Uma das maiores dissipações de energia da Natureza, e muitas vezes de forma violenta, são os vulcões. Se você estudou uma quinta série (6º ano) decente, você sabe que vulcões agem como verdadeiras válvulas de pressão, recobrando o equilíbrio isostático do manto. Essas "válvulas", muitas vezes, explodem de maneira fantasticamente destrutiva, levando consigo tudo oque tiver no seu raio de ação, lançando rochas derretidas a altíssimas temperaturas, fluxos piroclásticos, cinzas e toneladas de dor, morte e destruição.
Será que a Ciência poderia prever tais erupções com o máximo de antecedência, a fim de evitar perdas de vidas? Difícil responder, mas pesquisas apontam que a chave para isso talvez esteja nos cristais. Simples, belos e puros cristais. mas antes é necessário rever o capítulo de vulcanismo no Livro dos Porquês.
Primeiro: por que vulcões aparecem?
O mundo não é perfeitinho. Enquanto todos pensamos que a crista terrestre é uniforme e inteiriça, a realidade mostra que não. O mundo é instável e não fica paradinho. Nossa pequeníssima expectativa de vida não nos permite ver as coisas acontecendo, pois no mais das vezes elas ocorrem em velocidades extremamente lentas. Com continentes se movendo a centímetros por ano, fatalmente acontece o inevitável: duas imensas placas tectônicas se chocam, e não no sentido de terem lido alguma coisa bizarra no jornal.
Antes, porém, é preciso entender como é a estrutura do planeta. Abaixo vemos um infográfico sobre todas as camadas da Terra, as quais você conhece de trás pra frente, e se não conhece, não faz mal. Deixa que eu lhe apresento.

Moho é a Falha (ou Descontinuidade) de Mohorovicic, também chamada Descontinuidade M. É o trecho que separa a crosta terrestre do manto. Já a Descontinuidade de Gutenberg (cujo cientista descobridor não é o mesmo que inventou a prensa de tipos móveis) está separando o núcleo externo do Manto Inferior. O núcleo interno, apesar da altíssima temperatura, apresenta-se sob a forma sólida. A pressão lá é tão alta, mas tão alta que todo o material é comprimido de uma forma que ele não passa para o estado líquido, nem pastoso nem nada. Este núcleo não fica parado e sua rotação é que faz aparecer o campo magnético da Terra.
Obviamente, isso é apensa uma grosseira simplificação. Você não esperava uma aula completa disso numa única postagem, não é mesmo? (sim, eu sei que você esperava. Sinto muito).
De forma bem grosseira, podemos dizer que a crosta terrestre está "flutuando" num mar de magma (a saber, rocha derretida). Note as aspas, antes de vir dizer que falei besteira, sim? A crosta não é inteiriça como a casca de um melão. Mais parece um casco de tartaruga, com vários pedaços, e esses "pedaços" são as placas tectônicas, que vivem se movendo. Enquanto algumas estão se afastando (o que fez o Brasil se separar da África e isso foi bem antes do acordo ortográfico), a placa tectôinica da Índia colidiu com a placa da Eurásia, e a dobra do terreno formou o que chamamos hoje de cordilheira do Himalaia. É uma dobra de terreno onde o "chão sobe", por assim dizer. Mas outras vezes uma camada desce por baixo de outra, nas chamadas "zonas de subducção".
Quando temos grandes quantidades de rochas descendo cada vez mais, o calor faz com que elas passaem para o estado de magma. A quantidade de matéria aumenta absurdamente e a pressão interna mais ainda. O planeta é uma grande panela prestes a explodir, mas pra nossa sorte nós temos o vulcanismo, a fim de aliviar a pressão e voltar ao equilíbrio isostático, isto é, o equilíbrio de colunas continentais que não experimentam movimentos verticais, devido à igualdade da pressão em relação à superfície de compensação.
