Quer águinha limpinha? Químicos fazem melhor que a Natureza (in da face, Darwin!)

Um dos grandes problemas do discurso “está acabando a água” é que a água não está acabando. Qualquer um que sabe ciclo da água sabe disso. O problema é deixar a água existente própria para ser consumida, e o tratamento de água está ficando caro, porque remover imundície sai caro. Apesar de dessalinizar água estar ficando cada vez mais barato, o problema é quando se está longe do mar e tem uma água péssima para consumo, em que uma simples filtragem é difícil.

Pediram para um grupo de sociólogos resolverem isso, mas eles estavam ocupados dando aula de Sociologia para dizer que Sociologia serve para algo que eles não sabem bem o quê. Então, pediram para engenheiros resolverem o problema. A solução seria ver o que se tem de melhor produzido nos últimos 3 bilhões de anos. Bem, acharam: proteínas.

O dr. Manish Kumar é químico (com ele a oração e a paz). Não apenas isso (o que já faz dele um Ser Supremo), é ainda professor de Engenharia Ambiental e de Recursos Hídricos, pesquisando membranas para tratamento de água e esgoto, dessalinização, membranas biomiméticas e bioinspiradas, tratamento de águas residuais industriais entre outras coisinhas do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da da Universidade do Texas.

Kumar (que em algum momento eu pensaria ser ator de Bollywood) e seus colaboradores se basearam em como nossas células transportam água pelo corpo. E se eles projetassem canais artificiais para o transporte de água através de membranas? Essas membranas seriam capazes de separar a água das impurezas. Maneiro, né? Ok, isso já existe. O que eles fizeram, então?

O objetivo era imitar as aquaporinas, proteínas que atravessam a membrana celular e carregam a água de forma seletiva. Não, não é de forma zoneada. Sabe aqueles guardas com placa PARE que ajudam a atravessar criancinhas pela rua, de uma calçada à outra, até o colégio? É mais ou menos isso. As aquaporinas deixam passar a água, mas os íons, não. Estes vão por outros canais, de forma a manter o equilíbrio de eletrólitos dentro das células. Por isso que uma pitadinha de sal na comida não vai acabar com o seu dia, mas se você for hipertenso, esse sistema de transporte é prejudicado. Evite o sal. É melhor pra todo mundo.

Kumar e sua equipe não tinham a menor intenção de fazer algo igual, mas o princípio químico estava ali (oh, desculpe. Eu não contei pra vocês que sem químicos isso não poderia ser feito? Ah, contei? Que coisa, né?). Bem, químicos não seriam químicos se fizessem a mesma coisa que já existe. Deram uma fuçada no que Natureza fez e fizeram algo bem melhor. No big deal! Químicos já estão acostumados a fazer isso, vocês sabem. Melhoramos o que já existe, enquanto uns apenas criam umas cópias mal-feitas.

Ao contrário do que o tosco do desenhista espertão que colocou o canal da uretra passando por dentro de um órgão sujeito a inflamações e câncer, os canais que a equipe de Kumar fez não trabalha de forma dependente, pelo contrário. Cada um deles age em conjunto, mas de forma independente e não-sequencial, o que faz com que haja um transporte mais rápido e mais eficiente de água pelas membranas.

Resultado? A nova membrana mostrou propriedades impressionantes de dessalinização, além de ser capaz de eliminar outros tipos de contaminantes, antes que você pense que é só pra tirar sal da água do mar.

Enquanto você agradece ao seu químico favorito por salvarmos o mundo mais uma vez, dê uma olhada no artigo publicado no periódico Nature Nanotechnology

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