Suponha que você seja um agricultor e que queira ficar rico disso (o que denota graves problemas mentais, ainda mais se você morar no Brasil com seus atravessadores ladrões). Você não só terá que lidar com o problema das pragas, o solo, adubagem e o pessoal do MST invadindo sua terra. Você terá que conhecer as épocas ideais para plantio. Se você quiser plantar abobrinha, você deve saber que a melhor época se dá entre agosto e fevereiro. De fevereiro a julho é a vez do repolho (para mais datas e hortaliças, consulte aqui). Isso pode parecer de pouca importância, como tudo parece à primeira vista, mas tal informação responde a perguntas sobre o porque de certos vegetais estarem mais caros uma época do ano do que em outra.

Assim como seres humanos, plantas também obedecem a certos ciclos em função do tempo. São os ciclos circadianos que, para a planta, controla sua floração e identifica quando é a melhor época para plantar. Será que poderíamos controlar este ciclo?

Sim, podemos. Pelo menos é o que alguns cientistas da Universidade de Yale pensam. Ao analisar o genoma de algumas variedades de plantas, os pesquisadores descobriram que o controle do ciclo circadiano está escondido num complexo de proteínas que ficaram conservadas por meio da Seleção Natural e são responsáveis pela fotomorfogênese em alguns espécimes de arabidopsis.

Ai, meu Jesus Cristinho, começô. Não estou entendendo nada, seu moço. Só quero prantá uns tomate.

Meu bom companheiro, preste atenção. Sabemos que as plantas, em larga e esmagadora maioria é dependente da luz para sintetizar o alimento, através da fotossíntese. Com opassar do tempo, as plantas que tivessem adquirido a capacidade de usar melhor a energia luminosa tinha melhores chances de produzir seu próprio alimento e armazená-lo com o máximo de eficiência possível. Sendo assim, acabaram desenvolvendo meios de perceber e quantificar em nível químico a intensidade luminosa que estavam recebendo. Algumas plantas precisam de maiores quanta de energia do que outras durante a sua germinação. Sendo assim, as plantas que nascessem em determinada época do ano, com maior intensidade de luz (que doravante chamaremos de "verão") teria maiores chances de crescer forte e saudável, dando origem a descendentes já adaptadas a brotar no verão.

As Arabidopsis formam um género do reino Plantae muito conhecido. É desse gênero que pertencem a couve de nossa feijoada e a mostarda que alegra nosso hambúrguer. Foram estes exemplares que o dr. Xing Wang Deng, do Departamento de Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento da Universidade de Yale, estudou, identificando a chave genética que codifica o complexo de proteínas supracitado, o que pode ter grande impacto na agricultura do século XXI. A pesquisa foi publicada no periódico Molecular Cell.

De acordo com a pesquisa do dr. Deng demonstra que na maior incidência de luz, certos genes são expressados, e na ausência de luz, outros genes são expressados. Um grupo de reguladores genéticos bem definidos controlam a "maquinaria celular" na regulação da resposta celular a estímulos externos ou pressões ambientais. Controlando como estes genes são expressados, controla-se a codificação dos complexos proteicos e, voilà!, controla-se como a planta se comporta ao longo do ano, mediante seu ciclo circadiano. A pesquisa visa controlar a rapidez na expressão do gene-dia, sem esquecer de "ligar" o gene-noite, pois ao final do ciclo — e o gene-noite se desliga — é ativado o gene-dia novamente e assim mantém-se o ciclo.