Os antigos mistérios egípcios desvendados pela Química do século XXI

Todos ficam assombrados, maravilhados e desconcertado com o Egito. Um império fascinante e misterioso. Sabemos muito do Egito, mas não tudo, e eu arrisco que ainda nem arranhamos o que eles tinham escondido consigo, e que aos poucos estamos desvendando. É como um romance de mistério, em que os verdadeiros detetives são cientistas, e os químicos (com eles a oração e a paz) aqueles que darão a versão final do que realmente aconteceu.

As paredes dos antigos túmulos egípcios têm muito nos ensinar muito sobre a vida dos reis, rainhas, nobres e até dos mais humildes. A Química não faz distinção; todos merecem e são investigados. As pinturas de túmulos mostram os falecidos e seus familiares imediatos envolvidos em atividades religiosas, o enterro em si, ou banquetes e caça nos pântanos do Nilo, ou mesmo o dia-a-dia daqueles pessoas com um quê de mistério.

A maior parte desses túmulos foram saqueados na Antiguidade, e mais tarde foram escavados por caçadores de tesouros estrangeiros e arqueólogos primitivos sem o mínimo conhecimento de como fazer as coisas sem destruir tudo. Como resultado, grande parte da decoração pintada sofreu danos, apesar de estar bem preservada pelo ambiente árido.

Chega aí a Ciência e seus apetrechos.

Antes, era um trabalho laborioso, com raspagens delicadas, cotonetes e reagentes. Hoje, contamos com as mais modernas tecnologias não-invasivas, como a técnica de fluorescência de raios-X portátil (pXRF), como este da imagem que abre o artigo. Essa técnica nos ajuda a ver o essencial que é invisível aos olhos e nos dá motivos para citar o Pequeno Príncipe, sem misturar com Maquiavel.

Embora o pXRF tenha sido usado no passado para determinar a composição química de cerâmicas e metais, um novo projeto de pesquisa internacional liderado pelo dr. Philippe Martinez, da Universidade de Sorbonne, o usou recentemente para analisar as pinturas complexas e belas encontradas nos túmulos de nobres egípcios.

A base dessa técnica é que as tintas e pigmentos usados pelos antigos egípcios eram feitos de minerais e, como tal, têm marcadores químicos específicos. O amarelo, por exemplo, foi obtido pela trituração do orpimento, um mineral de cor laranja a amarelo, cuja composição é o sulfeto de arsênio, As2S3, enquanto o pigmento azul poderia ser criado usando cloreto de cobre penta-hidratado (CuSO4.5H2O) e o vermelho com óxido de ferro III (Fe2O3). Usando o pXRF, Martinez e seu pessoal podem usar esses marcadores químicos nos pigmentos para criar um mapa de áreas danificadas.

Essa técnica ainda tem a vantagem de não só reconstruir seções danificadas, como pode destacar elementos da técnica artística, identificando partes da arte que já não estão lá e ninguém daria pela falta, mas a assinatura química está lá e o brinquedinho de raio-X faz saltar aos olhos.

A análise científica está sendo cada vez mais incorporada na maioria das facetas da pesquisa egiptológica, desde a análise de materiais de pigmentos, cerâmicas, metais e madeira, até a análise espectroscópica do papiro egípcio antigo.

Estas técnicas não só permitem investigações minimamente ou totalmente não invasivas que ajudam a preservar artefatos e a prevenir maiores danos, como também iluminam detalhes cruciais sobre as realizações tecnológicas e artísticas dos antigos egípcios e consegue fazer o que os antigos sempre sonharam: viver para sempre, talvez não da forma como pensaram, mas na eternidade do conhecimento armazenado pela pesquisa científica.

A pesquisa foi publicada no periódico Plos One

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