ele não era, mas o ômi não quis saber e mandou quebrar o cara. Só que o perpetrador era um prego e foi pego.

Quatro anos depois, o puto estava lá no banco dos réus, provavelmente suando frio, rezando para todos os santos, prometendo para si mesmo que se saísse dali iria virar padre ou pelo menos começar a frequentar a igreja, nem que seja para meter a mão em algum infiel. O júri o absolveu. Liberdade, meu amigo! Vitória! TODOS COMEMORA!!

Só que tem um detalhe. Um detalhezinho insignificante. O cara levou um pino de cocaína para o julgamento. Leiam novamente. Beeeem devagar. Deixem a informação sedimentar no cérebro como areia no fundo de um aquário.

Como usar uma camiseta “MENGÃO É FODA” num churrasco na casa do seu sogro que mora na Barreira do Vasco. É um nível de genialidade estratégica que desafia as leis da física e da lógica.

Imaginem a cena. O cara sai do tribunal absolvido, coração batendo forte, sentindo o gosto doce da liberdade. “Cara, consegui! Tô livre! Posso recomeçar minha vida comendo uns pão di queijo turbinado!”; aí um meganha o aborda para uma revista de rotina. “Licença, senhor, só uma verificação rápida”. E encontra o pino de cocaína.

Pronto. De absolvido a preso em menos tempo que o necessário para pedir um Uber.

É o tipo de história que faria Kafka revirar no túmulo, não de indignação, mas de inveja. “Por que não pensei nisso?”

Nosso herói provavelmente estava nervoso durante o julgamento. Anos de processo rolando, advogado caro, família preocupada, a vida em suspenso. E qual foi a solução que sua mente brilhante encontrou para lidar com o estresse? Levar uma substância ilícita para dentro do fórum. Porque, claro, nada acalma mais os nervos de quem está sendo julgado por homicídio do que cometer um crime dentro do próprio tribunal.

Agora imaginem a cara do advogado. Esse tempo todo defendendo o corno, construindo a tese, convencendo o júri, celebrando a absolvição. Deve ter saído do tribunal ligando para a esposa: “Amor, ganhei o caso! Vou chegar tarde hoje, vamos comemorar!” Cinco minutos depois: “Oi, querida… mudança de planos. Meu cliente foi preso. Não, não pelo homicídio. Por drogas. Como assim onde ele estava com drogas? No tribunal. Hoje. Agora. Sim, no dia do julgamento. Não, eu… eu… Amor? Amor?”

Enquanto a esposa do advogado arruma um outro advogado (de divórcio), achando que tinha sido passada pra trás, o pobre causídico deve ter começado a repensar a profissão.

A ironia da situação é tão densa que poderia ser engarrafada e vendida como suplemento alimentar. O sistema judiciário brasileiro, conhecido mundialmente por sua velocidade de lesma anestesiada, encontrou um cidadão que conseguiu ser processado, julgado e preso novamente no mesmo dia. É quase um recorde olímpico de autoderrotismo.

Moral da história: Na vida, existem duas certezas: a morte e a capacidade infinita do ser humano de transformar vitória em derrota por pura e simples incompetência existencial. Parabéns, irmãozinho!


Fonte: CNN

Um comentário em “O gênio do crime que saiu do julgamento pela porta da frente e voltou pela dos fundos

Deixe um comentário, mas lembre-se que ele precisa ser aprovado para aparecer.