Ancestral humano é a chave do por que etnias diferentes dormem diferentemente

A forma como as pessoas dormem difere muito de uma para outra, mas ainda assim guardam similaridades. Entretanto, pesquisas já demonstraram que há diferenças entre a forma como pessoas de diversas etnias dormem, o que gerou um relatório da National Sleep Foundation, dos EUA. Mas como se dá isso? Por que essa diferença? A chave pode estar há muito, muito tempo atrás, escondido no DNA de nossos antepassados.

A drª Martica Hall é professora adjunta de Psiquiatria (além de outras coisas que fiquei com preguiça de escrever, mas a preguiça acaba sendo mais trabalhosa, haja vista essa enorme sentença dentro deste parênteses), da Universidade de Pittsburgh, enquanto pesquisa para o Instituto de Medicina do Sono dessa mesma instituição.

Ela lidera um estudo que constatou que a ancestralidade genética dos seres humanos explica parcialmente a diferença de sono de algumas etnias, procurando mostrar que as diferenças raciais no sono de ondas lentas podem ter uma base genética independente e significativa.

Mas o que diabos é um sono de ondas lentas?

As fases REM e não-REM são as principais fases do sono. Elas se alternam em ciclos, em média de 4 a 6 por noite e cada ciclo dura em torno de 90 a 120 minutos. REM é o acrônimo em inglês de Movimento Rápido dos Olhos, porque, bem, os olhos se movimentam rapidamente. É o sono profundo. Já o sono não-REM possui quatro estágios, cada um sendo progressivamente mais profundo. Sendo as ondas lentas as fases 3 e 4. As ondas alfa da fase não-REM na fase 1 tem frequência de cerca de 7-10 Hz, a fase 2 tem frequência de 3-5Hz e nas 3 e 4, 1 ou 2 Hz.

A onda habitual quando se está alerta tem velocidade 10 vezes maior, essa é a onda beta (igual ou maior que 14 Hz) . As ondas lentas são as menores que 4 Hz, as delta e indicam sono profundo.

Esses "Hz" são indicações de frequências; trata-se de um somatório de impulsos que o eletroencefalograma é capaz de detectar. Esse somatório no caso do EEG é de milhões e no receptor da ICM (Interface Cérebro-Máquina) em escala de centenas. Os aparelhos de ICM são os que o Miguel Nicolelis usa na macacada, captando os mesmos impulsos, mas numa escala microscópica. Enquanto isso, o eletroencefalograma só consegue detectar a atividade do córtex cerebral. Se você quiser atividade elétrica de outras regiões, são exames e parâmetros diferentes.

(Agradecimentos ao Brain pela graça e informações alcançadas!)

A fase não-REM ocorre logo na primeira metade da noite, enquanto que o sono REM, obviamente, tem seu lugar na segunda metade da noite. Isso pode parecer informação sem a menor importância, mas a redução de latência do sono REM é considerado um marcador biológico de depressão. O primeiro estágio do sono non-REM é o estágio de sonolência, que dura apenas alguns minutos. O estágio 2 já é considerado um sono estável, enquanto os estágios 3 e 4 correspondem ao sono profundo, também chamado de sono delta, porque há predominância no EEG de ondas delta com alta voltagem. O sono REM, caracterizado pela já menciona movimentação ocular rápida, tem grande variabilidade na frequência cardíaca, respiração e pressão arterial e é nesse sono que ocorre a maioria dos sonhos, os quais você não se lembra na maioria, mas é fato que você sonha. Todo mundo sonha, apesar das pessoas mais perigosas serem as que sonham de olhos abertos, se é que posso parafrasear T. E. Lawrence.

No estudo da drª Hall, que não tem nenhum Oates em seu quadro de colaboradores, fica-se demonstrado uma clara base genética entre as diferenças raciais subjacentes no sono de ondas lentas, sugerindo que pode ser possível desenvolver terapias relacionadas com o sono que têm como alvo as variantes genéticas específicas.

Mas hein?

Estudando diferentes etnias e seus sonos, Hall pretende abrir uma porta para o estudo de tratamentos personalizados. Longe de ser racismo, como algum retardado poderá inferir, teremos uma especialização no tratamento.

Mas e no caso de um país como o Brasil, altamente miscigenado?

Aí ferrou a bagaça! Entretanto, análises poderão indicar qual a nossa tendência em termos genéticos de ter esse ou aquele problema.

Com base num painel com 1698 marcadores genéticos, a pesquisa da drª Hall concluiu que uma maior ascendência genética Africano foi associada com menor quantidade de sono de ondas lentas em adultos afro-americanos. A taxa de variância no sono de ondas lentas de ascendência africana foi corrigida para 11%, embora uma associação similar foi observado para ondas delta.

De acordo com Martica, esses dados são os primeiros a mostrar que as diferenças raciais no sono de ondas lentas podem ter uma base genética independente e significativa. Apesar de todos os seres humanos terem o mesmo conjunto de genes, variações dentro dos genes, por vezes, seguem padrões específicos de população. E ao identificar as variantes genéticas específicas que influenciam o sono de ondas lentas, especialistas poderão desenvolver abordagens no tratamento específico da população e terapias para dormir.

A pesquisa foi publicada no periódico SLEEP.

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