Então, amiga dona-de-casa. Eu sei que você anda cabisbaixa, com o moral nos calcanhares e chorando copiosamente. Imagino a cena do seu digníssimo esposo, chegando em casa depois de um árduo dia de trabalho e propõe que vocês se enlacem nas sagradas ordens divinas, mesmo porque vocês já cresceram. Então, seu cônjuge a leva para o leito nupcial, seu ninho de amor, que entre as surdas 4 paredes testemunharão mudas a união de duas almas sedentas de amor. Então, amiga, você olha para o corpo do querido esposo e vê que algo não é como era antes, se assemelhando mais a Chevrolet Mercury, com motor possante e câmbio rígido e freios que asseguram que não se derrapasse nas curvas.
Hoje, querida amiga, você vê um Ford-T com motor batido e transmissão molenga, suspira e se preocupa em contar quantas teias de aranhas estão no teto ou se tem que limpar o lustre. Pense, querida colega, que você é uma mulher sortuda, pois se seu marido fosse um chimpanzé, você teria sérios problemas, pois o instrumento de sua felicidade (ou nem tanto) teria espinhos rígidos como sua unha, pois seriam feitos de queratina. Agradeçamos a… bem, não vamos agradecer a ninguém pois isso foi apenas um acontecimento fortuito, propagado pela mão invisível da Seleção Natural e mais não digo a respeito, pois seria piada pronta. Afinal, o que aconteceu com os espinhos?
Muitas mutações são deletéreas e mais suprimem informação do que agregam (não que não haja processos onde ocorre aumento de informação). É comum os primatas possuírem algo semelhante a espinhos nos pênises, apesar desses "espinhos" não serem como os de um ouriço-do-mar. Basicamente, o pênis de um primata como os chimpanzés possuem uma camada de queratina de forma uma espécie de rede de espinhos, o que acarreta em cópulas bem doloridas para as fêmeas; enquanto isso, nós, seres humanos, possuímos (estou falando dos machos, óbvio) membros lisos. O G1 fez o favor de simplificar mais ainda ao dizer que o pênis humano "não possui pelos".
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford na Califórnia, descobriram um mecanismo molecular que explica como o pênis humano poderia ter evoluído de forma tão distintamente dos seus companheiros chimpanzés. Houve uma perda de uma seção de DNA não-codificante, o qual influencia a expressão do gene receptor envolvido na sinalização hormonal.
Muito obrigado, André. QUE DIABOS ISSO SIGNIFICA?
Muito bem, Padawan, você sabe que o DNA possui uma série bem grandes de genes, que são formados por nucleotídeos, certo? Cada trecho é responsável por codificar uma proteína, e quando uma proteína é codificada, algo pode acontecer (ou deixar de acontecer). Um trecho não-codificante é aquele que simplesmente não codifica nada (Ohhh!). Só que apesar desses não-codificantes não codificarem a proteína (seja ela qual for), serve para controlar o trecho que codifica. Simples, não?
Não entendi porra nenhuma!
Suponha que você esteja no rally Paris-Dakar. Você é um habilíssimo piloto, sabe desviar das dunas, consegue ser mais arrojado que os competidores, passa a marcha no tempo certo e consegue ser mais rápido e ter maior destreza que os outros. Você é um ás! Só que isso não adianta nada se você não sabe para onde deve ir. Entra em cena o papel do navegador. Ele traça o curso e te diz por onde você deve passar. COMO você vai passar pelo local é problema seu, o navegador não precisa ser hábil no volante. Sem um navegador, bússola e mapa, você é mais um mané perdido no deserto e terá sorte se algum abutre não o encontrar no meio do Saara (sim, eu sei). Sem um navegador você não pode ir a lugar nenhum, ou até pode ir, onde você poderá dar de cara com um precipício e seus descendentes jamais chegarão a nascer (mas você ganhará um prêmio Darwin). O trecho não-codificante faz o papel do navegador e indica como a proteína deverá ser codificada. Sem a "orientação", nada de proteína, o gene não será expressado e não acontecerá nada.
De acordo com o dr. Gill Bejerano, professor assistente de Biologia do Desenvolvimento da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, essas “perdas” no DNA aconteceram ao longo da evolução da espécie, e sua equipe identificou 510 sequências de DNA em chimpanzés e outros animais que estão ausentes em seres humanos. Sua pesquisa foi publicada na revista Nature.
Quando o ser humano perdeu a parte que controlava a produção da proteína que cuidava do sistema hormonal, responsável por produzir a queratina no pênis, o bingulim deixou de ter aquele "envoltório" (veja ilustração ao lado) e isso influenciou numa outra coisa: relações matrimoniais.
Percebam, como eu falei, a cópula entre chimpanzés é complicada e a fêmea reclama mais que eu quando vejo a conta do supermercado. Isso acarreta em uniões pouco estáveis, ainda mais que chimpanzés agem de forma violenta e muitas vezes estupram as fêmeas de outros machos, o que acaba em porrada entre eles.
Mas a Natureza foi planejada em harmonia e é muito ética. Os defensores do Design Inteligente e os vegans não me deixam mentir.
Conforme o pênis ficou mais liso, as fêmeas começaram a criar um vínculo mais forte com os machos, pois não eram machucadas. Isso contribuiu para o aparecimento da monogamia, o que foi uma vantagem evolutiva, posto que os descendentes eram mais protegidos. A tendência à monogamia ficou, portanto, a critério da fêmea, enquanto os machos ainda tendem a espalhar sua "sementinha" por qualquer terreno fértil que apareça, deixando a fêmea tomando conta das crias em casa.
Ainda há um bocado a ser entendido neste processo e como sua relação com o comportamento levou ao que entendemos hoje como "comportamento humano", mas uma coisa é certa: estou duplamente feliz por não ser uma fêmea e muito mais por não ser uma fêmea de chimpanzé.

Ainda há um bocado a ser entendido neste processo e como sua relação com o comportamento levou ao que entendemos hoje como “comportamento humano”
Recomendo a todos a leitura do livro “O Macaco Nu” (“The Naked Ape”), de Desmond Morris. É um livro antigo, do final da década de 60, sobre o estudo da espécie humana e seu comportamento ao longo do tempo do ponto de vista da etologia. Foi o primeiro livro que me veio à cabeça quando li o artigo.
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Confesso que essa “ferramenta” é uma das poucas partes do nosso corpo que não tenho nenhuma reclamação. Além de prático é… Liso. As mulheres não tem o que reclamar. :D
PS: o fato de ter apenas um comentário talvez se deva à timidez de certos membros do sexo masculino do site. :P (apesar de ter hesitado também :oops: )
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