Físicos finalmente fazem algo de útil e criam um violino em nanoescala

Você já deve ter ouvido a expressão “toca o menor violino do mundo pra isso”, geralmente acompanhada daquele gesto debochado com os dedos como se alguém estivesse tocando um instrumento microscópico em resposta a uma reclamação dramática demais. Pois bem. A ciência britânica levou isso ao pé da letra, e ao nível nanométrico. Literalmente.

Enquanto químicos (com eles a oração e a paz) salvam o mundo que eles ajudaram a construir (e outros fizeram umas cagadas), um grupo de físicos, que quando não estão fazendo contras criam umas coisas esquisitas, construiu o que eles acreditam ser o menor violino do mundo. Deve servir para algo, como oferecer para os chorões de rede social.

Feito de platina e medindo meros 35 mícrons de comprimento e 13 de largura (para comparação, um fio de cabelo humano tem de 17 a 180 mícrons), o instrumento é tão pequeno que faz um ácaro parecer King Kong. Nem os tardígrados, aquelas criaturinhas resistentes e microscópicas, cabem confortavelmente nesse palco. Isso, claro, se o violino fosse de fato tocável, o que não é o caso. Mas ninguém disse que a piada precisava ter som.

O projeto, no entanto, está longe de ser só uma trollagem científica de laboratório entediadoCitation Needed. Ele foi criado como teste de precisão para o novo sistema de nanolitografia da universidade, um conjunto de tecnologias que permite literalmente esculpir átomos e construir estruturas invisíveis ao olho nu, mas indispensáveis para a próxima geração de dispositivos eletrônicos.

Segundo a drª Kelly Morrison, chefe do Departamento de Física Experimental (o mais próximo de um químico – com eles a oração e a paz – que um físico pode chegar), apesar da brincadeira com o violino minúsculo, o projeto “lançou as bases para pesquisas mais sérias”. Como quem diz: “a gente começou rindo, mas terminamos inventando o futuro”. E eu tenho certeza de que algum desocupado pensou “sabe o que seria legal? Um violinininho!” Então alguém coçou o queixo dizendo “Hummmmmm”.

Mas por que, entre tantos objetos possíveis, escolheram justamente um violino? Além da referência pop universal, o gesto é facilmente reconhecível e sarcástico. A frase ganhou fama nos anos 70 com o seriado M*A*S*H* (pergunte ao seu avô), reapareceu em Bob Esponja (pergunte ao seu pai) e virou meme eterno. Transformar isso em um artefato real, ainda que do tamanho de um grão de poeira, foi um jeito espirituoso de mostrar a precisão do novo equipamento.

O processo é tão meticuloso quanto você imagina. Com o auxílio do NanoFrazor, uma máquina suíça que parece saída de um filme de ficção científica, os pesquisadores cobriram um chip com duas camadas de um material gelatinoso chamado “resist”. A ponta aquecida da máquina literalmente queimou o formato do violino no chip. Depois disso, o desenho foi revelado, preenchido com platina e finalmente limpo com acetona, deixando o instrumento microscópico pronto, invisível a olho nu, mas belíssimo sob o microscópio eletrônico.

O sistema é mantido em uma espécie de caixa de luvas com câmaras interligadas, para impedir que partículas de poeira ou até uma gota de umidade arruíne a operação. O processo todo leva cerca de três horas. A versão final, no entanto, levou meses, com testes, falhas e refinamentos, ou seja, como todo bom experimento científico: suor, paciência e um pouco de platina.

Agora, com o sistema testado e aprovado pelo violino mais minúsculo da história, dois grandes projetos de pesquisa já estão em andamento.

O primeiro é liderado pela dra. Naëmi Leo, que busca maneiras de usar calor como ferramenta de armazenamento e processamento de dados. Isso mesmo: transformar aquele inimigo da informática, o calor gerado pelos dispositivos, em aliado. Ao manipular gradientes de temperatura em nanoescala, ela espera melhorar a eficiência dos dispositivos, criando computadores mais rápidos, compactos e menos gastões. Pense em um notebook que não parece uma chapa quente depois de 15 minutos de uso.

O segundo projeto, conduzido pelo dr. Fasil Dejene, busca novos materiais para armazenamento magnético de dados, inspirando-se em materiais quânticos. Em vez dos discos rígidos tradicionais, a ideia é usar materiais que respondam melhor aos campos magnéticos em escala nano, garantindo maior estabilidade e densidade de armazenamento. É o tipo de pesquisa que pode revolucionar tanto o backup do seu computador quanto a inteligência artificial.

Ambos os projetos dependem do mesmo sistema de nanolitografia que esculpiu o violino, o que nos leva à constatação inevitável: às vezes, uma piada bem-feita pode abrir caminho para a ciência de amanhã.

E não, esse violino não emite som. Mas, se emitisse, estaria tocando para os pessimistas que duvidam que humor, curiosidade e pesquisa de ponta possam andar juntos, mesmo que espremidos entre duas camadas de platina e alguns átomos de sarcasmo britânico.

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