Eu preciso colar coisas de vez em quando. Minhas colas preferidas são superbonder, óbvio, e cola de isopor. Cola de PVA meleca tudo. Cola de bastão nem sempre cola direito. Cola de isopor é o ideal. Não, nem cola quente, aquela merda só serve para queimar os dedos e soltar a cola depois.
Colas são muito importantes. Que o diga a dona Joana Woitas, que em 1997 estava numa mesa de operações e o dr. Francisco Gregori Júnior lutava para salvar a sua vida, mas não conseguia costurar o coração, pois a cada sutura, outro buraco abria. Daí, Gregori meteu superbonder no coração da paciente. Apesar de criticado depois, ele conseguiu salvar a vida dela.
O uso de colas para fechar ferimentos é uma constante pesquisa, e está chegando mais uma opção, uma espécie de cola quente biológica, mas com material biocompatível, que seria, em tese, facilmente absorvido pelo corpo.
O dr. Boaz Mizrahi é professor da Faculdade de Biotenologia e Engenharia de Alimentos do Instituto de Tecnologia Technion de Israel. Ele parte do princípio que, sim, já existem muitos bioadesivos que já são amplamente utilizados em dermatologia, salas cirúrgicas e em campo. O problema é que, apesar das vantagens sobre suturas e grampos, as colas de tecido vivo atualmente disponíveis são limitadas por suas propriedades mecânicas e toxicidade.
Sim, elas não funcionam direito e ainda podem fazer mal. E depois reclamam da superbonder usada pelo dr Gregori!
As colas disponíveis para serem usadas em tecidos vivos, a bem da verdade, só podem ser utilizados na superfície da pele. Além disso, o endurecimento da cola pode tornar o órgão menos flexível ou a adesão pode não ser suficientemente forte. (ainda pensando aqui que superbonder é uma excelente alternativa)
Mizrahi e seus colaboradores pensaram a respeito dessas limitações, e vem tentando desenvolver uma cola que seja adequada para diferentes tecidos, não-tóxica e flexível após o endurecimento. Essa cola também precisa se decompor no corpo depois que o tecido se cicatriza. Tanto pesquisaram que conseguiram chegar em uma.
A cola desenvolvida é uma cola biocompatível, macia e que pode ser aplicada com uma pistola, que nem cola quente. Só que esta, ao invés de ter a temperatura do Inferno, está aquecida a 50ºC, ou Rio de Janeiro no verão. Esta cola pode fechar feridas e incisões de maneira rápida e fácil e que não causam efeitos colaterais tóxicos. É feita de policaprolactona, um polímero biodegradável já bastante conhecido, pois é utilizado como um eficaz preenchedor absorvível para correção de irregularidades e assimetrias, definição das linhas faciais e tratamento de rugas.
A policaprolactona modificada com N-hidroxisuccinimida é um material biocompatível que possui um baixo ponto de fusão e que permanece macio quando em estado sólido, sendo aplicado com uma pistola. Legal? Calma que fica mais interessante ainda. A combinação das substâncias é feita na hora da aplicação. Assim, o médico pode escolher a melhor formulação do que quer fechar, e das condições do paciente. Não existe uma fórmula só, e sim várias combinações a serem aplicadas mediante a necessidade durante a intervenção cirúrgica.
Mas não, ainda não tem testes em humanos. Mas experimentos in vitro e in vivo já mostraram biocompatibilidade e segurança em animais. Resta testar no mais tosco deles.
A pesquisa foi publicada no periódico Advanced Functional Materials