A “arte” de uma criança que nos ensina Historia

A criança brinca no quintal enquanto pai trabalha. A mãe na porta sorri e o pai, atarefado, olha pra criança e fala para ela sair dali. Mas era uma criança, o que mal ela poderia fazer? De fato, ela não fez mal nenhum, e continuou a brincar até que resolver saltitar pelas obras do pai, um oleiro. O pai estava fazendo blocos que serviriam de cobertura para uma laje e os deixou para secar para depois serem cozidos. Pulando por entre as peças, a criança erra o salto e pisa inadvertidamente sobre uma delas, e como o barro ainda estava mole, sua marca, sua impressão, ficou no bloco. O pai briga com a criança, a mãe corre e diz para ele se acalmar, pois, era apenas um bloco de barro e ninguém iria perceber, ninguém iria se lembrar.

Mas passados quase 2 mil anos, nós sabemos, nos lembramos.

O “Plattenziegel mit Fußsohlenabdruck”, é um artefato fascinante que nos oferece uma visão única do passado. Este objeto – que pode ser visto no site das Coleções Estaduais da Baixa Áustria datando entre os séculos 1 e 4 da EC – é um bloco de cerâmica quadrada que apresenta a impressão de um pé esquerdo de criança.

As “Plattenziegel”, eram comuns na arquitetura romana. Eram feitas de argila colocada em um molde de madeira. A parte de trás da telha – que não era como as telhas de hoje, eram mais como blocos, como as da foto – era alisada com uma ferramenta semelhante a um pente, depois a telha era removida do molde e virada. Durante esse processo, parece que uma criança pisou na telha, deixando a impressão de seu pé esquerdo.

Quem fez este boco? Não sabemos. Quem era a altura da pisada? Não sabemos. Qual o destino final do bloco? Bem, final, final mesmo foi ir parar num museu. Mas este artefato é mais do que apenas um pedaço de argila que foi pisada e depois cozida. É um portal para uma outra época e lugar, uma espécie de Stargate, um DeLorean. Ela nos mostra que as crianças estavam presentes e ativas nos locais de trabalho, talvez brincando enquanto os adultos trabalhavam.

Também nos dá uma ideia tangível do tamanho de uma criança romana, algo que raramente é preservado nos registros arqueológicos. Trata-se de um lembrete de que a História não é feita apenas de grandes eventos e figuras famosas, mas também feita de momentos cotidianos, como uma “arte” de uma criança e um trabalho comum, de um simples artesão, que não trabalhava com ouros e pedras preciosas, mas simples argila.

É tão-somente um artefato que nos conecta de maneira muito pessoal e direta com as pessoas do passado, lembrando-nos de sua humanidade e sendo gente como a gente, num momento congelado no tempo.

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