
Imagine procurar por uma única pessoa específica em todas as praias do mundo, sem saber em qual continente ela está, se é que está em algum lugar. Agora imagine que essa pessoa seja invisível na maior parte do tempo. Bem-vindos ao universo da azoospermia, onde a natureza decide brincar de esconde-esconde com espermatozoides, e onde um casal acabou de quebrar o recorde mundial de persistência reprodutiva: 18 anos tentando engravidar. Dezoito. Anos. Para colocar isso em perspectiva, quando eles começaram a tentar, o iPod ainda era novidade e Mark Zuckerberg ainda era apenas um universitário desajeitado em Harvard.
Mas esta não é uma história sobre desistência. É sobre como a inteligência artificial acabou de se tornar a melhor parteira do século XXI, transformando o que parecia uma missão impossível em uma gravidez real, com bebê previsto para dezembro. E não, não estamos falando de ficção científica; estamos falando de uma revolução silenciosa que está acontecendo bem debaixo dos nossos narizes, ou melhor, bem debaixo dos microscópios.
A jornada deste casal anônimo – que, convenhamos, tem todas as razões do mundo para manter o anonimato depois de quase duas décadas de “então, para quando os netos?” – começou como tantas outras tentativas de fertilização in vitro. O processo, para quem não conhece, é o equivalente médico de um reality show de sobrevivência: você remove um óvulo, apresenta-o ao espermatozoide em um ambiente controlado (o laboratório), torce para que se entendam, e depois implanta o resultado desse primeiro encontro no útero, esperando que a química funcione.
Mas havia um problema. Na verdade, havia um problema épico, daqueles que fariam Shakespeare repensar suas tragédias. O marido sofria de azoospermia, uma condição que soa como nome de princesa de conto de fadas, mas que na realidade é o pesadelo de qualquer casal tentando ter filhos. Para entender a dimensão do drama, considere que um homem comum produz entre 200 a 300 milhões de espermatozoides por ejaculação. Trezentos milhões! É como se cada tentativa fosse uma invasão da Normandia em escala microscópica. Homens com azoospermia, por outro lado, produzem exatamente zero espermatozoides detectáveis. Zero. É como organizar a invasão da Normandia e descobrir que todos os soldados decidiram não aparecer.
Durante anos, técnicos altamente qualificados vasculharam amostras de sêmen com a dedicação de arqueólogos procurando por fósseis raros. Horas e horas de trabalho meticuloso, olhos grudados em microscópios, procurando por aquela célula solitária que poderia fazer toda a diferença. Encontraram detritos celulares, fragmentos de material biológico, tudo menos o que realmente importava. Era como vasculhar um cemitério de carros procurando por um Ferrari em perfeito estado de funcionamento.
Foi então que o casal chegou ao Columbia University Fertility Center, onde o dr. Zev Williams e sua equipe tinham passado cinco anos desenvolvendo algo que parecia saído de um filme de super-herói: o sistema STAR, ou Sperm Tracking and Recovery. Se isso não soa como algo que o Silas Stone inventaria, então nada mais serve. O conceito é ao mesmo tempo simples e revolucionário: usar inteligência artificial para fazer o que olhos humanos, por mais treinados que sejam, simplesmente não conseguem fazer: encontrar espermatozoides onde aparentemente não existem.
O sistema STAR funciona como um detetive digital obcecado. Quando uma amostra de sêmen é colocada em um chip especialmente projetado sob um microscópio, o sistema se conecta através de uma câmera de alta velocidade e tecnologia de imagem de alta potência. Em menos de uma hora, ele escaneia a amostra, capturando mais de 8 milhões de imagens.
E funcionou! Onde dois dias de busca humana intensiva não encontraram absolutamente nada, o sistema STAR identificou três espermatozoides em questão de minutos. Três pequenos nadadores solitários, provavelmente tão perdidos quanto Nemo, mas funcionais o suficiente para fazer seu trabalho. Esses três heróis microscópicos foram usados para fertilizar os óvulos da esposa via fertilização in vitro, e ela se tornou a primeira gravidez bem-sucedida possibilitada pelo método STAR.
A descoberta impressionou até mesmo os pesquisadores. O Dr. Williams conta que, em um caso particular, técnicos altamente qualificados procuraram por dois dias em uma amostra sem encontrar um único espermatozoide. Quando a amostra foi submetida ao sistema STAR, em uma hora foram encontrados 44 espermatozoides.
O sistema não apenas encontra os espermatozoides; ele os isola instantaneamente em minúsculas gotículas de meio de cultura, permitindo que embriologistas recuperem células que talvez nunca conseguissem encontrar ou identificar com seus próprios olhos. O método STAR representa, portanto, uma nova alternativa; e embora o método esteja atualmente disponível apenas no Columbia University Fertility Center, Williams e seus colegas querem publicar seu trabalho e compartilhá-lo com outros centros de fertilidade. Usar o método STAR para encontrar, isolar e congelar espermatozoides para um paciente custaria pouco menos de US$ 3.000 no total.
No final das contas, talvez a lição mais importante desta história não seja sobre tecnologia, mas sobre a recusa humana em aceitar “impossível” como resposta final. Claro, algum sociólogo estará esbravejando contra, alegando eugenia e como a IA precisa ser regulada e coisa e tal. A única resposta é: “mas Sociologia trabalha em que, mesmo?”
Fonte: Time

Um comentário em “Quando a IA buscou, localizou e encontrou espermatozoides escondidos”