
Enquanto muitos de nós pensamos nas cidades como ambientes hostis para a vida selvagem, uma nova pesquisa revelou que algumas espécies nativas estão surpreendentemente se adaptando e até mesmo prosperando em áreas urbanizadas. Um estudo recente descobriu que lesmas e caracóis são particularmente tolerantes à vida na cidade, preferindo até mesmo os ambientes mais urbanizados em comparação com outras espécies.
Liderada por Joseph Curti, pesquisador do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, a pesquisa utilizou dados da plataforma iNaturalist, onde cientistas e entusiastas da natureza compartilham observações de espécies, para calcular uma pontuação de tolerância urbana para 512 espécies de animais terrestres nativos do sul da Califórnia. Divididos em grupos taxonômicos como mamíferos, répteis e anfíbios, aves, borboletas e mariposas, aranhas, abelhas e vespas, entre outros, os pesquisadores avaliaram a ocorrência de espécies tolerantes e intolerantes à urbanização em uma grade de quadrados cobrindo Los Angeles, combinando esses dados com informações sobre o nível de urbanização em diferentes células da cidade, como poluição luminosa e sonora.
Os resultados foram reveladores: em média, as espécies nativas preferiram locais menos urbanizados. Caracóis e lesmas foram a exceção – as cinco espécies de moluscos incluídas no estudo eram mais comuns em áreas mais urbanizadas. Borboletas e mariposas, por outro lado, foram o grupo menos tolerante à urbanização. Mamíferos e répteis e anfíbios também foram relativamente intolerantes a ambientes urbanos, enquanto joaninhas, aranhas e aves tiveram preferências menos acentuadas – embora ainda preferissem áreas menos urbanizadas no geral.
Mas o que torna lesmas e caracóis tão bem-sucedidos em ambientes urbanos? A resposta pode estar na natureza resiliente desses moluscos. Eles podem se beneficiar de microhabitats que surgem em ambientes urbanos, como jardins, áreas verdes e até mesmo em calçadas, onde a umidade e a presença de matéria orgânica podem ser favoráveis à sua sobrevivência. Além disso, a ausência de predadores naturais em áreas urbanas pode proporcionar um ambiente mais seguro para eles.
Esta pesquisa não apenas destaca a adaptabilidade de lesmas e caracóis, mas também oferece insights valiosos para planejadores urbanos e conservacionistas. Com a crescente urbanização, é crucial entender como as espécies nativas interagem com seus ambientes. Os dados coletados podem ajudar a identificar áreas que necessitam de iniciativas de conservação, como a proteção de espécies ameaçadas, como a borboleta azul de Palos Verdes.
A análise pode ajudar os planejadores urbanos a aumentarem a biodiversidade nas cidades. Por exemplo, as observações de borboletas poderiam ser usadas para identificar locais-alvo para iniciativas de conservação que apoiem espécies ameaçadas. O estudo também fornece dados de referência para avaliar o sucesso de iniciativas locais de biodiversidade.
Embora os dados coletados por meio de crowdsourcing tenham limitações, por exemplo porque nem todas as espécies são fáceis de detectar pelo público em geral, os autores observam que também podem fornecer uma rica base de dados para ajudar a gerenciar e promover a biodiversidade nas cidades.
À medida que as cidades continuam a crescer, entender e promover a biodiversidade se torna uma tarefa cada vez mais importante, e quem diria que as lesmas e caracóis poderiam ser os novos “habitantes da cidade”?
A pesquisa foi publicada na Plos One.

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