A descoberta do fogo em meio ao gelo

Olhando a vastidão gelada e desolada da minha janela no Rio de Janeiro, com temperaturas glaciais de 21ºC, eu fico imaginando viver em um mundo coberto por gelo, no qual o fogo não era apenas uma ferramenta de sobrevivência, mas também um símbolo de engenhosidade e progresso. Durante a Idade do Gelo, entre 45.000 e 10.000 anos atrás, nossos tatatatatatatataravós enfrentaram desafios extremos para dominar o uso do fogo. Mas como foi o domínio do fogo em condições tão adversas.

É o que uma pesquisa propõe responder por meio de uns cantinhos queimados há muito, muito tempo!

William Chase Murphree é doutorando e pesquisador associado ao ICArEHB (Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano) na Universidade do Algarve. Com formação em antropologia e arqueologia, ele dedicou sua carreira ao estudo do uso do fogo por Neandertais e Homo sapiens durante o Pleistoceno.

Em seu trabalho, (Bóra) Bill analisou três locais que foram antigas fogueiras pré-históricas em um sítio na Ucrânia. Surpreendentemente, há poucas evidências bem preservadas do uso do fogo no período mais frio da Era Glacial – há cerca de 26.500 e 19.000 anos –, na Europa. Utilizando técnicas avançadas como análise microestratigráfica e micromorfologia, Murphree e o restante dos estagiários de luxo do dr Nigst – o PhDeus que ganhou mais um trabalhinho pra conta – descobriram que essas lareiras eram alimentadas principalmente por madeira, mas também possivelmente por ossos e gordura. As temperaturas alcançavam mais de 600°C!

Murphree é conhecido por sua abordagem interdisciplinar, combinando Geoarqueologia, biomoléculas e experimentos para desvendar os segredos do passado. Ele acredita que o fogo não era apenas uma ferramenta de sobrevivência, mas também um catalisador para avanços sociais e tecnológicos, e embora evidências de uso do fogo sejam abundantes antes e depois do período mais frio da Idade do Gelo, há uma lacuna intrigante durante o auge do frio.

Claro, este estudo não apenas preenche essa lacuna, mas também destaca a resiliência e criatividade de nossos antigos parentes, já que, para eles, o fogo era mais do que calor; era uma ponte para o futuro. A razão de suas próprias existências. O catalisador do que viria a ser a Aventura Humana.

A pesquisa foi publicada no periódico Geoarchaeology.

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