Como a mão que afaga é a mesma que apedreja, vulcões mantém o equilíbrio interno liberando grandes quantidades de vapor, cinzas e lava. Infelizmente, o planeta está pouco se importando conosco e esta liberação de um fluxo piroclástico se dá, muitas vezes, de forma explosiva.
Um fluxo piroclástico é tudo o que você não quer ver pela frente, pelos lados e atrás de você. É o lançamento de cinzas em altíssima temperatura, fragmentos de rocha e até mesmo pedra-pomes, a velocidades que superam 100 km/h, e se você viu Inferno de Dante, não pense que com uma caminhonete dá pra fugir dele assim. O calor liberado é tão intenso que você seria cozido instantaneamente Se não acredita em mim, pergunte ao pessoal de Pompeia.
Será que teria como prever com antecedência quando uma tristeza desasa entrará em ação? Segundo a drª Kate Saunders, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, Inglaterra, a chave pode estar nos cristais. Não de uma forma esotérica, já que a bopa drª Saunders não curte muito pseudociência se misturando com sua área de atuação. Kate e sua equipe caracterizaram padrões químicos de 98 cristais recolhidos ao longo das erupções do Monte Santa Helena e compararam esses padrões com os registros de terremotos e de liberação de gás que outros pesquisadores recolheram durante esse mesmo período.
Segundo as pesquisas, cristais começam a ser formados até cerca de um ano antes das erupções e quando o vulcão malvado está prestes a dar ao mundo tudo o que tem de melhor (ou pior) o crescimento desses cristais se dá de forma mais rápida. A pesquisa foi publicada no periódico Science.
A técnica de examinar o afloramento de cristais pode ser um modo decisivo de prever a velocidade de formação de um vulcão e predizer com uma certa antecedência quando é hora de picar a mula da região, e de forma mais rápida possível. Segundo Kate, esta técnica pode ser empregada para qualquer vulcão, e se ainda não podemos ter segurança de quando uma tragédia dessas vai ocorrer, ao examinar como os cristais crescem, é possível compreender um pouco mais a dinâmica do interior do manto, e sabendo como isso se dá é um modo de evitar perda de vidas de forma desnecessária.
Fonte: ScienceNOW

André, lembro que minha professora de ciências falava que no período Cretáceo, o Brasil foi palco das maiores atividades vulcânicas (fissural, como se conhece no planeta). Toda a parte sul do país foi atingida pelo vulcanismo e que ilhas como Fernando de Noronha e Trindade também foram obras de vulcões! Isso dava um nó na cabeça… não entendia como eles simplesmente ficavam inativos de repente!!
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PS… na época eu morava aí perto de você, na Ilha do Governador ( RJ ) e não sabia se essa ilha também era vulcânica ou não!! Pior que nem a professora sabia responder!!!
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“Obviamente, isso é apensa uma grosseira simplificação. Você não esperava uma aula completa disso numa única postagem, não é mesmo? (sim, eu sei que você esperava. Sinto muito).”
Vou parar de fazer os depósitos mensais. :cry:
Realmente muito interessante, mas que tipos de cristais são gerados? Valiosos? :twisted:
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Para a ciência? Muito!
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Mesmo considerando a simplificação grosseira, a placa tectônica (ou litosférica) não flutua sobre um mar de magma. O magma está em estado líquido e é resultado da fusão parcial da crosta ou do manto. O manto não está em estado líquido, e sim, sólido.
Esse processo de fusão parcial pode ser ocasionado por diversos fatores, entre eles descompressão adiabática (cordilheira meso-oceânica), abatimento do solidus por adição de voláteis ao sistema (zonas de subducção), presença de plumas mantélicas (hotspots), etc.
E outra, descontinuidade e falha não são a mesma coisa. Descontinuidade, neste caso, significa uma região entre duas “camadas” da Terra que possuem diferenças nas velocidades das ondas sísmicas ou geoquímicas.
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Esse afloramento nos cristais, pelo que entendi, quimicamente falando, é por causa dos gases liberados e decorrentes do processo do movimento do magma?
*Sorry, mesmo lendo o link da Science fiquei com essa dúvida.
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