Alunos escolhendo currículo a ser ensinado nos colégios. O que pode dar errado?

Existem dois mundos no cenário educacional. Aquele incrível que foi criado pelos teóricos da Educação (os que nunca colocaram os pés num colégio para ensinar, e possivelmente nunca para aprender), cheios de experimentos, testes, análises e ideias mirabolantes. E tem o mundo real.

Um projeto MAAAAAAARAVILHOSO do governo de São Paulo visa deixar a critério do aluno a escolha das matérias que comporão o currículo escolar, na reforma do Ensino Médio, a qual deve começar em 2016 em um número pequeno de unidades. Sinto o cheiro de vitória no ar.

A alegação deste retardo mental é que, coitadinhos dos aluninhos, têm que estudar muita coisa. Aquelas coisas inúteis como português, história, matemática, geografia, ciências etc. Infelizmente, algumas delas (até agora, só mencionadas português e matemática) serão obrigatórias. Não que faça diferença, pessoal continuará escrevendo bobagens, mesmo, sendo aprovados de qualquer jeito.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo pretende iniciar esta idiotice em escolas da periferia, pois pobre é muito burro e preguiçoso, incapaz de estudar muito e tirar boas notas. Temos que ajudá-los a pegar o diproma de qualquer jeito. Esta obra pollyanistica começará num número pequeno de unidades, para depois avançar na rede, com o plano de transformar grande parte do curso em disciplinas optativas, de forma que o aluno monte sua própria grade.

Eu fico imaginando, dado o conhecimento médio de como o brasileiro é, do que será escolhido, principalmente para o 2º e 3º anos do Ensino Médio, mas ainda tem que se decidir quais disciplinas serão obrigatórias e quais serão optativas. Isso além de levar em conta que temos ENEM e vestibulares. Como faz? Reduz-se a qualidade desses, de forma que todos os alunos possam prestá-los, ou deixar como está se serem vítimas de ataques de gente alegando que estão elitizando o acesso à Universidade? Mas se as disciplinas atuais se manterão, temos problemas em contratação de professores e organização de espaço. Estão preocupados com salas superlotadas. Constrói-se mais escolas? Não, fazem esta maluquice de aula opcional. Cria-se escolas técnicas, de forma a garantir que os jovens já saiam com uma profissão? Não, o sonho é a Universidade e ser dotô.

Querem que os alunos se interessem, mas qualquer um que tenha lecionado algo mais que dois dias num colégio sabe da verdade: alunos não querem estar ali. O professor é um inimigo. O professor impede o aluno de ter fácil o que ele quer, o que ele PRECISA: ser aprovado. O aluno,na verdade, está se lixando se é aprovado ou não. Ele precisa ser aprovado porque o emprego de carregador de caixa exige Ensino Fundamental. Estoquista, Ensino Médio. Atendente de McDonalds? Precisa estar estudando.

A questão é que aluno também é eleitor (ou vocês não prestaram atenção na coincidência de haver eleições no ano que vem?), pais são eleitores. E queremos soluções mágicas para problemas que jamais existiriam se não tivéssemos começado a usar soluções mágicas.

Curiosamente, essas experiências nunca visaram um outro tipo de abordagem. Que tal obrigar os alunos a estudarem mais, sermos mais rígidos e não aceitarmos nada inferior ao ótimo? Ah, tá. Coitadinhos dos viradores de laje, tão massacrados…

Quando se preza pelo mínimo, nem isso se obtém. Daí reduz-se mais ainda. Sugiro que no momento do registro de nascimento, dê-se logo certificado de Ensino Médio concluído, acabe-se com os colégios e mandemos quem quer estudar para faculdades no estrangeiro. Daí, quando você tiver um corte no dedo, bem… sinto muito, mas não temos médicos nem remédios. Pelo menos, o país não ficará superpopuloso no futuro e a Previdência não terá problemas, já que ninguém conseguirá viver até a idade mínima para a aposentadoria. Que futuro lindo esse que nos aguarda!


Fonte: Estadão

14 comentários em “Alunos escolhendo currículo a ser ensinado nos colégios. O que pode dar errado?

    1. Artes va lá va lá, mas se geografia levar o cara a entender um pouco de geo-politica e como ela afeta o preço da gasolina e a educação física fizer com que ele evite ir pra fila do sus por nunca ter tido um estimulo a uma vida saudável acho que vale a pena, mesmo as chances disso acontecer sejam tristemente remotas.

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      1. Não, até foram bons os professores.

        Considero aulas de Ed. Fisíca e Artes muito lúdicas. Podem ser boas e estimulantes no ensino fundamental, mas muito dispensáveis para o ensino médio.

        Talvez Geografia realmente se salve, mas acho que o conteúdo dessa matéria muito pouco extenso para se ter no ensino médio.

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  1. Nessa horas me pergunto… como a china fez pra chegar num estado onde crianças estudam tanto a ponto de precisarem até tomar soro endovenoso e mesmo assim continuarem estudando? E o que o Brasil fez pra chegar num estado onde aumenta cada vez mais o número de jovens indo parar em pronto socorro tomar soro endovenoso devido a ressaca? E o que o Brasil fez pra chegar… ah, deixa pra lá… /I quit

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    1. Toda vez que eu lembro que “Os Coréia” a 40 anos atrás eram uma cambada de fazendeiros e hj tão ai ganhando primeiro lugar em competição de robotica do DARPA e a porra toda me dá uma depressão profunda.

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  2. Imaginando se essa ideia de jerico chega à Engenharia Civil: “Nah, não quero saber de Análise de Estruturas, nem de Estruturas de Concreto Armado, nem de Mecânica dos Solos, não vou ser Calculista!” Resultado: qualquer casinha construída num morro pode virar um Palace II.

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    1. Ja está acontecendo, se eu ganhasse 1 real por cada “Nunca vou usar essa porra(calculo) depois de me formar” eu estaria rico

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      1. A formação dos Engenheiros da UFC é basicamente acadêmica, implicando que se você não souber cálculo você não sai do lugar. Cálculo é a primeira disciplina do primeiro semestre, sendo pré-requisito para seis das sete disciplinas do terceiro semestre. Os professores se orgulham de manter o curso a um nível de formação para concursos públicos e carreira acadêmica. Não espero ver essa marmota acontecer, ao menos, não na UFC e não num futuro próximo. Ainda bem.

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  3. Isso me cheira a inclusão de ensino religioso opcional na grade de ensino.
    Mas o lado bom é que os professores das disciplinas opcionais terão alunos interessados. Pelo menos eu espero que sim.

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  4. As pessoas sempre questionam os alunos terem aulas sobre coisas que nunca vão usar. Por que um advogado precisa saber sobre a formação do solo do Centro-Oeste brasileiro? Aí tem gente que sugere que ele escolha antes, de acordo com o que vai seguir carreira. Mas, pombas! com 16, 17 anos temos que escolher uma carreira pro resto da vida e quantos se veem seguindo a faculdade errada e mudam de rumo? Imagina antecipar essa escolha pros 13, 14 anos, pra que os alunos escolham que matérias vão estudar?

    Daqui a pouco aquela pergunta inocente “o que você vai ser quando crescer” vai determinar o futuro da criança aos 4 anos.

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