Se vocês me acompanham há muito tempo, devem ter lido vários artigos sobre epilepsia. Alguns tratamentos com medicamentos, outros usando optogenética. Entretanto, para os casos bem graves, a ciência não descobriu um medicamento ou tratamento realmente efetivo. Ainda estamos tateando no escuro, mas parece que agora estamos perto do interruptor; ou, pelo menos, estamos indo até ele.
Pesquisadores estão desenvolvendo uma técnica que se baseia em usar as próprias células dos pacientes para revertê-las ao estado de células-tronco para transformá-las em neurônios envolveria tirar algumas células da pele do próprio paciente e transformá-las em células-tronco embrionárias no laboratório. Estes podem então ser direcionados para se tornar um tipo de célula cerebral que diminui as convulsões.
O dr. Ashok Shetty, é professor de Neurociência e diretor adjunto do Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade A & M do Texas. Ele adora ver o que as pessoas têm na cabeça e como usam o que têm na cabeça. Entre outras coisas, Shetty gosta de saber mais sobre epilepsia e como conter quando é disparada sessão de convulsões.
A epilepsia é uma espécie de curto-cirtuito cerebral, com as sinapses entrando em parafuso. Dentro do cérebro, alguns neurônios são responsáveis pelo disparo ininterrupto de sinais químicos e elétricos. Outros neurônios agem como “pera lá, amiguinho”, inibindo essa ação, de forma que se dê de forma o mais controlada possível. No caso das convulsões, os neurônios inibitórios são como eu com aquilo eu americano chama de bola de football, e o time inteiro do New England Patriots dispara em minha direção (eu consultei no Google. Não entendo nada de NFL, nem faço questão). O ataque epilético se dá quando a onda de excitação (ui!) começa no hipocampo, antes de se espalhar em outro lugar, e seu cérebro está no meio de uma tempestade elétrica e bioquímica. Não é algo legal.
Ora, se a convulsão é quando os neurônios inibitórios não são fortes suficientes para inibir (ficou horrível, mas vai assim mesmo), a ideia de Shetty foi algo na linha “e se além do André tivermos o Gandalf gritando ‘YOU SHALL NOT PASS!’?”
(Só no Ceticismo.net se mistura jogo de futebol americano com magos do Tolkien para explicar o que acontece no cérebro.)
Shetty mandou averiguar, claro. Botou os estagiários para trabalhar e eles injetaram 38 ratos com uma substância química que desencadeia uma longa convulsão. O dano cerebral resultante faz com que os animais tenham convulsões espontâneas, começando pelo hipocampo, nos próximos meses. Uma semana depois, a equipe implantou células cerebrais inibitórias no hipocampo de cerca de metade dos ratos. Cinco meses depois, as células implantadas tiveram 70% menos convulsões do que aquelas sem implantes.
Mas calma. Tem que saber se as queridinhas estão funcionando a contento, né? O lance foi injetar mais substância que dispare os sinais químicos e elétricos, de forma que aconteça uma daquelas convulsões atômicas. Sendo assim, cinco das cobaias receberam células que foram geneticamente modificadas para parar de disparar quando o animal receber o remedião do mal. Quando sob a influência da droga, esses ratos tinham aproximadamente o mesmo número de convulsões que os ratos que não tiveram células implantadas. As dissecções também mostraram que as células implantadas sobreviveram no hipocampo.
O tratamento pode ser adequado para pessoas cujas crises se originam em uma pequena parte do hipocampo, e cuja única outra opção é a cirurgia para remover essa parte. Eles poderiam tentar um implante de célula, e se algo desse errado, eles poderiam ter todo o enxerto removido junto com o tecido cerebral epiléptico. E se as células terapêuticas fossem feitas a partir da própria pele do paciente, elas não precisariam de medicamentos para parar a rejeição.
Péra. Como?
Simples. Você sabe que quando você recebe um órgão, seu sistema imunológico vai achar que é algo de fora de você, e estará completamente certo. Também achará que aquilo é um imenso ser das Trevas, pronto para detonar geral, o que está completamente errado, só que seu sistema imunológico é que nem o meu cunhado: não pensa. Só age.
O estudo não é uma prova de que essa abordagem funcionará. Um dos argumentos contrários seria que os Jerrys receberam implantes logo após o dano cerebral, e não está claro se a técnica ajudaria as pessoas com convulsões decorrentes de um traumatismo craniano no passado, que é uma causa comum de epilepsia. Pelo menos, é uma promessa de tratamento, o que fará com que outros pesquisadores verifiquem e comprovem, ou não, se é viável.
A pesquisa foi publicada na PNAS.