Ideia genial (para não dizer o contrário): eletrólise de solo lunar para produzir oxigênio

Existem boas ideias, ideias medianas, ideias ruins, ideias estúpidas, ideias completamente retardadas e tem a fabulosa ideia de invadir a Rússia, principalmente no Inverno. Com a Aventura Humana mirando outros mundos, como o Projeto Artemis indo em direção à Lua, é preciso que tenhamos logística. Normalmente, a logística esbarra num problema dos mais básicos e mais problemáticos (DSCLP): oxigênio. Eu culpo Darwin, que nos deu a necessidade de termos certas quantidades do gás em nosso sangue para produzir as reações químicas tão importantes que precisamos, enquanto nos mata lentamente.

Onde se poderia arrumar oxigênio na Lua? Levar até lá seria inviável dado o peso, e peso implica em custo com combustível para tirar da Terra. Alguém teve uma incrível ideia: e se tirássemos do solo lunar?

ISRU é acrônimo de In Situ Resource Utilization, e significa utilizar recursos locais para se obter qualquer coisa. A ideia em questão seria extrair oxigênio e metais do regolito por meio de eletrólise dos minerais em estado de fusão, em uma única etapa.

O regolito é a camada solta, finamente dividida, de material heterogêneo e superficial que cobre uma rocha sólida. É uma espécie de poeira, e no caso da Lua, é oriundo de bilhões de anos de bombardeio de luz solar e radiação, com variações bruscas de temperatura quando a sombra passa por determinada região, oscilando entre centenas de graus celsius positivos para negativos e vice-versa.

Os principais elementos são oxigênio, sódio, magnésio, alumínio, silício, cálcio, titânio e ferro. Só de oxigênio, o regolito possui 40% em peso. Tem esta quantidade toda porque o oxigênio é um elemento pesado e está em alta combinação com os outros elementos, formando óxidos estáveis. Então, a ideia é fazer uma eletrólise.

Eletrólise é o processo pelo qual se dissocia elementos numa determinada substância ao se fazer deixar passar corrente elétrica. O problema é que água não só não é possível levar para lá para se fazer uma solução, como é altamente indesejável, preferindo usar o regolito fundido para se isolar os elementos constituintes. Simples, não? Tão simples quanto fazer uma eletrólise de cloreto de sódio fundido para se obter sódio e cloro.

Na teoria tudo é lindo. Aí vem os chatos como eu apontar os problemas.

1) Você precisa fundir o regolito. E isso a uma temperatura de 1700ºC. vai precisar de muita energia pra isso ou catar algum fundente, isto é, uma substância adequada que reduza o ponto de fusão.

2) Vai precisar de uma fonte de corrente contínua. RTGs? Pode ser, mas não serão lá muito eficientes. Placa solar? Idem, porque é preciso uma alta intensidade de corrente elétrica (ou “amperagem”, se você quiser enlouquecer engenheiros e físicos). Reator nuclear completo? Também. Mas aí é mais coisa pra quebrar e requer manutenção, além do problema do que? Isso mesmo, peso, principalmente na hora de levar água pesada pra Lua.

3) Vai precisar construir esta bagaça toda. Divirtam-se com a instalação, prédios etc.

4) Vai ter o problema dos eletrodos, que terão que ser inertes. Só que não pode usar grafite. Se for usar grafite, não adiantará nada, pois ele não é tão inerte assim e vai reagir com o oxigênio atômico produzido, antes de se combinar e formar oxigênio molecular. Se oxigênio molecular (O2, por exemplo) já é bem reativo, o radical livre O• é mais ainda. Vão usar o que/ platina? Vai sair bem caro!

A equipe de projeto Gaseous Lunar Oxygen from Regolith Electrolysis (GaLORE) ganhou um prêmio interno por desenvolver a tecnologia de fusão para fundir o regolito. Não é algo recente, como pode ser visto aqui (o logo é esse mesmo da abertura do artigo). O problema ´são as variáveis intrínsecas nisso. Não basta esquentar a bagaça.

Enquanto isso, o GaLORE foi selecionado pela Diretoria de Missão de Tecnologia Espacial da NASA como um projeto da Early Career Initiative, ganhando o ridículo valor de investimento de US$ 1,2 milhão por ano por dois anos para desenvolver a tecnologia, e lamba! O projeto mesmo ainda não existe, pois, será iniciado oficialmente em 1º de outubro de 2019.

Isso é ótimo, mas o valor é pequeno à guisa de investimento e dois anos não é absolutamente nada para se inventar e refinar esta tecnologia, tendo um monte de variáveis contra envolvidas, como eu falei. Pesquisa é bom, mas não pensem que é este mamão com açúcar todo que falam, pois otimismo não é suficiente para fazer milagres.

Fonte: Mãe da criança

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