O estranho e fascinante mistério do Bromeswell Bucket

Há coisas que a gente encontra no fundo do armário e pensa: “Ah, isso era pra guardar biscoito”. E há coisas que os arqueólogos encontram enterradas há 1.500 anos e pensam: “Ah, isso era pra guardar… sei lá, restos humanos incinerados?” É, pois é. Nem tudo envelhece com dignidade.

Arqueólogos finalmente encontraram a base do lendário balde de Bromeswell, um artefato bizantino que já vinha aparecendo aos poucos em escavações anteriores, como um quebra-cabeça macabro em câmera lenta. Agora, com a parte de baixo em mãos, a equipe pôde analisar o objeto com todos os brinquedinhos modernos da ciência: tomografias computadorizadas, raios-X e outras técnicas que permitem ver o interior sem abrir nada, como um médico medieval jamais sonharia em fazer, já que não é tão divertido para eles os métodos modernos que eles sequer conheceram).

Angus Wainwright é arqueólogo e em toda biografia que eu encontrei menciona que ele é casado e praticamente é isso. Certeza que escreveu a bio dele foi a esposa. De qualquer forma, Angus (quer mais medieval que este nome?) estava fazendo umas escavações e, no último verão europeu, fez a descoberta do balde. Sim, eu sei coo isso soa. “Uôôôôôô, ele descobriu um balde!”

A questão é que o local da descoberta não é qualquer buraco no chão: trata-se de Sutton Hoo, na Inglaterra, um dos sítios arqueológicos mais famosos do país, com direito a navios funerários anglo-saxões, túmulos monumentais e, agora, baldes funerários. Literalmente!

Hein?

É, pois, é!

O balde era uma urna cremária de luxo (coloque quantas aspas quiser), tendo sido usado para guardar os restos incinerados de um ser humano — provavelmente importante — junto com alguns itens pessoais. A National Trust confirmou: havia ossos humanos cremados, incluindo fragmentos de crânio e um pedaço de tálus, aquele osso do tornozelo que normalmente não chama atenção, mas aqui virou estrela póstuma.

O balde data do século VI e tem estilo. Foi fabricado em Antioquia, na então Bizâncio (hoje Turquia), e chegou ao Reino Unido com pelo menos um século de estrada. Era, digamos, um balde de segunda mão, mas ainda valioso. Decorado com cenas de caça onde homens armados com espadas e escudos caçam com leões e cães, ele claramente tinha pedigree. As partes recém-descobertas incluíam pés, patas, bases de escudos e até o rosto desaparecido de um dos caçadores — sim, o balde tinha uma cara, literalmente.

Um outro artefato curioso apareceu junto: um pente duplo feito de galhada de cervo, que estava, estranhamente, intacto. Não foi queimado. Ou seja, o sujeito (ou alguém por ele) achou que, mesmo após a morte, a aparência continuava importante. Segundo os pesquisadores, pentes são comuns em sepultamentos anglo-saxões de ambos os sexos, o que pode indicar um certo apreço cultural pela higiene capilar mesmo no pós-vida.

O xará do MacGyver (sim, isso mesmo!) se declarou “esperançoso” de que mais segredos venham à tona. Afinal, por mais que se soubesse que o balde era um objeto raro e precioso, ninguém fazia ideia do porquê de ele ter sido enterrado com alguém. Agora sabemos: era, basicamente, uma urna chique. E de alguém importante.

A especialista Helen Geake celebrou a resolução do enigma do balde com entusiasmo digno de quem convive com relíquias há décadas: “É o primeiro desses objetos raros usado em uma cremação funerária que a gente conhece.” E ainda completou com uma frase que define Sutton Hoo como ninguém: “É uma mistura impressionante — um recipiente do sul clássico contendo os restos de uma cremação muito do norte, muito germânica.”

Sutton Hoo nunca decepciona. Já teve sepultamento em navio, sepultamento de cavalo, sepultamento em montículo… e agora, sepultamento em balde de banho. A essa altura, só falta alguém desenterrar um caixão em formato de chaleira. E quer saber? Nem duvido.

Fonte: Uóston Post

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