De um modo geral, há uma concepção que apenas registros históricos de grandes personalidades devem ser conservados. Alguns acham que a verdadeira história é escrita por anônimos. Sendo assim, o máximo de informação e registros de todo mundo, seja um grande político ou imperador ou mesmo um zé ruela que se mantenha é não deixar que nossa memória se apague. Conservar estas informações, entretanto, é um problema. Hoje conseguimos por meio de fotos digitais (e nem isso é garantia), mas e quando do início da fotografia se tinha apenas daguerreótipos?
Muitos daguerreótipos hoje estão totalmente escuros, por causa do passar do tempo (já que eles têm mais e 100 anos). Agora, químicos conseguiram reverter este processo.
Madalena Kozachuk está terminando seu doutorado em Química (com ela a oração e a paz) do Departamento de Química da Universidade de Ontário. Ela estuda como pode restaurar antigos daguerreótipos de pessoas simples, anônimas. Elas não têm nada de especiais num primeiro momento, mas são informação preciosa sobre nós mesmos, nossos costumes. Vale a pena salvar isso.
Daguerreótipos são uma espécie de tataravós da fotografia. Basicamente, eram placas de vidro impregnadas com sais de prata. A prata tende a reagir com luz (mais certamente, emanações ultravioleta) formando partículas de prata finamente dividida, de cor escura. Depois, elas eram fixadas para a prata não continuar reagindo, mas isso ainda era mal feito, pois a técnica ainda estava na infância. Assim, as pessoas tinham que ficar até cerca de 5 minutos, totalmente imóveis, para poder registrar a sua imagem imortalizada.
Obviamente, isso gera o negativo, pois as partes mais iluminadas são as que ficam escuras e vice-versa. Para ter o positivo, colocava esta placa de vidro sobre uma placa de cobre revestida de prata e fazia uma nova exposição, usando vapores de iodo e fixando com vapor de mercúrio. Um processo longo, nada saudável e sem garantia que ficasse bom. Por isso que cada daguerreotipo merece ser conservado. Basicamente, a técnica usa leituras do sincotron para ver quais locais tinha escurecido mais recentemente do que os outros. Assim, dá pra saber quais as áreas que foram sensibilizadas primeiro, detectando átomos de mercúrio, o que efetivamente forma a foto original.
Kozachuk usou imagens de fluorescência de micro-raios X de varredura rápida para analisar as placas, que têm cerca de 7,5 cm de largura, e identificou onde o mercúrio era distribuído nas placas. Com um feixe de raios X com seção transversal de 10×10 mícrons (um cabelo humano com 75 mícrons de diâmetro) e com uma energia mais sensível à absorção de mercúrio. A varredura de cada daguerreótipo demorou cerca de oito horas. E o resultado… bem, vejam por si mesmos.
Preservar fotos antigas é preservar um pouco de nós mesmos. Quem é o casal? Não se sabe ao certo. O que eles pensariam sobre estarem preservados, imortais, protegidos ao longo dos anos, décadas e séculos, também não se sabe. Mas eles está lá. Se a intenção deles com a foto é que sua memória jamais se perdesse, parabéns, a moderna tecnologia do século XXI conseguiu.
A pesquisa foi publicada no periódico Scientific Reports