Você já conhece a mitocôndria. Ela é sua companheira, apesar de não ser sua propriamente dita, pois é uma bactéria que vive em simbiose. Diferente do político que você ajudou a eleger, ela pega recursos e dá algo em troca: energia. Isso você aprendeu no colégio, só não aprendeu como.
A mitocôndria faz uso de um processo de geração de energia ligado à regulação do cálcio intracelular, em que íons Ca+2 trafegam por canais, e cuja absorção deste elemento…. ninguém sabe em sua plenitude como funciona. Apenas funciona, que nem a gambiarra que o seu Manoel, o pseudoeletricista fez para ligar o seu chuveiro. Mas isso não parece durar muito. Uma nova pesquisa pretende achar o significado disso tudo.
O dr. Muniswamy Madesh é professor no Centro de Medicina Translacional e do Departamento de Genética Médica e Bioquímica Molecular da Escola Katz Lewis de Medicina na Universidade de Temple. Ele adora mitocôndrias, o que nem é algo tão especial. Até eu as adoro. Se você não adora as suas mitocôndrias, é porque você é um ingrato.
Você sabe que a mitocôndria dá energia, como se as mitocôndrias fabricassem energia do nada, violando só algumas leis da Termodinâmica (todas, por sinal). Tudo começa com os canais de cálcio mitocondrial unidirecional. Isso começa com uma proteína transmembranar que age como uma barreira que permite a passagem de íons cálcio (Ca+2). A atividade é regulada por proteínas que formam canais que permitem o cálcio saracotear, mas apenas em uma direção e não ida e volta, pois bioquímica não é bagunça.
Com esse saracotear de íons cálcio, a célula consegue equilibrar a concentração do referido íon, o que é necessário para aumentar a oferta de energia das células e regular a morte celular. As mitocôndrias são intimamente associada com o retículo endoplasmático, que é abarrotado de íons Ca+2 e fazem a sinalização desse cálcio. A presença de 1,4,5-trifosfato provoca a libertação de cálcio a partir dessa “despensa” intracelular, o que cria microdomínios de alta concentração de cálcio entre o retículo endoplasmático e as mitocôndrias, criando as condições para que o canal de cálcio possa funcionar.
Em outras palavras, a energia é trafegada sob a forma de moléculas que se formam, e estas moléculas de trifosfato circulam para dentro e fora da célula, sendo reguladas pelos íons cálcio, que só podem trafegar numa direção. A molécula do trifosfato chega aonde tem que chegar, há quebra desta molécula com liberação da energia que estava nas ligações químicas.
Este é o transporte de energia. Lindo e maravilhoso. Mas como ele é feito DENTRO da mitocôndria? Bem, é isso que o doutor Madesh procura responder. Sua pesquisa com seu pessoal (não, no trabalho dele não param para cantar e dançar… Acho!) visa entender o sistema estrutural e mecanicista de como essas reações acontecem.
Basicamente, a atividade da transposição de cálcio é vital para a homeostase desse elemento e sobrevivência celular, mas como nós somos feitos de um design perfeito, claro, tudo é perfeitinho. O problema que o Projetista Inteligente não passou o memorando para as células. O ATP é a molécula que carrega energia, mas também é oxidante e causa envelhecimento celular, ajudando a mandar suas células pra vala mais cedo.
Hã?
Pois é. Natureza perfeitinha, não? Bem, graças a essas zicas que algumas doenças aparecem, como o AVC, por exemplo, além de condições neurológicas como Parkinson e Alzheimer. Entender os detalhes deste funcionamento (e do não-funcionamento) é vital para evitarmos estas doenças, ou pelo menos minimizarmos seus efeitos, quando a ideia mesmo é curar pacientes. Difícil? Bem, um corte no dedo era garantia de você passar dessa para melhor, também.
A pesquisa foi publicada no periódico Cell. Infelizmente, não está com acesso aberto, então, será meio difícil você ver que tem até vídeo clip de dança (diz a lenda). No máximo, ele explicará como nossas células se alimentam de energia, quais as reações bioquímicas e como isso afeta a nossa saúde quando algo dá errado por causa de alguma zica. Sabendo como é o mecanismo certo, será fácil tratar quando ele estiver errado.