Quanto tempo você demora para escolher um caminho, um movimento? Dica: Muito. Mas seu cérebro, nesse meio tempo, está rindo da sua cara de mané, pois ele já decidiu há muito tempo! Se você pensa que escolher um determinado movimento é rápido, está enganado, é mais rápido ainda! Pesquisadores identificaram um circuito neural que transforma a onda de atividade que ocorre durante o período preparatório de um movimento complexo em comandos de movimentos musculares diretos.
Sim, eu sei. Você não faz a menor ideia do que eu estou falando. Mas vai querer saber a partir do próximo parágrafo, certo?
O dr. Karel Svoboda, além de ter um nome mais feio que bater em mãe, é Líder do Grupo de Pesquisa Janelia, no campus do Howard Hughes Medical Institute. Seu laboratório trabalha estudando a estrutura, função e a plasticidade de circuitos neocorticais, principalmente no contexto de somatossensação.
Ai, Jisuis, o gajo começou c’as complicações!
Vamos supor que você venha caminhando pela rua. Você recebe informações de tudo à sua volta. Você ouve os carros passando, um zé ruela com uma bicicleta vindo por trás de você e te xingando (mesmo sem você estar na ciclovia), você vê um outdoor com propaganda, o cheiro da barraquinha de churrasquinho de gato, a textura do chão onde você pisa (se está no concreto, num gramado ou pisou num cocô) etc. Todas essas informações sensoriais são levadas até o cérebro. É ele que decide que você deve pular de lado quando ouve um psicopata numa moto vindo numa passarela gritando "SAI DA FRENTEEEEEEEEEEEEE!!!", que o faz tampar o nariz quando alguma tia exagerou no perfume ou seu cérebro gritando "NÃO PISA NO COCÔ!!!!".
O senso de lateralidade julga de onde vem a informação. Se alguém o chama à sua esquerda, você virará o rosto na direção. Se uma moça perfumada vem atrás de você, seu cérebro consegue distinguir se ela passará pela esquerda ou direita. Desde temperatura externa até música, desde textura do algodão da sua camisa até o sabor da feijoada do seu almoço, todas essas informações são processadas no neocortex, responsável pelos circuitos neocorticais. O neocortex é a região do cérebro mais recente, isto é durante o processo evolutivo, diversas camadas foram se sobrepondo no cérebro, até que os mamíferos conseguiram uma "capa" que recobre os lóbulos pré-frontais e, em especial, os lobos frontais. Todo mamífero tem esta camada, e por incrível que pareça, até comentadores de YouTube possuem.
O dr. Svoboda não é bem um neurocientista. Ele é bacharel em Física pela Universidade de Cornell e doutor em Biofísica pela Universidade de Harvard, mas tem um interesse de longa data no desenvolvimento de métodos ópticos, fisiológicos e moleculares para a neurociência. Sendo assim, ele mediu os movimentos moleculares e as forças da moléculas de cionesina, um motor molecular comuns a todas as células eucarióticas, com a capacidade de se locomover usando microtúbulos como trilhos, já que sua capacidade de atrelar a outras substâncias fazem com algo que poderíamos inferir ser uma "caminhada".
Os neurônios no córtex pré-motor do cérebro estão ativos durante o período de planejamento que ocorre uma fração de segundo antes de qualquer primata (sim, macacão pelado, você é um primata. Deal with it!) iniciar um movimento. A pesquisa do dr. Svoboda mostrou como esses neurônios são "acesos".
Através de uma técnica chamada optogenética, a equipe do dr. Svoboda analisou o comportamento de mamíferos, desenvolvendo uma tarefa comportamental em que ratos eram treinados para responder a uma sugestão sensorial, lambendo para a direita ou a esquerda, após um atraso de 1,3 segundos para permitir o planejamento do movimento.
Algumas cobaias tinha regiões do cérebro lesionadas, e não conseguiam se lamber direito. Então, os cientistas descobriram algo interessante: eles podiam influenciar a direção da resposta lambedura do animal, estimulando as células do trato piramidal. Ao estimular esses neurônios durante a preparação do sentido de movimento segundos antes do mesmo, o animal muda o movimento para o lado oposto. Em outras palavras: estimulando certas áreas do cérebro é possível mudar a "decisão" de como o movimento será feito. Essa pesquisa foi publicada na Nature.
Pensem em pessoas que têm problemas de movimentos, principalmente por causa de lesões neurológicas. Pensem que se certas áreas do cérebro forem estimuladas, elas passarão a ser responsáveis por aquela tarefa que se perdeu, pois a região original foi pro ralo.
A pesquisa concluiu que o plano do motor é distribuído através de ambos os hemisférios, então, aquele negocio de um lado do cérebro controla uma coisa específica pode ser até verdade, mas não é definitiva e é a isso que chamamos "plasticidade do cérebro". A atividade acaba sendo distribuída, envolvendo neurónios que interagem com zonas sensoriais. Agora, é preciso saber como essa atividade de planejamento é gerada, como o córtex motor participa na tomada de decisão e como as informações sobre o plano são armazenadas até que um movimento é executado. Muita coisa ainda falta, mas muita coisa já se descobriu.

Eu já falei que eu preciso parar de escrever de noite…
Valeu!
CurtirCurtir
nunca ouvi me ucerebro falando “nao pisa no coco”
eu faço isso sem pensar em nada.
CurtirCurtir