Como bactérias de insetos atazanam a vida de fazendeiros

Estamos acostumados a pensar nos seres vivos de uma forma geral como animais e plantas. Quando muito, pensamos em vírus, bactérias e fungos, mas de uma maneira isolada, como se fôssemos entidades biológicas únicas, mas não é isso que acontece. Cada um de nós, seres vivos, é um verdadeiro viveiro abrigando toda sorte de "coisa".

Agora, pesquisadores vão descobrindo que não basta ser inseto para estragar o dia de um agricultor. Os besouros que atacam o milho, por exemplo, eles não são apenas insetos feios e fedorentos, daqueles que o próprio PETA não se importa de mandar pra vala. Só que não é apenas o inseto do mal que traz aborrecimento. O problema mesmo está nas suas entranhas, sob a forma de bactérias.

O Diabrotica virgifera virgifera é uma praga que ataca plantações de milho nos grandes corn belts dos EUA. Este insetinho malevolente pertence ao gênero Diabrotica, da família Chrysomelidae e ordem Coleoptera, o tipo de informação tola que nada acrescenta na notícia, mas fica legal. Pareço até um entomologista. Ele tem fortes preferências para colocar ovos em campos de milho, para que suas larvas cresçam nas raízes da planta e isso é o que ferra tudo…. pelo menos, para o agricultor. A larva fica bem, obrigado e manda recomendações à família.

Como o povo do campo não é burro, sô, o que o pessoar arresolveu dar um jeito no fio d’uma égua. Os agricultores rotacionam os plantios, alternando as culturas, plantando soja em anos alternados. As larvas, ao eclodirem, morrem se não estão na época do milho. Ahá! Sacaneemus, certo!

Errado! Ainda há aquela força mística que de mística não tem nada: a Seleção Natural.

O dr. Manfredo Seufferheld é um professor argentino com nome italiano, sobrenome alemão e que trabalha no Departamento de Cultivo da Universidade de Illinois. Só faltou ser gay, judeu e negro para completar o que a pior piada xenofóbica do Universo.

Na pesquisa de Seufferheld (isso parece nome de algum herói saído de uma saga islandesa), ficou demonstrado que esses rotacionamentos não estão sendo muito efetivos. Algumas variedades estavam resistentes às armadilhas químicas que a soja guardou para os insetos, já que se animais são selecionados para viver em ambientes hostis, plantas são selecionadas para resistir a esses ataques. Não por acaso que variedades de soja possuem um inseticida natural, mas parece que o mesmo não está sendo eficaz contra a variedade da diabólica Diabrótica.

Cientistas vêm estudando o problema desde 2000 e, apesar de gerar uma grande montanha de dados, não conseguiram encontrar os genes em questão. O miserável tem a capacidade de adaptar-se a praticamente todos os métodos de controle usados ??contra ele, incluindo rotação de culturas. Depois de muitos anos de pesquisa sobre os mecanismos de resistência a rotação, os resultados foram inconclusivos.

Mas o bandidinho estava lá, escondido. Seu Jorge, digo, Seufferheld resolveu procurar em outro lugar: nos intestinos do insetinho maléfico. E lá ele encontrou algumas bactérias que pareciam um tanto diferente. Deram remedinho para o inseto, de forma a detonar aquelas bactérias e, voilà!, a capacidade de resistência ao rotacionamento foi pro ralo. A pesquisa foi publicada na PNAS.

De acordo com as pesquisa, as bactérias são as principais responsáveis pela resistência ao rotacionamento, mas ainda não se entendeu direito como é o mecanismo, pois essas bactérias estão em endossimbiose com os Diabrótica e é preciso entender como é o sistema que faz com que as bactérias atuem nos genes do inseto, de forma a dar-lhe maior resistência.

Entretanto, a principal lição é que não devemos ver animais ou plantas como seres únicos. Somos ecossistemas inteiros, um imenso "zoológico" de várias espécies de vida que dependem de nós e, ao mesmo tempo, dependemos deles, até que no final das contas, um acabe com a vida do outro, pois nada na Natureza é bonzinho e/ou para sempre.

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