A falsa lágrima de um hipócrita que finge se importar com vereadoras

Já fez 20 dias desde que Marielle, a famosa vereadora que ninguém conhecia até seu fatídico dia, foi assassinada junto com seu motorista. Todo mundo rasgou as roupas de consternação, prantou-lhe o seu ocaso, choraram e exigiram Justiça. Artistas internacionais como Viola Davis, Naomi Campbell e Lauren Jauregui (quem?) postaram nas redes sociais suas indignações, reiterando o grande trabalho que ela exercia (e quase ninguém aqui sabia, quanto mais lá fora). Viola Davis até postou que está “de pé e lutando com vocês, Brasil”. Eu ainda não vi Viola Davis desembarcar no Rio e ir na favela da Maré, mas deve estar fazendo isso em segredo.

Foram 20 dias, com a primeira semana pessoas postando valiosas informações desencontradas sobre o que aconteceu. Tem testemunhas que afirmaram até que o atirador era negro, usava uma 9mm com silenciador, num carro que sequer parou para fazer a execução. Fico muito contente que pessoas velocistas saídos das páginas do Flash puderam ver isso tudo.

As pessoas acham que Marielle foi um ponto fora da curva. Só isso para explicar a enorme comoção pública. Só que não é assim. Um político é morto por mês no Brasil. E neste começo de mês de abril, o prefeito do município de Nova Resende, no Sul de Minas, foi encontrado morto dentro de rádio comunitária, enforcado. Magé, no Rio, é a cidade campeã de violência política, com nove assassinatos de políticos desde 1997. Em 2016, ao menos 20 candidatos foram assassinados desde agosto. Sim, pois é. O Brasil contabiliza 16 mortes de políticos por período eleitoral.

E se vc acha isso ruim, ainda tenho que dizer que o município do Rio de Janeiro nem é a cidade com maior índice de violência, mas quem se importa com o que acontece em Mata de São João, na Bahia?

Quantos dessas mortes você ouviu falar? Anônimos são apenas anônimos, certo? Era para assassinatos políticos ter maior impacto nas notícias, certo?Quantos deles apareceram nos jornais, em blogs, em redes sociais e virou notícia mundial? O Brasil é um país que contabiliza um número de assassinados igual ao de mortos por terrorismo no mundo todo em 2017. E isso em apenas 3 semanas! eu sei que se mata muito no Brasil. Eu sei e você também sabe, mas fomos arrolados numa enxurrada de reportagens apenas sobre Marielle. Não que ela seja menor por causa disso. Todo assassinato é trágico, independente de quem for, mas as manchetes dependem do movimento, e se você acha péssimo que a mídia tenha parado de encher seus jornais e revistas e programas sobre o assassinato de Marielle e seu motorista, devo lembrar que o interesse do público não se sustenta por muito tempo, e é preciso vender os jornais, sendo que ninguém quer mais notícias de ontem, quanto mais de mais de 20 dias.

Entendam, eu não sou contra PSOL (na verdade, acho que nenhum partido presta, mas deixempos isso de lado), nem o trabalho dela. Reitero: quase ninguém sabia, e alegar que ela foi a vereadora com a 5ª maior votação para vereador não diz muito. Ela teve 50 mil votos numa cidade de 7 milhões de habitantes. É muito pouco. E é um absurdo ser o 5º mais votado nessas condições. As pessoas não ligam para vereadores. Não dão a menor bola para os edis. Eles que votam as leis do Município, mas os arautos da democracia não sabem nem quem são os candidatos e muito menos em quem votaram. Este é o erro! E só porque ela teve essa “grande” votação, o final dela é mais trágico? Se fosse apenas um suplente de vereador, tudo bem? Ela não foi morta por ser negra. Matam-se brancos também (vide o caso do prefeito). Ela não foi morta por ser favelada ou defender bandido. Ela recebia famílias de policiais em seu gabinete também. Por que ela foi morta? Ninguém sabe ainda. E ter ideias não faz ser verdade ou desvendar o caso por mágica.

Como sempre, os pseudoindignados foram mostrar sua raiva interna no Starbucks, dando nome ao atendente como “Marielle” e quando ele chamava as bestas berravam “PRESENTE”. Nada mais longe da verdade. Ela não está presente, Marielle não está viva. Prem com isso. Nenhum de vocês irá na favela da Maré continuar o trabalho dela. Ser ativista de Facebook ou Starbucks ou qualquer outra bobagem neste sentido e apenas para aparecer nas redes sociais. Ir na Cinelândia e colocar velas para ela na escadaria da Câmara de Vereadores não muda nada. Para a população em geral, lamento informar, mas é apenas mais uma pessoa morta. Mais um político morto. Mais um assassinato. Só mais um. As pessoas continuam tendo que levantar às 4 da manhã para irem trabalhar e voltam de noite, para mal terem tempo de tomar um banho, comer alguma coisa e ir dormir, pois no dia seguinte recomeça tudo.

Lamento. Marielle não está presente. Marielle é passado. já tem outro no lugar dela. as pessoas têm outras preocupações. Vereador morto, é vereador posto. Ela está fora e não volta mais. Os hipócritas que vertem uma lágrima apenas o fazem para aumentar o seu ego, e sua autoimportância, atenstnado-se como ser melhor que os outros. Mas a realidade é essa e como os antigos dixiam> o viúvo é quem morre.

Sim, é desalentador, mas para o carioca é apenas mais um assassinato, e ele tem coisas maiores para se preocupar: como se manter vivo dentro de um ônibus, por exemplo.

Mas talvez eu seja errado. Certos são vocês que compram uma camiseta pr gente aproveitando a situação, vão no Starbucks tomar aquele café horrível e postar foto nos seus instagrams e facebooks da vida, mostrando-se engajados e ganhando like e compartilhamentos e mãozinhas postas e emoticons e “é isso aí” e outros gritos e bordões vazios. Tendo sido assaltado duas vezes numa mesma semana, no mesmo lugar, tenho outras preocupações, embora uma professora não tenha tido a mesma sorte hoje de sair ilesa. Mal aê, pessoal.

3 comentários em “A falsa lágrima de um hipócrita que finge se importar com vereadoras

  1. Neste ano se completarão três anos. Realmente só quem quer combater a violência toma tiro, vide Patrícia Aciolli.

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      1. Com “toma tiro” eu quis dizer num sentido meio disperso ao artigo, admito. Quis dizer no sentido de execução por mandato de alguém, no caso das duas: milícia ou traficantes (interligados né?). Não que eu esteja diminuindo a importância de pessoas comuns. Minha mãe é uma pessoa comum e bom, não seria legal perder ela.

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